P. Estêvão Jardim

26.12.1932- 12.07.2024

Biografia

Nasceu na freguesia de Prazeres, concelho da Calheta, Funchal (Ilha da Madeira), no dia 26 de dezembro de 1932. Fez os estudos secundários na Escola Apostólica de Macieira de Cambra, entre 1945 e 1950. Entrou no noviciado da Companhia de Jesus no dia 8 de setembro de 1950, no Convento de Santa Marinha da Costa, em Guimarães, mas terminou-o na Casa da Torre, em Soutelo. Depois dos estudos de Humanidades (1952 – 1955) foi para a Pontifícia Faculdade de Filosofia de Braga, onde se licenciou em filosofia.

Fez a etapa do magistério na Missão da Zambézia (Moçambique): esteve na missão da Fonte Boa, onde estudou Chinyanja e se iniciou na vida missionário; em Boroma, como professor da Escola de formação de professores e em Lifidzi, como prefeito dos alunos e aproveitava todas as oportunidades para visitar as escolas.

Em 1961 foi para San Cugat del Vallés, Barcelona, estudar teologia.
Foi ordenado sacerdote no dia 25 de julho de 1964, na Covilhã. Depois da terceira provação, feita em Salamanca, entre 1965 e 1966, regressou a Moçambique. Fez os últimos votos em 1968, em Lifidzi. Dedicou-se de alma e coração à atividade missionária na missão de Lifidzi, atendendo especialmente as estações missionárias do Dómue, de Caliu e da Mpenha. Em 1975 foi para a Diocese de Lichinga e assistia a missão de Metangula.

Em 1976 foi nomeado pároco da Sé de Lichinga. Vivia-se, por este tempo, a instabilidade de uma situação política, pós independência de Moçambique, desfavorável à atividade religiosa. A 6 de julho de 1978 foi preso e três dias depois levado para a cadeia de Lourenço Marques. Foi expulso de Moçambique, e saiu para Portugal, via Roma, no dia 17 de julho desse mesmo ano. Ficou cerca de dois anos em Portugal, na Casa da Torre, em Soutelo, onde foi ministro e superior interino.

Em 1981 partiu para Angola. Esteve em Luanda, no Puri (Uíge) e na cidade de Uíge. Aqui viveu no Paço Episcopal sendo bispo D. Francisco da Mata Mourisca e assumiu a direção da Escola Diocesana de Catequese, foi diretor espiritual do seminário e ecónomo da diocese, para além da sua disponibilidade para outros ministérios apostólicos. Em 1994 voltou para Luanda e colaborou na Paróquia, orientou Exercícios Espirituais e assistiu o Movimento Eucarístico Juvenil.

Em 2010 regressou definitivamente a Portugal e esteve em Portimão, na Paróquia de Nª Sª do Amparo, como vigário paroquial. Já em Lisboa, esteve na residência da Brotéria, e colaborava na capelania da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e na Paróquia de S. Francisco de Paula.

Em 2018 foi para a Comunidade da Faculdade de Filosofia de Braga com a missão de rezar pela Igreja, pela Companhia e pelo mundo. O P. Estêvão era um religioso cheio de zelo apostólico. Manifestava um humor muito particular, falando muitas vezes em parábolas e utilizando expressões da cultura africana.
Era um grande evangelizador e um apóstolo do Sagrado Coração de Jesus, tendo contribuído para dinamizar o Apostolado de Oração e o Movimento Eucarístico Juvenil em Angola. Era também um profundo conhecedor da Sagrada Escritura, da qual era apaixonado, recordam os que com ele conviveram de perto. A sua proximidade e espiritualidade faziam com que fosse procurado por sacerdotes, religiosas e religiosos, para tirarem dúvidas, desabafarem ou se confessarem. Também os membros de movimentos e de grupos de apostolado apreciavam muito as suas catequeses, retiros e exortações.

Depois de uma longa vida, 91 anos e meio, ao serviço do Reino, no dia 12 de julho de 2024,o Senhor chamou-o a si

Testemunho

 

O P. Estêvão Jardim era um missionário à antiga, com um coração que batia ao ritmo africano. Assim foi nos longos anos em Moçambique e também nos longos anos em Angola. E mesmo em Portugal – no intervalo que se seguiu à expulsão de Moçambique ou no final da etapa angolana – o seu coração não deixou de ser africano. E que maior inculturação do que a inculturação do coração? O P. Jardim era admirável no seu zelo apostólico e era conhecida a facilidade com que citava provérbios africanos, versículos da Bíblia ou números das Constituições da Companhia de Jesus, a propósito ou a despropósito das mais variadas situações.

Não sem ironia, podia perguntar se ainda estava em vigor um determinado número das Constituições. E o Provincial de serviço, porque não lhe podia competir na memória, lá tinha de ir buscar o livro para perceber qual era o recado…

Acima de tudo, o P. Jardim era amigo do Senhor e amigo no Senhor, verdadeiro companheiro de Jesus a quem anunciou incansavelmente. Não posso senão estar-lhe grato por ter testemunhado sempre que ser cristão é ser missionário.

P. Nuno da Silva Gonçalves S.J.

TestemunhoS

 

O nosso P. Estêvão Jardim, de que fui companheiro na formação, era um homem de profunda fé e religiosidade. De pensamento ágil e engenhoso, servido por uma enorme memória, ouvi-o declamar em grego, no refeitório de Soutelo, um inteiro sermão de S. João Crisóstomo. Sempre bem humorado e brincalhão, numa das suas viagens em que passou por Roma descobriu nas “Camareta” que era da mesma altura de Santo Inácio, o que muito o satisfez. Verdadeiro jesuíta e missionário recebe agora em plenitude a amizade do Senhor! 

P. José Carlos Belchior, sj

Notícia triste…
Foi-se embora o velho evangelizador. Andava cheio de energia positiva, irradiava uma alegria contagiosa e era brincalhão.
Homem culto, apaixonado pela Sagrada Escritura, o P. Jardim tinha uma memória de elefante. Era simplesmente bom.
As missões jesuítas em Angola e Moçambique, o Apostolado da Oração e o M.E.S. em Angola estão de luto.
Descanse em paz a sua alma!

Pierre Vata, SJ – Superior da Comunidade e da Casa de Retiros, em Luanda

Vivi com o Padre Estêvão Jardim nos anos em que estive em Angola (1998 a 2002).
Perante atividades difíceis e sacrificadas, várias vezes o vi afirmar: “Eu vou, pois nunca negarei fogo em qualquer trabalho de padre!” Assim mesmo. E lá partia para mais uma ação ou uma atividade, apesar do desgaste ou do cansaço físico ou mental.
Conselheiro missionário experiente, após mais de 30 anos de missão dura em Moçambique, acabou por somar outros tantos em Angola…

Era o “padre espiritual” nato, na nossa Comunidade jesuíta, com quem se desabafava como com um irmão. Era procurado por sacerdotes, religiosas e religiosos, para tirarem dúvidas, desabafarem ou se confessarem com ele. Também os membros de movimentos e de grupos de apostolado apreciavam muito as suas catequeses, retiros e exortações.
Cumpriu já a sua missão terrena. Pleno de riqueza interior, aceitou a simplicidade e o apagamento, com muito zelo, dedicação e amizade, sabendo que é o Senhor da Messe quem tem a última palavra.

P. João Caniço, sj

O Senhor Padre Estêvão Jardim foi um grande sacerdote, formador, conselheiro, pregador, grande apóstolo do Sagrado Coração de Jesus. Conhecia bem a Bíblia. Todos os seus exemplos de vida baseava-os na Bíblia. Aprendemos muito com ele.

Maria Noémia e Pascal Canoquela, casal da Paróquia de S. F. Xavier, com quem trabalhou muitos anos diretamente com o nosso querido Padre Estêvão Jardim.