A ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM E A MEDITAÇÃO DA PAIXÃO

Na entrada jubilosa de Jesus em Jerusalém, eu, como tantos outros, misturado na multidão dos simples peregrinos que tendo ouvido falar da ressurreição de Lázaro e da chegada de Jesus, vou ao seu encontro. P. José Augusto Sousa, SJ

 

Acompanho-O, contemplando-O sentado num jumentinho, que os discípulos aparelharam com os seus mantos. Medito e canto com os peregrinos, a profecia de Zacarias, “Exulta de alegria, filha de Sião. Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém. Eis que o teu rei vem a ti, montado num jumentinho, filho duma jumenta”(Zacarias 9, 1-10). O Senhor entra na sua cidade, montado num animal que nada tem a ver com uma montada real. Um animal de carga e não em animal de combate e o jumentinho nem sequer lhe pertence, porque o deve restituir. E não é o jumentinho de carga, a imagem d’Aquele que transporta, que vai à Paixão, carregando, também ele, os meus pecados, os nossos pecados para nos salvar?
Medito, meditemos para tirarmos proveito!.. “pedir o que quero; será aqui dor, sentimento e confusão, porque por meus pecados, vai o Senhor à Paixão” (Inácio de Loiola: Exercícios 193)

Durante esta Semana chamada a Semana Maior ou Semana Santa, meditemos na intimidade da Paixão com Mateus, Marcos, Lucas e João. Abramos, um dos quatro evangelhos e meditemos, pausadamente, fazendo chegar as palavras duma das narrações da Paixão à mente e ao coração. Este ano podemos dar precedência à Paixão segundo S. Marcos, porque estamos no Ano B. Na Sexta-Feira Santa, é o dia da Paixão descrita por S. João. Cada um de nós, pode escolher a narração que lhe diz mais, no momento actual em que se encontre na vida. Entremos na intimidade da Paixão:

– Com MATEUS, meditamos a Paixão de Jesus Cristo como a Paixão do “Servo Sofredor”, do justo perseguido. Aprendemos nessa meditação, que o plano de Deus sobre o homem se realiza por intermédio do “Servo sofredor” e não pelo Rei da glória. É dando a vida e não reinando que se constrói a nova humanidade!

– Com MARCOS, meditamos a Paixão de Jesus Cristo como a revelação da dignidade messiânica. Nesta narração, sentimos a solidão de Jesus na Paixão. Todos o abandonaram!.. “Ferirei o Pastor e as ovelhas dispersaram-se”. “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes!..” Mas o Messias crucificado e morto, é verdadeiramente o Filho de Deus! “Este homem é verdadeiramente o Filho de Deus” confessa o Centurião Romano. Com a morte de Jesus, voltou a reunir-se o que estava disperso.

– Com LUCAS, meditamos a Paixão de Jesus Cristo como a revelação do grande amor do Pai por seu Filho e por todos os homens, mesmo os inimigos. A Paixão, segundo Lucas, é um milagre contínuo de misericórdia, de perdão e de reconciliação! Lembremos aqui o Ano da Misericórdia recentemente vivido por todos nós e proclamado pelo Papa Francisco. Recordemos o que diz o mesmo Papa. O nome de Deus é Misericórdia

– Com JOÃO, meditamos a Paixão de Jesus Cristo como marcha triunfal de Jesus para o seu Pai. Chegou a “hora” de passar deste mundo para o Pai, da entrega aos homens, da manifestação de glória, do dom da vida e do amor, do dom do Espírito Santo. Aprendemos, nesta meditação, que Jesus é o verdadeiro cordeiro de Deus imolado para salvação do mundo! A morte do Homem-Deus não é um fim, mas ao contrário, é a presença do Senhor, através do seu Espírito no mundo e na Igreja!

Sob Pôncio Pilatos, Jesus dá exemplo daquilo que recomendou aos discípulos quando fossem levados, por sua causa, à presença de Reis e de Governadores. Pilatos admira-se que Ele não se preocupe com a sua defesa e não se justifique das acusações que lhe fazem (Mt.27,12; Mac.15,4; Luc. 23,4). “Nesta hora” solene em que, pela primeira vez, enfrenta o mundo pagão, o mundo que não é judeu, mais que nunca, o Espírito Santo dirá a Jesus o que deve dizer para fazer “obra evangélica”(Mt.10,18-20; Luc.12,11). Peço a Jesus, na sua hora, na hora da sua entrega aos homens que me ensine, uma vez por todas, a fazer também eu, do meu ministério, do meu estado de vida religiosa ou meu estado de casado ou de solteiro, uma obra evangélica, onde transpareçam os critérios de Deus. Na Cruz, portanto, é pregado o ódio e resplandece o amor. É o que faz Cristo, dando a vida àqueles que lha queriam tirar. Ordenando a Pedro para meter a espada na bainha, Jesus ensina-nos que resistir à violência pela violência, não faz mais que desencadear a violência (Helder Câmera, na “Espiral da Violência).

A HORA de Jesus culmina na Ressurreição. “Quando for levantado da terra atrairei a Mim todos os homens”. Porque Deus não pode permanecer na morte, abrem-se para todos nós, as portas da vida. Quantas vezes, a fé cristã foi acusada de colocar em primeiro plano o culto do sofrimento e até da própria morte. Mas pelo contrário. Nós, Cristãos, se o somos de verdade, proclamamos ao mundo inteiro, com a nossa vida e com alegria serena que nos deve inundar, que o sofrimento e a morte são condenados, a produzir a vida.” A mulher, quando está para dar à luz sofre, mas depois alegra-se com a vinda dum filho”. É o nascimento da alegria que nos visita.

P. José Augusto Alves de Sousa, SJ