1.
LIBERTAÇÃO DE ASIA BIBI
Uma esperança entre as perseguições religiosas
Num mundo onde a liberdade religiosa continua a deteriorar-se (como demonstra o último relatório da Fundação AIS), e em que os cristãos se contam entre os mais perseguidos, a libertação de Asia Bibi é um sinal de esperança. De uma ténue esperança. A mulher cristã paquistanesa que foi condenada à morte por blasfémia em 2009, saiu da prisão no início de novembro, quase dez anos depois de ter sido presa, e por ordem do Supremo Tribunal do Paquistão. Uma libertação que foi exigida através de várias campanhas internacionais e por figuras públicas que saíram em sua defesa, entre as quais o Papa Francisco, algumas pagando com a própria vida esta exigência, como foi o caso do ministro paquistanês das minorias,o católico Shanbaz Bhatti, ou o governador Salmaan Taseer, muçulmano crítico da lei da blasfémia.
Asia Bibi trabalhava no campo com outras mulheres quando bebeu água de um poço, tendo sido acusada pelas restantes mulheres, muçulmanas, de ter contaminado o poço por ter bebido dele. Acusada de ter insultado Maomé, acabou por ser presa e condenada à morte por enforcamento em 2010.
Com 47 anos e mãe de cinco filhos, Asia Bibi foi obrigada a sair do país, pois a sua libertação suscitou uma onda de protesto no Paquistão, ao mesmo tempo que a sua absolvição era aplaudida por organizações de defesa dos direitos humanos, um pouco por todo o mundo.
2.
CHUMBO DA EUTANÁSIA
Rejeição de despenalização da eutanásia e o caminho a percorrer
Não somos sozinhos, não morremos sozinhos. Foi este o mote do editorial que assumimos este ano na altura do debate e da votação dos projetos de lei de despenalização da eutanásia em Portugal. Por isso, o chumbo destas intenções apresentadas pelos partidos da esquerda parlamentar foi um motivo de alegria e esperança para quem acredita que a vida tem de ser defendida em todas as situações.
Ainda que o desejo de muitos dos que defendem a eutanásia seja aliviar o sofrimento, importa lembrar que o caminho que mais previne o sofrimento é o que evita o isolamento. Numa sociedade cada vez mais envelhecida, o nosso empenho tem de estar em criar condições para quem envelhece, em ajudar quem sofre lesões irreversíveis ou adoece gravemente a sentir-se acompanhado e protegido.
Contudo, apesar da luz que adveio deste chumbo, o compromisso por parte de alguns partidos de trazer de novo o assunto ao Parlamento, e a falta de esclarecimento que ainda existe em parte da sociedade, indicam que é preciso continuar a mostrar que a eutanásia não é o caminho.
3.
RESGATE DE 12 CRIANÇAS NUMA GRUTA DA TAILÂNDIA
A luz ao fundo do túnel
Salvos pela resiliência. A frase dá título ao artigo de Pedro Cid que no Ponto SJ apontou algumas explicações para o resgate com sucesso de 12 crianças e um adulto, ao fim de 17 dias presos numa gruta na Tailândia. Um salvamento que prendeu milhões de pessoas à televisão e à internet, um pouco por todo o mundo, e cujo final feliz só foi possível graças à resiliência dos tailandeses, à “força para lutar quando tudo parece perdido, ironia suprema de um povo de estatura baixa e que enfrenta a vida com um sorriso e uma vénia“, como escrevia Pedro Cid.
No artigo referido, o jornalista sublinhava ainda outras características deste povo que conhece tão bem e que terão sido cruciais para a sobrevivência do grupo durante tanto tempo em condições tão adversas: o respeito pelos mais velhos, a humildade, o interesse desinteressado pelo próximo, a solidariedade. Questionava ainda qual teria sido o desenlace se semelhante acidente acontecesse com um grupo de crianças europeias, com menor capacidade para enfrentar as adversidades.
A história apaixonou-nos e o número de partilhas e leituras deste artigo demonstra que não fomos os únicos a sentir o coração transbordar de alegria quando vimos aquelas crianças sãs e salvas a abandonar a gruta e, mais tarde, a agradecer ao mundo o apoio recebido. Sinais de luz e de esperança num tempo onde abundam as más notícias e escasseiam as histórias com final feliz.
Documentário sobre o resgate legendado em português. (duração: 53 minutos)
4.
ANDRIA ZAFIRAKOU – MELHOR PROFESSORA DO MUNDO 2018
A paixão de se dedicar aos outros e de colocar os alunos no centro da educação
Professora há 12 anos, Andria Zafirakou dá aulas numa zona socialmente periférica do Oeste de Londres. Atingida por profundas carências económicas e pela violência, trata-se ainda de uma área da capital inglesa em que se pode encontrar uma grande diversidade étnica e cultural. Ali se falam mais de 130 línguas. A escola em que Andria ensina a disciplina de Artes e Têxteis, a Alperton Community Secondary School, é evidentemente afetada por este contexto tenso e diverso. Na escola falam-se 40 línguas diferentes.
Nada disto tira entusiasmo a esta professora que, em entrevista ao Observador, nos ajuda a compreender melhor as exigências da sua missão: “O que considero mais significativo de assinalar é que, na minha escola, não existe um determinado padrão de aluno que se possa dizer que é o ‘normal’ – cada aluno é diferente à sua maneira e, numa mesma sala de aula, podem existir cerca de 20 nacionalidades diferentes. É uma espécie de Nações Unidas.”
Quem conhece a sua ação apresentou a sua candidatura ao Global Teacher Prize 2018, galardão que acabaria por ganhar. A professora londrina não se reconhece como a melhor professora do mundo, nem acha possível encontrar tal pessoa. Mas confessa a paixão com que vive a sua vocação de dedicação aos outros e agradece a oportunidade que este prémio lhe trouxe de conhecer outros exemplos inspiradores em todo o mundo.
O perfil desta professora traz luz à exigente missão de educar e mostra-nos que, por maiores que sejam as adversidades, é possível desenvolver bons projetos educativos e estar centrado em quem é mais importante numa escola: os alunos.
Vídeo em inglês que dá a conhecer Andria Zafirakou.
5.
LISBOA: UM OÁSIS DA TOLERÂNCIA RELIGIOSA
Estudo sobre identidades religiosas na Área Metropolitana de Lisboa
“O debate em Portugal parece estar sempre mais apoiado em opiniões subjetivas e perceções individuais do que em dados sólidos e investigações cuidadosas.” Assim justifica a Fundação Francisco Manuel do Santos a necessidade da sua atividade. O estudo “Identidades religiosas na Área Metropolitana de Lisboa”, cujo resumo foi apresentando no 5 de dezembro, obriga-nos a ir ao encontro da realidade tal como ela é. Mais importante do que um juízo valorativo sobre os dados que este estudo nos traz é tomá-lo como um convite a acolher e a situar-se diante de uma realidade em transformação. Os dados que constam do estudo ajudam-nos a ter uma visão mais lúcida sobre do modo como a dimensão religiosa do ser humano é vivida na zona geográfica do nosso país em que a diversidade étnica e cultural é mais acentuada.
A introdução a este estudo justifica a razão de este se ter centrado na área metropolitana de Lisboa: “De acordo com o Inquérito Identidades religiosas em Portugal, de 2011 (CERC-CESOP), coordenado por Alfredo Teixeira, o pluralismo religioso, no território português, está muito concentrado na Área Metropolitana de Lisboa.“ Entre os inquiridos, 64 % assume professar uma religião, enquanto 35% diz não ter religião; 55% são católicos; 9% pertence a uma religião não católica; 22% diz-se não crente e 13% reconhece-se como crente, mas sem religião. Comparativamente a 2011, diminuem os católicos e aumentam os que se consideram crentes sem pertencerem a nenhuma religião. Uma análise global dos dados deste estudo mostra que há uma crescente tendência para que, inclusivamente entre católicos, a fé seja vivida com maior autonomia face às autoridades religiosas.
Na sua ambivalência os diferentes dados podem ser lidos ora com mais positivos, ora como mais negativos. Mas, independentemente da análise que quem se debruce sobre estudo possa fazer, o conhecimento que ele nos oferece permite-nos olhar para a realidade partindo de dados concretos e evitando representações idealizadas. É por isso um estudo que ilumina e clarifica.
Programa Fronteiras XXI da RTP 3 sobre estudo.
Programa Da capa à contracapa da Rádio Renascença sobre estudo.
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* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.