P. Manuel Ferreira
03.02.1939 – 1.05.2023
Biografia
Manuel Ferreira nasceu no Fárrio, Concelho de Ourém, Distrito de Santarém, no dia 03 de fevereiro de 1939 e entrou na Companhia de Jesus no dia 7 de setembro de 1956, em Soutelo. Em 1961 foi para Galarate, Itália, fazer filosofia. Em 1964 foi destinado à Missão da Zambézia, onde fez o magistério, na Escola de Formação de Professores, na missão de Boroma. Em 1966 regressou à Europa e foi para Roma, Universidade Gregoriana, fazer teologia e prosseguir para o doutoramento. Foi ordenado Sacerdote no dia 28 de junho de 1969, na Sé de Lisboa. Defendeu a tese, intitulada “Fé e Profecia em S. Hilário de Poitiers”, em 1973, publicada, em 1995, pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Fez a terceira provação no Canadá (1973) e depois regressou a Moçambique (missão de S. Benedito da Manga).
Em 1974 o P. Manuel foi nomeado mestre de Noviços. Fez os últimos votos no dia 17 de agosto de 1975, na Beira. Em 1976 o Noviciado fechou e o P. Manuel continuou na Manga como pároco e professor da Escola Secundária. Em 1979 mudou para a residência de Matacuane (Beira). Colaborava na Paróquia, dava aulas na Escola Secundária e era promotor vocacional. Entre 1984 e 1989 foi, de novo, mestre de Noviços. Em 1989/90 esteve em Roma num ano sabático e colaborou na secção portuguesa da Secretaria de Estado do Vaticano.
Regressando a Moçambique ficou no Maputo. Dedicou grande parte do seu tempo à formação de jovens religiosas e apoiava o serviço pastoral da Paróquia da Matola. Orientava Exercícios Espirituais e colaborou na Nunciatura Apostólica de Moçambique. Em 1996 foi para Tete como diretor do ESAM (Ensino Secundário Aberto Moçambicano) que inicialmente teve o nome de MOLU (Mozambique Open Learning Unit). Em 1997 voltou para o Maputo e foi professor no Instituto Superior de Ciências Religiosas, ISMMA (Instituto Superior Maria Mãe de África) e no Seminário teológico diocesano.
Em 2002, o P. Manuel regressou à Beira para ser o diretor espiritual dos Escolásticos, colaborando no Centro P. Cirilo e dando aulas no Seminário Diocesano. Foi nomeado coordenador do apostolado dos Exercícios. Em 2014 foi nomeado sócio do mestre de Noviços e foi para a Casa do Noviciado na Manga.

Em 2015 começou a lecionar na Universidade Católica de Moçambique, na Beira. Em 2017 foi para a residência de S. Inácio, no Maputo, dedicado à docência no Seminário teológico diocesano, no ISMMA e exerce um apostolado de animação com jovens escritores moçambicanos.
Veio a Portugal em 2021 para tratar da saúde e ficou na comunidade do Colégio de S. João de Brito, Lisboa, até janeiro de 2023 quando regressou ao Maputo. Amigos escritores interessaram-se por recolher muitas das suas poesias que editaram num livro, “Serenidade”, lançado na Beira e no Maputo, encontrando-se o P. Manuel, já muito debilitado. Voltou para Lisboa no dia 12 de abril. O seu estado de saúde foi-se debilitando cada vez mais e no dia 27 foi internado. Faleceu no dia um de maio de 2023, em Lisboa.
No seu percurso de sofrimento mostrou uma grande serenidade fruto da consciência de uma vivida entregue e de uma fé testemunhada. O P. Manuel foi um religioso sempre disponível para ajudar espiritualmente quem dele se aproximava. Era um especialista em orientar Exercícios Espirituais graças à sua preparação e sobretudo ao interesse em se atualizar.
Testemunho
Eu sou Inácio João Chitsumba, Moçambicano e residente na Cidade da Beira, onde o saudoso Pe. Manuel Ferreira trabalhou como Missionário Jesuíta.
Conheci o Padre Ferreira, como o tratávamos, no longínquo ano de 1976, quando na companhia dos meus pais, eu ia à missa aos domingos, na paróquia onde o pe. Ferreira trabalhava. Nesta altura o jovem Padre dedicava-se muito na animação juvenil, colaborava no ensino da música, no canto e formação cristã.
Lembro-me que nesta altura, no ano de 1977, na companhia do já falecido Padre Luis Gonçalves sj, criaram o grupo juvenil da paróquia, “Vinde e Vede”, que ainda hoje existe. Ávido de ajudar a juventude, criou por iniciativa própria e de modo singular, o chamado grupo MOJOCA – Movimento de Jovens casais e a CVX, um movimento de carisma inaciana e com o propósito de reflexão sobre o valor da oração. Sei que ele animou e ajudou jovens a entrarem para o seminário diocesano e para os próprios jesuítas; eu sou um dos exemplos concretos do que estou aqui a testemunhar. Passei pelo Seminário Diocesano, pela mão dele.
Há muita coisa que se podia dizer, mas de uma forma mais ou menos resumida, aí estao meu testemunho, sobre este homem que atravessou oceanos e mares, para espalhar o charme do evangelho de Cristo, de modo particular cá na Africa e concretamente na Cidade da Beira, onde foi docente em Várias escolas públicas e não só escritor. Aliás, durante a quaresma deste ano, vimos o Padre Ferreira a lançar o seu mais recente livro de poesias, na Cidade da Beira e na Cidade do Maputo.
Que Deus acompanhe o Padre Manuel Ferreira, nesta sua viagem!
Inácio João Chitsumba
Testemunho
Não sou certamente uma das pessoas que melhor conheceu o P. Manuel Ferreira. Mas do que conheci, posso afirmar que a alegria de servir o Senhor era uma das caraterísticas que melhor o definia; uma alegria que caraterizava a sua vida como jesuíta e como padre, no trato com as pessoas, na forma como rezava na missa, nas intenções que partilhava, na relação com os seus irmãos jesuítas. Se numa das orações da ordenação sacerdotal se reza «queira Deus consumar o bem, que em ti começou», creio que, na vida do P. Manuel, isso se tornou bastante visível através do seu testemunho autêntico de amor e serviço pelo Reino de Deus.
Não me enganarei demasiado ao dizer que ser discípulo de Jesus significa ser capaz de
acolhedor cada pessoa que se cruza na nossa vida. Se é assim, então o P. Manuel deu um testemunho esplêndido ao ser um pastor acolhedor, diante de quem qualquer pessoa podia saborear o que significa sentir o amor de Deus na sua própria vida.
Filipe Lima, sj
Testemunho
É difícil acreditar que o meu amigo irmão e companheiro tenha partido. Mas uma coisa é certa: este senhor nestes últimos dias da sua peregrinação na terra ensinou-me o que é ser um missionário comprometido e perseverante. Sempre alegre e nunca se deixou abater pela idade e partiu assim querendo servir a todos por onde ele passava. Não só passou fazendo o bem, mas semeando amor que hoje os seus frutos são visíveis. O pe. Manuel Ferreira amou Cristo e nunca se contentou com mediocridades e nem “o suficiente” porque para ele o suficiente não era suficiente.
Para o pe. Manuel o “mais” era o seu lema. A título de exemplo, vejam no seu último livro de poesia “Serenidade”, na página 22 como ele viaja! No lançamento do livro “serenidade” deu-me a entender que os jovens não deixassem de sonhar com um mundo melhor. Na sexta-feira teremos uma missa em memória do nosso querido amigo pe. Padre Manuel Ferreira, descanse em paz.
Carlos Sivano sj