Carta dos Párocos de S. Pedro – Covilhã

Neste preciso momento, somos convidados a estar em casa e por casa. Com a ajuda de Santo Inácio de Loiola, fundador da Companhia de Jesus, e dos seus Exercícios Espirituais, gostaríamos de vos convidar a erguer o olhar e o pensamento. A deixar, por momentos, o lugar em que nos encontramos, para ir ao Encontro da Santíssima Trindade, que do alto, amorosamente, nos contempla.

Caríssimos Amigos

Neste dia da Solenidade da Anunciação do Senhor, tão especial para Santo Inácio de Loiola, queremos dirigir-vos uma palavra de alento e de confiança, que igualmente vos poderá servir de meditação.

Os tempos difíceis, mas também de esperança, continuam. Todos, sem excepção, somos chamados a vivê-los. O Senhor fala-nos na história, nos seus acontecimentos. Convidamos-vos, pois, a cultivar uma atitude de escuta, à semelhança de Nossa Senhora. Ela, no silêncio e recolhimento da normal e quotidiana vida doméstica, abria o seu coração e entendimento à Palavra do Senhor.

Neste preciso momento, somos convidados a estar em casa e por casa. Com a ajuda de Santo Inácio de Loiola, fundador da Companhia de Jesus, e dos seus Exercícios Espirituais, gostaríamos de vos convidar a erguer o olhar e o pensamento. A deixar, por momentos, o lugar em que nos encontramos, para ir ao Encontro da Santíssima Trindade, que do alto, amorosamente, nos contempla.

Santo Inácio recorda-nos como a Santíssima Trindade, na Sua eternidade, determina que a segunda pessoa se faça homem, para salvar o género humano. E, assim, chegada a plenitude dos tempos, é enviado o anjo São Gabriel, a nossa Senhora. E convida-nos, a partir do alto, de junto de Deus, a ver a grande extensão e redondeza do mundo, no qual estão tantas e tão diversas gentes. Assim mesmo, depois, ver, particularmente, a casa e os aposentos de nossa Senhora, na cidade de Nazaré, na província de Galileia.

É uma proposta bastante inspiradora e ao mesmo tempo provocadora. Não quer que fiquemos encerrados, no medo e na lógica terrena do castigo divino. Convida-nos a ter um olhar salvador, um olhar misericordioso. Nós, os cristãos, perante o mal no mundo, não nos podemos refugiar na lamentação nem na resignação. Somos convidados ver em cada homem e em cada mulher um irmão, uma irmã, com quem Deus se identifica totalmente. E, por isso, a nossa pergunta não pode ser: “Onde é que está Deus?”, pergunta mais própria de quem diz não acreditar n’Ele, mas sim: “Que posso eu fazer, para libertar a Deus do sofrimento em que se encontra?”. A Sua paixão continua hoje, no aqui e agora, da nossa história, no aqui e agora desta pandemia, que não tem fronteiras. Somos, antes de mais, interpelados a abrir o coração às palavras de Jesus para Nicodemos: “Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (João 3,17).

Diz-nos igualmente que vem ao nosso encontro, até onde estamos. Da imensidade dos Céus à pequenina casa de Maria, em Nazaré. Da imensidade do Seu amor ao mais pequeno recanto do nosso coração. Para o abrir, para o rasgar, para o alargar. Quer fazer do nosso coração um coração em tudo semelhante ao Seu. Seremos perturbados, perguntar-nos-emos como será isso? O Senhor, no entanto, nunca Se perturba pela nossa pequenez, nem pelas nossas dúvidas e perguntas. Simplesmente vem. E vem inteiramente, dando-Se, entregando-Se, fazendo-Se um connosco. Neste movimento de vinda ao encontro do nosso coração, a que podemos chamar oração, elevamo-nos e passamos a ver com Ele e como Ele.

Os muros das nossas casas perdem opacidade e ganham transparência. Deixam de estar neste ou naquele lugar, para passarem a estar no centro, no meio de todos. E assim, do meio e do alto, olhamos e vemos que Deus fez o Mundo amorosamente. O Mundo sem muros, sem barreiras, sem fronteiras de qualquer género. Fê-Lo como um jardim, onde todos podemos partir ao encontro de todos. Onde todos gostamos de estar e de sair, no final da tarde, a dar um passeio, desfrutando da brisa que sopra. Ele, feliz, virá ao nosso encontro, perguntando-nos, de novo, onde estás? E nós em coro, desta vez, não nos esconderemos, mas responderemos: Vem, estamos aqui. Perceberemos, então, ainda que aturdidos, pela dor e incerteza que vivemos, que o mistério da Encarnação dá lugar, naturalmente, ao mistério da Visitação. Teremos que, com paciência e confiança, saber que o Senhor nunca nos defrauda, que sempre vem ao nosso encontro e caminha connosco, a nosso lado, por todos os caminhos da nossa vida. Teremos a arte e a virtude de saber esperar. Teremos que aguardar que a tormenta passe e que, pelas fissuras das paredes que os nossos medos ergueram, venha ao nosso encontro o Senhor. Perguntaremos: “De onde nos é dado que venha ter connosco o Senhor?” Ele responderá: “Não temais, pequenino rebanho, Eu venci o mundo”.

Sim, a nossa cidade, a Covilhã, a nossa terra, Portugal, são pequenos canteiros do jardim que Deus fez para nós, para todos nós. A paróquia de São Pedro é só uma pequena leira da nossa cidade, com a sua beleza própria, a par das leiras de São Martinho, de Santa Maria, de São José dos Penedos Altos, da Imaculada Conceição. Este é o momento favorável, este é o tempo da graça, para descobrirmos que as nossas paróquias não são mais que instrumentos para facilitar a comunhão, para que a entreajuda seja mais fácil, para que a Igreja seja mais Igreja. Peçamos ao Senhor a graça de aproveitarmos este tempo de Quaresma e de quarentena, para centrarmos, à semelhança de Nossa Senhora, o nosso coração no essencial. No irmão, que ao nosso lado necessita da nossa palavra, da nossa visita, da nossa caridade. Dêmos as mãos, acompanhemo-nos uns aos outros, rezemos uns pelos outros, especialmente pelos mais pobres.

Contem connosco, contem com a Paróquia. Estamos juntos.

P. Manuel Vaz Pato, sj

P. Rafael Morão, sj

P. Sérgio Diz Nunes, sj