P. António da Costa Silva
15.04.1938 – 10.07.2022
Biografia
O P. António da Costa Silva foi durante vários anos formador dos Jesuítas como Diretor Espiritual da Comunidade Pedro Arrupe e Superior da Comunidade do Noviciado em Coimbra. Dedicou-se também ao ensino e chegou também a ser o responsável do Departamento da Educação Cristã de Adultos, da Conferência Episcopal Portuguesa. Teve também um papel importante no acompanhamento e formação da Vida Religiosa e dedicou-se aos Exercícios Espirituais, tendo sido diretor do Centro de Espiritualidade e Cultura situado na Casa da Torre em Soutelo, Braga.
Nasceu em Casegas, concelho da Covilhã, distrito de Castelo Branco, no dia 15 de abril de 1938. Fez os estudos secundário na Escola Apostólica de Macieira de Cambra, de 1950 a 1955. Entrou na Companhia de Jesus, no dia 7 de setembro de 1955, na Casa da Torre, Soutelo, Braga. Depois de dois anos de Noviciado fez os primeiros votos no dia 8 de setembro de 1957. Estudou Humanidades (etapa do Juniorado) de 1957 a 1960, em Soutelo. Fez os estudos filosóficos na Pontifícia Faculdade de Filosofia de Braga onde obteve a licenciatura em Filosofia, em 1963.
Esteve no Colégio das Caldas da Saúde, Santo Tirso, na etapa do Magistério e lecionou religião, português, geografia e ciências naturais, durante dois anos (1963-1965). Foi para a Irlanda, Milltown Park, Dublin, em 1965, estudar Teologia, onde esteve até 1969. Entretanto foi ordenado sacerdote, no dia 29 de junho de 1968, na Sé Catedral do Porto. Em 1969 regressou a Portugal e recebeu a missão de trabalhar no Colégio da Imaculada Conceição, Cernache, Coimbra, como professor de inglês e Diretor Espiritual dos alunos. Entre 1971 e 1973 foi Capelão Militar, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, continuando ligado ao Colégio de Cernache. Em 1973 foi nomeado Diretor Pedagógico do Colégio de Cernache, Promotor Vocacional e Diretor da Casa de Exercícios Espirituais de S. José, também, localizada na quinta de Cernache. Fez a Terceira Provação no Rodízio entre 1976 e 1977 e emitiu os últimos votos no dia 8 de dezembro de 1978, em Cernache.

Foi destinado à residência da Covilhã, em 1978, da qual foi nomeado Superior no ano seguinte e trabalhava na pastoral. Em 1986 foi para Lisboa para ser o responsável do Departamento da Educação Cristã de Adultos, da Conferência Episcopal Portuguesa e vivia na residência da Lapa. Em 1987 foi destinado à Casa da Torre, Soutelo, como Superior da Comunidade e Diretor do Centro de Espiritualidade e Cultura (CEC) e dedicou-se a orientar Exercícios Espirituais.
Em 1992 mudou para a residência do Apostolado da Oração (AO), em Braga e foi nomeado Vigário Episcopal para os Religiosos e Diretor Espiritual do Seminário e continuava como Diretor do CEC. Ainda em Braga mudou para a Comunidade Pedro Arrupe (Juniorado-Filosofiado) como Diretor Espiritual e Ministro da Casa. Em 1998 foi para Coimbra nomeado Reitor da Casa do Noviciado, acumulando com o cargo de Sócio do Mestre de Noviços e Diretor da Casa de Nª. Srª. do Loreto. Dava, também, aulas no Instituto Superior de Estudos Teológicos (ISET). Em 2001 foi nomeado Superior da residência de Évora e dedicava-se à orientação de Exercícios Espirituais e outras atividades pastorais. Em 2008 voltou para Braga nomeado Superior da Comunidade da Faculdade de Filosofia e do Secretariado Nacional do Apostolado da Oração. Em 2014 foi nomeado Superior da residência do Sagrado Coração de Jesus, da Póvoa de Varzim e trabalhava na pastoral. Em 2017 voltou para Évora como bibliotecário, guia CVX e dedicado a ministérios sacerdotais.
Debilitado na saúde foi, em junho de 2022, para a enfermaria da residência da Faculdade de Filosofia, em Braga, onde faleceu no dia 10 de Julho de 2022.
Testemunho
“O mais importante é fazer Memória”
O Padre António Costa e Silva, rosto sereno, sorriso afável, olhar profundo e de palavras medidas de silêncios, francas, refletidas, …
Como guia CVX, ou como Sacerdote nas homilias, enquanto pensava conseguíamos perceber que saboreava internamente os ecos das partilhas ou a palavra de Deus.
Aquando da partida de Évora, na sua primeira passagem por cá, dizia-nos: “Não se esqueçam de fazer memória. O mais importante é fazer Memória”. Na altura pensei que se referia a si próprio. Só mais tarde compreendi este apelo: referia-se a Jesus, à Eucaristia.
O Padre António, homem da Serra, temperado pelo sol e pela neve, perante as misérias deste mundo revelava um coração cheio de compaixão, um coração que seguia e servia o Senhor.
Muito obrigado Padre António.
Cecília Gonçalves
Évora, 11 de Julho de 202
Testemunho
A missão estava em primeiro lugar
O P. António chegou a Évora, pela sua segunda vez, em Setembro de 2017. Tinha aqui vivido e sido superior da comunidade entre 2001 e 2008. Era, por isso bastante conhecedor da realidade alentejana e eborense, em particular.
O P. António era uma pessoa calma e muito senhor dos seus ritmos. Das coisas que mais recordo dele era a sua presença assídua e serena na comunidade. Estava sempre disponível para ajudar. Era com muito gosto, e foi um grande testemunho para mim, a atenção que ele dava à comunidade através da preparação diária da oração da comunidade, depois do almoço. Guardo também com muito carinho o seu cuidado diário no colocar a louça, depois do jantar, na máquina de lavar. Dizia sempre: deixem estar que eu faço. Podes ir.
Era também um grande conversador, interessava-se muito pelas coisas que aconteciam no nosso país e nos ministérios de cada um, e estava também sempre disponível para algum conselho. A ele recorri muitas vezes em que tinha alguma dúvida pastoral.
Enquanto pôde acompanhou espiritualmente alguns grupos de CVX e pessoas. Era um homem que gostava de estabilidade, muito cumpridor dos seus horários, mas ao mesmo tempo muito compreensivo sempre que os outros tinham outros afazeres.
Oh filho!… dizia ele tantas vezes em que se dirigia a mim. Não foi um pai, mas foi um grande companheiro de missão. Compreensivo, afável. Para ele a missão estava em primeiro lugar.
Fernando Ribeiro, sj
Testemunho
Uma pessoa…estrela…
Quando recebi a noticia da morte do P. Antonio Costa e Silva brotou em meu coração, por um lado a surpresa, pois não sabia que se encontrava doente, já que nestes últimos anos não tive ocasião de encontrá-lo; por outro, uma ação de graças a Deus por ter tido a graça de conhecê-lo e de partilhar uma boa parte do meu caminho como religiosa hospitaleira com ele.
Uns dias mais tarde, quando tentava escrever uma palavras sobre ele, recordei um livro da psiquiatra espanhola Marian Rojas Estapé, intitulado “Encontra a tua pessoa vitamina”, entendendo por pessoa vitamina aquelas pessoas que conseguem ajudar-nos a tirar de dentro de nós o melhor que somos y temos, aquelas que nos inspiram e apoiam, contribuindo assim até para melhorar o nosso sistema imunitário.
No maravilhoso e não fácil mundo das relações humanas, dos encontros que marcam a vida, podemos ter a sorte de encontrar a nossa “pessoa vitamina”, ou utilizando outras imagens, a nossa “pessoa oásis”, a nossa “pessoa luz”, a nossa “pessoa caminho”, a nossa “pessoa abraço”, etc.
Pensando na imagem que melhor descreveria os cerca de 15 anos que tive ocasião de relacionar-me com o P. Antonio, recordei uma de que gosto muito e penso poder aplicá-la a este “companheiro de Jesus” e em Jesus. É a estrela… para mim o P. Antonio foi uma dessas “pessoas estrela” que guiam e orientam os passos no caminho, que iluminam na noite e ajudam a ver para além do que se vê, que se fazem discretamente presentes, que recordam a nossa essência de “constelação de Deus”.
Uma “pessoa estrela”, que guia e orienta, indicando que só Jesus é o caminho, caminho para todos, em todas as formas de vida cristã, mas de forma especial para todos aqueles e aquelas que nos entregámos a Ele nas distintas formas de vida consagrada. Nas suas conferencias, exercícios espirituais, acompanhamento espiritual, deixava marcas de um profundo conhecimento da pessoa humana; recordo as suas referencias à grafologia, como uma das formas de acesso ao mistério de quem tinha diante de si; mas também se percebia nele essa referência constante a Jesus, Senhor e Mestre, cujo seguimento era “coisa séria”, que eramos chamados a viver com gratidão, humildade e generosidade.
Uma “pessoa estrela” que ilumina e ajuda a ver mais além no entramado da vida e ajudando a descobrir essa presença, às vezes impercetível, de Deus. Nos momentos de luz y de sombra, que forjam o que somos, tinha uma particular intuição capaz de identificar e discernir os movimentos dos espíritos e do Espírito dentro de nós, com a sabedoria de quem sabe que, afinal, como ele gostava de repetir: “Deus é grande”.
Uma “pessoa estrela” com essa capacidade de recordar que a nossa essência é “ser de Deus” e que o importante neste vida é “buscar a sua vontade”, descentrando-nos de nós mesmos e das “nossas vontades” para buscar o Senhor e o seu querer. Se percebia que, desde a sua identidade de “companheiro de Jesus”, o seu horizonte era ajudar a todos, segundo o espirito dos Exercícios a “preparar e dispor a alma, para tirar de si todas as afeições desordenadas e, depois de tiradas, buscar e achar a vontade divina na disposição da sua vida para a salvação da alma” [EE 1].
Dou graças pela vida, vocação e ministério do P. António, por ter sido “pessoa estrela” na minha vida e na vida de tanta gente que ele foi encontrando ao longo do seu passo por esta terra. Agora, em Deus, peço que interceda para que sejamos também “pessoas estrela” na vida daqueles com quem nos cruzamos nos caminhos da vida.
Ir. Anabela Carneiro, Hospitaleira do S. C. de Jesus