Memória agradecida da visita do P. Geral Arturo Sosa a Braga

À semelhança do movimento interior que nos propõe o Advento, de deixarmos crescer progressivamente a alegria e a luz à medida que nos aproximamos da chegada d’Aquele que “vem salvar-nos”, os jesuítas em formação sentiram-se impelidos a preparar a visita do Superior Geral.

Naquela que foi uma visita à Província Portuguesa da Companhia de Jesus verdadeiramente preenchida, entre os dias 3 a 8 de dezembro, o P. Geral Arturo Sosa dedicou a Braga menos de 24 horas, o que não impediu que a sua passagem deixasse marca junto dos jesuítas e da Comunidade Inaciana.

O 30.º sucessor de Santo Inácio, e único não europeu a desempenhar o cargo, começou a visita pela Comunidade Pedro Arrupe, onde se reuniu com os jesuítas em formação e formadores residentes em Portugal, para a celebração da Missa e para um serão de conversa. Na manhã seguinte, depois de visitas relâmpago à Comunidade da Casa da Torre, em Soutelo, e ao CAB, foi recebido na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica, para uma conferência. Depois do almoço na Comunidade da Faculdade, que partilhou com jesuítas e colaboradores na missão em Braga, partiu nessa mesma tarde para o Porto para continuar o seu recorrido por Portugal.  Nesta peça, focaremos a nossa atenção nas palavras dirigidas pelo Padre Geral aos jesuítas em formação e à comunidade académica reunida na Faculdade.

Escolásticos e formadores com o P. Geral Arturo Sosa e com o P. Assistente Cipriano Díaz

Foi a partir do adventício versículo do livro de Isaías “alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida” que o Padre Geral refletiu na homilia da Celebração, fazendo-nos ver que “o deserto e o descampado são também terras sedentas” e que “o mundo, em contexto de secularização, tem sede da chuva de Deus.”

À semelhança do movimento interior que nos propõe o Advento, de deixarmos crescer progressivamente a alegria e a luz à medida que nos aproximamos da chegada d’Aquele que “vem salvar-nos”, os jesuítas em formação sentiram-se impelidos a preparar a visita do Superior Geral. Reunindo-se por via digital, incluindo os jesuítas que se encontram a estudar Filosofia e Teologia no estrangeiro, realizámos um autêntico processo de conversação espiritual e oração, sobre a formação na Companhia de Jesus, que culminou na redação de “3 linhas para conversar com o P. Geral”, respeitantes à gratidão sentida, aos desafios enfrentados e às interpelações que surgiram.

Como foi dito, “a visita do Geral gerou frutos mesmo antes de acontecer”, pelo que esta iniciativa preparatória não só reforçou os laços entre jesuítas, muitos deles reunidos à distância, como proporcionou que a conversa atingisse um grau de profundidade e sintonia particulares.

Perante os agradecimentos, que salientavam as relações de fraternidade e confiança que nos unem e a graça da vocação partilhada à Companhia de Jesus, o Padre Geral vincou que o foco da formação está na “incorporação na Companhia”, processo que na linguagem inaciana se apelida de “provação”.

Quanto aos desafios que enfrentamos no nosso caminho, cuja descrição pareceu sensata e completa ao P. Arturo, foi-nos apontado que a base de tudo o que fazemos tem de ser uma “experiência espiritual fundante”, centrada no encontro com Jesus Cristo, e que a nossa vocação consagrada, tem mais que ver com o “ser companheiro de Jesus” do que com o “fazer muitas coisas”. Além disto, foi reafirmada a noção de que a vida comunitária na Companhia é, em si, missão, pelo que só entendida como tal pode ser sujeito de discernimento.

Confrontado com uma pergunta espontânea que desejava saber se o P. Geral, depois de tantos anos de Companhia, ainda estava “apaixonado pelo Senhor”, não teve dúvidas em responder alegremente que “se não estivesse apaixonado, não estava aqui”. “A paixão também vai amadurecendo, e há etapas na vida em que a paixão implica aguentar”, confessou. O P. Sosa concluiu afirmando que no horizonte da vocação não está uma satisfação imediata, mas a confiança fiel de que “passe o que passar, aqui estou”.

A Comunidade Pedro Arrupe com o P. Geral

No dia seguinte, o P. Geral dirigiu algumas palavras à Aula Magna da Faculdade, composta por alunos e professores, e partilhando o painel com o Arcebispo de Braga D. José Cordeiro, com o Pró-Reitor do Centro Regional de Braga, o Professor João Duque, e com o Diretor da Faculdade o P. José Lopes, SJ, que orientou a sessão.

Na sua alocação, começou por perguntar o “porquê de escolher uma Universidade da Companhia” para estudar, investigar ou lecionar, num contexto académico em que há tanta oferta alternativa e tantas possibilidades. Esboçando uma primeira resposta, sinalizou o Bem Comum como princípio a cultivar e orientador das “decisões da economia política”, tendo em vista uma “sociedade mais justa”.

Num segundo momento, deteve-se a descrever a atitude primordial a adotar no contexto complexo que a atualidade nos apresenta e que a todos “assusta”. No entendimento do P. Geral devemos aprender a “discernir”, o que implica ousar “arriscar contra si próprio” e abrir-se “à novidade”. Esta “novidade” que supera a mera “inovação”, é-nos oferecida e não é programada por nós, já que nos dispõe a “ser conduzidos pelo Espírito Santo”. A partir de uma metáfora sugestiva, afirmou: “As faculdades estão habituadas a ter as rédeas nas mãos para controlar a velocidade do caminho. Mas discernir é este esforço tremendo de soltar as rédeas”.

Retomando a pergunta inicial que lançou, o P. Geral deteve-se a caracterizar a “identidade de uma instituição de ensino jesuítica”, sublinhando a missão de olhar para o Ser Humano – nas suas dimensões científica, educativa e social – numa ótica integral.

Quanto “ao modo de proceder da Companhia como corpo apostólico”, o P. Geral sublinhou a “colaboração” como traço chave de uma identidade educativa. Ser “colaborador” difere do ser empregado, implica uma vocação e uma resposta, coloca-nos num caminho de “ser para e com os outros”, insere-nos num trabalho partilhado dentro de obras e entre obras. À boleia da “sinodalidade”, que para o P. Arturo representa um modo de ser Igreja coerente com o espírito do Concílio Vaticano II, a universidade é o espaço favorável para estabelecer relações “interculturais e inter-geracionais”.

Num breve momento de perguntas de alunos e professores, o Padre Geral definiu o perfil de um aluno de uma Universidade da Companhia como alguém “competente, servidor do Bem Comum, que reconhece a riqueza da diversidade e que se entende como um aprendiz”. Por outro lado, o educador inaciano foi associado à figura do “sábio, que ama e se compadece”, que transmite “o que é” a partir do testemunho relacional, e que transparece uma atitude contemplativa. Por fim, questionado sobre como promover a generosidade perante o caos social que enfrentamos, o P. Arturo destacou a responsabilidade universitária face à “política, como resposta social generosa”, de acordo com o “Magis” inaciano, que não tem medo de incidir sobre as estruturas injustas e transformar o mundo, na escala do pequeno, mas também do “grande”.

Perante as ameaças à Democracia, à Reconciliação e à Justiça que representam os “três vírus desintegradores” populismo, polarização e pós-verdade, o P. Arturo Sosa concluiu, exclamando: “sim, vale a pena escolher uma Universidade da Companhia de Jesus!”