P. José Venâncio Pina

24.04.1927 – 18.01.2021

Biografia

Nasceu no Lugar de Granja de Paiva, freguesia de Caria, no concelho de Moimenta da Beira (Viseu) no dia 24 de abril de 1927. Fez os estudos secundários na Escola Apostólica de Macieira de Cambra e entrou na Companhia de Jesus no dia 7 de setembro de 1945, no Convento de Santa Marinha da Costa, em Guimarães. Depois do Noviciado e do Juniorado foi para Braga estudar Filosofia, na Pontifícia Faculdade de Filosofia (1949 – 1952). Fez a etapa do Magistério no Colégio das Caldas da Saúde (1952 – 1955) como Professor e Prefeito. Em 1955 foi para Comillas, Santander (Espanha) onde fez um ano de Teologia e os outros três fê-los em Oña, Burgos (1956 – 1959).

Foi ordenado Sacerdote em Loiola, no dia 19 de junho de 1958. Depois da Terceira Provação, feita em Salamanca (1959 – 1960) deu princípio à sua atividade apostólica, no Colégio de S. João de Brito, em Lisboa, como professor e diretor espiritual dos alunos. Foi, também, ecónomo da Comunidade.

Em 1962 foi escolhido para Capelão Militar e enviado para Angola. Exerceu este ministério com grande dedicação. Escreveu uma espécie de diário que intitulou: Apontamentos ou Diário do Capelão Militar P. José Venâncio Pina que esteve em Angola durante dois anos de 1962 – 1964. Depois de terminar esta missão em Angola, foi para o Lar da Imaculada Conceição, anexo ao Colégio das Caldas da Saúde, destinado aos candidatos à Companhia de Jesus. Foi Ministro e Ecónomo do Lar e professor no colégio.

Em 1967 foi destinado a Timor onde foi professor no Seminário Diocesano, entregue à responsabilidade da Companhia e era Ministro da Comunidade de jesuítas. Em 1970 regressou a Portugal e foi para o Colégio das Caldas da Saúde como professor e diretor espiritual dos alunos e coordenava as atividades circum-escolares. Permaneceu no Colégio das Caldas da Saúde até 1995, ano em que foi nomeado Superior da Comunidade do Colégio de Cernache e era o responsável pela pastoral dos alunos do colégio.

Em 2001 foi para residência do Espírito Santo, em Évora, como Ministro e Ecónomo e dedicava-se a ministérios pastorais na cidade, tendo sido nomeado Superior da Comunidade em 2008. Seis anos mais tarde, voltou para o Colégio das Caldas da Saúde e exercia alguns ministérios sacerdotais e rezava pala Igreja e pela Companhia.

Faleceu a 18 de janeiro de 2021, estando internado no Hospital de Santo Tirso devido a uma paragem cardíaca durante o sono. Estava infetado com a covid-19.

Testemunho

A memória nunca morre

Foi num dia de confinamento que, no ano passado, inesperadamente, o P. Pina, o nosso querido “Venâncio”, pôs a sua super 8 a funcionar e nos fez viajar ao tempo em que o Colégio tinha uma procissão no dia do Coração de Jesus, em que o P. Arrupe, Padre Geral da Companhia, visitou o colégio e naquela mesma sala falou à Comunidade dos Jesuítas, apoiado sobre as ainda mesas de jogo cobertas de flanela verde, o dia em que uma multidão celebrou, no Santuário de Fátima, os cinquenta anos das Aparições, …, ficando a promessa de, um dia, vermos mais dos seus filmes. Eram imagens a cores e a preto e branco, mudas, mas falantes e vivas na memória. Parecia que estávamos lá, a segurar a câmara e a registar para sempre a história.

As conversas com P. Pina eram sempre assim. À mesa, sobre antigos alunos, viagens, acampamentos, fotografias, Timor, CAIC e até Évora. Havia sempre uma memória que se avivava sobre o INA, o seu querido Colégio, os seus educadores e tantos companheiros jesuítas que, com ele, deram a vida nestas virtuosas paredes. Os seus emails, powerpoints e telefonemas eram pretexto de sorrisos e, na televisão, o seu amor ao desporto vibrava mais alto com o seu Sporting. Tinha o temperamento de um beirão convencido e o sorriso fácil de uma gargalhada descomprometida. Quando desafiado, muitas vezes respondia: “Não haja dúvida!”. E na sua memória viva, guardava histórias e façanhas, sem fim, dos seus queridos alunos.

No dia dos seus 93 anos, contou-nos a historia da sua vocação. Dizia que se fez jesuíta quase por engano, deixando a culpa ao Espírito Santo. E com grande felicidade, o almoço era da sua máxima preferência: churrasco. Na sua oração, rezava por todos, pelos distantes e pelos próximos, recordando-nos que os que já partiram vivem junto de Deus. Todos os dias rezava pelos benfeitores, pela missão da Companhia de Jesus e pelos jesuítas falecidos, sempre acrescentando uma nota sobre o ponto onde as suas vidas se cruzaram.

Quando celebramos Eucaristia, não só o Mistério se faz presente, como nos mostra que a memória nunca morre. Atualiza-se. Damos graças a Deus pela vida deste Grande Educador desta humilde casa, que é mais sua do que nossa. E pedimos ao P. Pina que, do alto não se esqueça de mostrar o filme das nossas vidas a Deus, fotografando cada uma das nossas intenções.

INA, 19 de janeiro de 2021
P. Carlos Carvalho, sj

Testemunho

O P. José Pina fez parte da minha vida em mais do que um período de tempo. Foi sempre, ao longo dos anos, referência de um companheiro entusiasmado pela natureza e pelo mundo da educação. Era um “jesuíta dos colégios”, um educador interessado pelos alunos, próximo e muito presente nas suas vidas. Recordo, com saudade, o rosto sorridente e animado, em tantos momentos de encontro em que começávamos a desembrulhar episódios encantadores dos tempos da sua vida no Colégio das Caldinhas. Rejuvenescia e não se cansava de contar histórias, de recordar alunos e educadores com quem tinha trabalhado e a quem se dedicara com entusiasmo.

Foi esta imagem de entrega aos alunos, de presença solícita e animada nos momentos informais, que guardei da minha passagem pelo Lar da Imaculada Conceição e pelo Colégio das Caldinhas, nos anos sessenta. Como qualquer adolescente, valorizava as atividades desportivas, os convívios, as saídas prolongadas em passeios ou acampamentos… e lá estava o P. Pina, equipado á maneira, dinâmico, com o seu ar de comando mas, ao mesmo tempo, como amigo, com a cumplicidade do seu sorriso e proximidade.

Fizemos passeios, acampamentos…e jogámos badminton. Treinador dedicado e paciente, ensinou-me este desporto, que pratiquei com gosto durante muitos anos, os últimos com o P. Pina, no Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache, na década de noventa. É deste período de tempo que guardo as últimas recordações do convívio diário com o saudoso P. Pina.

Como responsável pelo colégio, acompanhei de perto o P. Pina num período da vida em que ainda estava cheio de vitalidade, quer no exercício do múnus sacerdotal quer como educador. Já próximo dos setenta anos, continuava a mobilizar os companheiros, professores, pais e alunos para a prática do desporto. Organizava passeios, respirava atividade, animando-nos a fazer exercício físico e a valorizarmos a natureza. Fez assim muitos amigos, entre os quais me incluo, amigos a quem não se esquecia de telefonar no dia de aniversário.

Jorge Manuel Sena, sj