P. José Afonso Marques Pinto
03.04.1930 – 21.04.2021
Biografia
O P. José Afonso nasceu na freguesia de Santos-o-Velho, Lisboa, no dia 3 de abril de 1930 e entrou na Companhia de Jesus no dia 14 de novembro de 1956, em Soutelo, Braga. Antes de entrar na Companhia frequentou o Instituto Superior Técnico onde se formou em Engenharia Civil. Exerceu a profissão durante algum tempo e fez o serviço militar como engenheiro. Depois do Noviciado fez dois anos de Juniorado e foi professor de matemática dos Juniores. Em 1960 foi para a Faculdade de Filosofia de Braga onde estudou Filosofia durante dois anos. Em 1962 foi para o Colégio das Caldas da Saúde, em Santo Tirso, onde foi professor e Prefeito e colaborou na Enciclopédia VERBO. Em 1963 foi para Granada, Espanha, onde estudou Teologia, até 1967.
Foi ordenado sacerdote no dia 3 de julho de 1966, em Lisboa, no Colégio de S. João de Brito. Esteve como Capelão Militar em Moçambique de 1968 a 1970. Em 1971 foi destinado a Moçambique e esteve na missão do Chiritze como diretor espiritual dos alunos, professor e visitava as comunidades cristãs da missão. Em 1973 foi nomeado pároco da Paróquia da vila do Furancungo. Fez os últimos votos no dia 2 de fevereiro de 1973, no Chiritze. Em 1974 mudou para a cidade da Beira onde foi vigário cooperador na Paróquia de Matacuane.
Em 1975 regressou a Portugal e esteve na residência da Brotéria, em Lisboa, como secretário da revista, auxiliar do bibliotecário e colaborava na Paróquia de S. Francisco de Paula e na Paróquia de Corroios, Almada. Em 1977 foi vigário paroquial do Vicariato de Nª Sª da Esperança, na Quinta do Conde, Setúbal, onde desenvolveu um trabalho notável, numa zona recém habitada e ainda sem estruturas eclesiais montadas, nem mesmo uma capela para o culto. Em 1983 foi nomeado pároco da Paróquia de Cristo Rei, no Pragal. Continuava a residir na residência da Brotéria e só a partir 1985 é que começou a residir na Paróquia de Cristo Rei. Em 1992 foi para Vila Nova de Santo André e foi pároco da Paróquia de Santo André e de Melides. Em 1995 foi para a Charneca da Caparica colaborar na Paróquia.

Em 1997 voltou para Moçambique e foi nomeado pároco das Paróquias de Vila Ulóngue e da Mpenha. Foi superior da comunidade de Ulóngue e coordenador do Centro de Formação e Promoção da vila. Em 2002 foi para a Beira colaborar na Paróquia de Matacuane. Em 2004 foi nomeado pároco da Paróquia de Msaladzi e residia na missão da Fonte Boa. Estava nesta residência quando a missão foi assaltada e assassinado o P. Waldyr dos Santos e a voluntária dos Leigos para o Desenvolvimento, Idalina Gomes, no dia 6 de novembro de 2006.
Em 2009 regressou definitivamente a Portugal e foi pároco da Paróquia da Sobreda, Caparica. Em 2015 foi para a residência da Brotéria onde exercia o ministério sacerdotal na Basílica da Estrela e em duas irmandades, a de Nª Sª da Quietação (Flamengas) e de Nª Sª das Dores (Belém), para além de continuar a assistir uma equipa de casais. Debilitado na saúde foi, em 2019, para a enfermaria do Colégio de S. João de Brito.
O P. José Afonso foi um sacerdote cheio de zelo apostólico e sempre disponível para o ministério sacerdotal. Irradiava boa disposição e era amigo de todos.
Faleceu no dia 21 de abril de 2021, num hospital, em Lisboa, na sequência de complicações que surgiram depois de ter sido atingido pela COVID-19.
Testemunho
Conheci o P. Afonso Marques Pinto em Moçambique, na Região Pastoral de Angónia, Tete.
Sei que tinha sido Capelão Militar no tempo colonial na região da Macanga, Tete. Desse tempo não contava nada de especial, a não ser algo sobre alguma caçada de noite. Não sei como terá vivido esse tempo.
Conheci-o como missionário. Como o recordo? Com saudade, pois era um excelente companheiro de missão. Lembro-me de o P. David Ferreira da Silva, que viveu vários anos na mesma comunidade de Vila Ulongwe, dizer-me: “O Afonso não passa um dia sem rezar o terço. Mesmo que esteja cansado, depois de um dia inteiro fora, tendo celebrado uma ou duas Missas com mais de cem batismos e outras tantas Primeiras Comunhões, só vai descansar depois de ter rezado o Terço”. E rezavam-no muitas vezes juntos.
Homem de oração, centrado em Cristo, entregue à missão de evangelizar, de alimentar a fé daqueles que já acreditavam. A sua atividade partia sempre da sua relação íntima com Cristo que o enchia, que lhe dava vigor e ânimo para tão dura missão, tendo em conta a idade avançada que já tinha.
Missionário autêntico, fiel ao seu compromisso e exigente com os responsáveis das comunidades e com os cristãos. Mesmo adoentado, com malária, ia celebrar a Mtengo Umodzi, última comunidade da Paróquia de Msaladzi, a duas horas por caminho de terra batida. Esta paróquia tinha 120 comunidades, todas com igreja. Era um homem preocupado em ajudar os cristãos a fazer a manutenção das igrejas, conseguindo dinheiro junto dos seus amigos em Portugal para comprar chapas de zinco.
Era sensível à amizade, bem-disposto, provocador com piada e com piadas. Nunca vivi com ele na mesma comunidade e quando o encontrava provocava-o com uma piada, ou com um uma pancadita no braço dele. Não ficava sem resposta: e ele gostava de me dar uma chapadita na cara, sem eu contar. Isto criava bom ambiente no grupo.
Nunca vi o P. Afonso com o carro vazio. Ou à ida para as comunidades, ou à vinda, levava ou trazia pessoas em cima do carro, embora não fosse bom condutor, nem um condutor seguro. Um dia, contaram-me, que indo de viagem com um companheiro e mais alguém, na estrada de Angónia para Tete, em lugar de seguir por um desvio, foi sempre em frente. O companheiro teve de berrar para o fazer parar, a fim de evitar cair num precipício de alguns metros de altura! Grande missionário, homem bom, um grande amigo.
Vítor Lamosa, sj