Margarida Patrocínio, voluntária nas JMJ 2019 Panamá

Testemunho deixado por Margarida Patrocínio, voluntária portuguesa nas Jornadas Mundial da Juventude e membro do grupo Com Graça, da CVX-Sul.

«Não tenham medo de amar» A frase é do Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), que aconteceram em janeiro, no Panamá; o eco é-nos deixado por Margarida Patrocínio, voluntária portuguesa nas JMJ e membro do grupo Com Graça, da CVX-sul, que abraçou o Papa e lhe disse: «É esta a terra que o espera de braços abertos»

 

Foi a convite do bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal Laicado e Família que Margarida Patrocínio rumou à Cidade do Panamá. “Eram necessários alguns voluntários em determinadas áreas, nomeadamente, em comunicação. E lembraram-se de mim”, dá conta à CVX-Sul a voluntária portuguesa formada na área, assistente de comunicação na Associação Salvador e colaboradora do Departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa.

Poder experimentar um encontro mundial de jovens com o Papa Francisco e fazê-lo noutro continente, “servindo e participando na atividade”, partilhando uma vivência de fé foram motivos que conduziram Margarida a aceitar o desafio de D. Joaquim Mendes, mas outro motivo falou mais alto: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra» foi o tema das jornadas do Panamá, excerto bíblico que Margarida Patrocínio vinha rezando desde o início do ano 2018. “Era uma frase que me ficava no coração quando rezava o Ângelus e andei a rezar muito esta passagem durante o ano. Agora, perante este pedido para ir para o Panamá, mais concreto ficou o meu sim «Faça-se em mim segundo a Tua palavra» ”, explica. Ao seu grupo «Com Graça» pediu orações antes da partida e por todos rezou quando aterrou na capital panamenha; os primeiros jovens começavam a chegar duas semanas depois.

Margarida Patrocínio rumou à Cidade do Panamá para, no Comité de Organização Local, trabalhar no departamento de comunicação. A sua função era a “criação e publicação” de conteúdos em português nas páginas oficiais das Jornadas Mundiais da Juventude no Facebook e Twitter. A sua missão era fazer com que os jovens que não puderam ir ao Panamá “participassem” de igual forma e “escutassem a mensagem do Papa Francisco”.

“Dar a conhecer e informar todos os peregrinos que iriam participar nas jornadas, bem como todos aqueles que não puderam estar fisicamente, viverem esta experiência como se tivessem viajado para o Panamá” foi parte da missão, mas Margarida assume que a sua realização, no trabalho que desempenhou, aconteceu também por via das pessoas e dos momentos partilhados. A generosidade humana ultrapassa geografias e emocionou a voluntária portuguesa, ajudando-a a «encontrar Deus em todas as coisas».

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Margarida Patrocínio, na JMJ

“No primeiro domingo, os seis portugueses quiseram aproveitar um pouco da piscina de uma das casas onde estávamos alojados e perdemos a noção das horas: faltava menos de uma hora para a missa e tivemos de nos despachar. Para não empatar outros, disse para seguirem sem mim. Assim que estou despachada para sair de casa, encontro duas raparigas que viviam na minha casa e sabiam o caminho para a igreja. Não estava sozinha. Começamos caminho, sempre a passo rápido. Tínhamos acabado de virar esquina da nossa rua e buzinam de um carro que nos seguia. Era a vizinha que nos viu tão aflitas que foi buscar o seu carro e quis levar-nos até à igreja”, relembra.

O dia do seu aniversário, passado no Panamá, onde completou 30 anos, foi outra ocasião para «encontrar Deus» nas pessoas. “A minha colega de quarto, norte-americana, estava muito descontente com a organização e tinha tido más experiências na casa anterior com colegas de quarto. A minha chegada e a forma como a fui tratando, acabou por sossega-la e trazer-lhe alguma tranquilidade”, recorda. Quatro dias depois da sua chegada, Margarida celebrou o seu aniversário: “A Jamie foi muito generosa e surpreendeu-me com uma jarra de flores que deixou na minha mesa-de-cabeceira. E no dia seguinte também me ofereceu um saco dos melhores chocolates que comi no Panamá”.

Assumindo-os como “detalhes, que podem parecer sem significado”, Margarida indica-os como “demonstrações de empatia e generosidade”.Mas em muitas outras ocasiões, afirma, “era incrível sentir e experimentar a presença de Deus, agradecendo todas estas graças”, assinala a voluntária portuguesa.

No Panamá Margarida encontrou uma Igreja “tipicamente latina”: alegre, carismática, acolhedora e aberta”. “Entre panamenhos a maior característica ou diferença que distingo é a devoção declarada. As intenções de oração muito profundas e as demonstrações de fé são autênticas e sem vergonha ou acanhamento. Nestes países canta-se com muita alegria e entusiasmo, acompanham-se os cânticos com palmas e, por vezes, danças”.

 

Como participante na Igreja, Margarida assume a necessidade de um “abanão”. “A Igreja em Portugal, na minha opinião, precisa de um «abanão» e uma «corrente de ar fresco» para limpar tradições e modos de estar, e por outro lado, encher os corações de esperança e de uma verdadeira alegria em Cristo”. Desprender as práticas cristãs de “julgamentos e obstinações”, levando todos a “experienciar Cristo de uma forma leve e sonhadora” é o caminho que Margarida gostaria de ver encetado e acredita ser agora a “oportunidade” de o fazer, aproveitando também a organização das JMJ, em 2022.

Jamais, quando aterrou na Cidade do Panamá, no dia 4 de janeiro, como voluntária das JMJ, Margarida Patrocínio pensou que terminaria esta aventura a abraçar o Papa Francisco. Mas aconteceu e ali encontrou uma pessoa “carinhosa, muito afável e que olha nos olhos”. “É um Papa que parece conhecer-nos há muito tempo pela empatia com que nos recebe”, diz em entrevista à CVX.

Daqueles minutos com Francisco, Margarida guarda: “Foi um momento único e magnífico. Sabia que era de uma enorme responsabilidade ter este papel e só pensava em não me poder enganar ou trocar durante o discurso. Estava muito emocionada por toda a situação e queria muito falar devagar para que o Papa Francisco entendesse o meu português. Estava ansiosa por terminar o discurso e poder tocar-lhe. Assim que o cumprimentei, muito nervosa pedi-lhe um abraço e ele é de uma enorme generosidade e simplicidade, abraçou-me”.

Do Papa ecoam ainda apelos e palavras a colocar em prática: na cerimónia de acolhimento, por exemplo, Margarida escutou de Francisco: «Temos muitas diferenças, idiomas diferentes, usamos roupas diferente, mas, por favor roguemos para ter um sonho comum»; da vigília ficou a reflexão: «Dizer “sim” ao Senhor é ter a coragem de abraçar a vida como vem, com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias.»; «Não tenhais medo de amar»; «Não tenhais medo de Lhe dizer que vós também quereis fazer parte da sua história de amor no mundo, que sois para um “mais”!»

Finda a experiência latino-americana, e em Portugal, a retomar a sua vida pessoal e profissional, Margarida quer viver “integralmente”.No Panamá reconheceu desafios para a forma como vive a sua vida, como “pessoa, profissional, filha, irmã, tia, amiga”.

“Quero vivê-la um pouco ao modo das irmãs de Lázaro: um pouco Marta, que está para servir e ao serviço dos outros e, na maior parte das vezes, viver como Maria, que escolhe a melhor parte e escuta o Senhor e enamora-se da sua Palavra, não tendo medos nem receios sobre o que o Senhor lhe diz”.

 

Lígia Silveira