Ir. Rogério Leal
28.18.1939 – 12.02.2024
Biografia
Rogério Leal nasceu em Santa Maria de Lamas, no Distrito de Aveiro, no dia 28 de agosto de 1939, numa família de 17 irmãos. Após dois anos como Postulante em Cernache, entrou na Companhia de Jesus no dia 7 de setembro de 1957, em Soutelo. Depois dos dois anos de Noviciado, fez os primeiros votos no dia 8 de setembro de 1959 e continuou em Soutelo, como Ajudante do Cozinheiro.
Em 1962 foi destinado ao Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache, como Cozinheiro, tendo permanecido aí até 2020, com uma breve passagem pela residência da Lapa, entre 1966 e 1969. Fez os Últimos Votos no dia 2 de fevereiro de 1973, em Cernache.
Exerceu a arte culinária, com muita dedicação e competência, até 1985. Acumulava, também, atribuições de comprador e despenseiro. Exerceu estes cargos com muita responsabilidade sobretudo quando o Colégio se abriu aos alunos da região e ultrapassava os 600 alunos.
Em 1981 foi nomeado Administrador da Casa de Exercícios de S. José situada na quinta de Cernache e, em 1988, nomeado seu Diretor. Preocupou-se por apetrechar bem a Casa de Exercícios, de estilo antigo, adaptando-a, progressivamente, de modo a oferecer as melhores condições para os retirantes se sentirem confortáveis.
Em 2007 o Noviciado que estava na Casa se Nª Sª do Loreto, em Coimbra, passou para a Casa de Exercícios de S. José e o I. Rogério deixou de ser o Diretor. Em 2014 passou a fazer parte da Comunidade do Noviciado e continuava a colaborar na Administração do Colégio. A saúde ia-se debilitando com a idade e algumas moléstias que foram aparecendo. O Catálogo de 2021 atribui-lhe a missão de rezar pela Igreja e pela Companhia. Em 2022 foi para a Enfermaria do Colégio de S. João de Brito, em Lisboa. Agravando-se o seu estado de saúde, faleceu no dia 12 de fevereiro de 2024.
O I. Rogério era um bom religioso, muito dedicado à sua missão, amigo de todos e pronto a servir.

«Cada um é cada qual e deve ser tratado consoante… Isto é: Cada um é como é, ninguém se faz nem ninguém nasceu feito. Deus é que faz as pessoas e cada um tem o seu feitio, não é? A gente vai aprendendo também com a experiência da vida, vai aperfeiçoando a sua maneira de ser, de tratar e d aceitar os outros e de se aceitar a si mesmo… Porque ninguém se faz sozinho…»1
1 Entrevista do I. Rogério ao Boletim “Jesuítas – Informação aos amigos”, janeiro 2002.
Testemunho
Conhecidos de há muitos anos, convivemos na mesma comunidade onze anos. Quando cheguei a Cernache insisti com ele em que fosse até ao Colégio, pois, embora não tivesse nenhum cargo concreto, a sua presença era muito apreciada e ainda podia prestar pequenas ajudas. Resposta pronta: «fui saneado do Colégio»; rimos e continuou a caminhar todos os dias até ao CAIC.
O seu bom humor, que lhe saía com tanta espontaneidade, era uma das suas imagens de marca. Muitos dos ditos eram frases que ele apanhava de outros a que dava um tom humorístico e aplicava na altura oportuna. Esta sua boa disposição muito contribuía para a alegria da Comunidade.
Era um homem de uma grande sensibilidade perante situações de sofrimento de outras pessoas. Tocou-me muito vê-lo chorar no falecimento de um companheiro jovem; e, por várias vezes, o vi de lágrimas nos olhos. Discreto na sua relação com o Senhor tinha uma profunda fé. Mais de uma vez o encontrei no quarto sentado à secretária com a Bíblia ou o missal aberto. Amava a Companhia e foi para mim um bom testemunho de obediência e desprendimento.
Para além dos companheiros os seus amigos eram pessoas que trabalhavam na Comunidade ou no Colégio. Tinham-lhe muita amizade e por isso o convidavam, pois gostavam da sua presença amiga e alegre.
José Carlos Belchior
Testemunho
Gostamos de pensar que o irmão Rogério, finalmente, conseguiu arranjar forma de se desenvencilhar do cinto que o prendia à cadeira, isto é, a leveza da graça que nos leva ao Pai.
“É científico!”: a seriedade da vida não é sinónimo de ânimo pesado, como se o “jugo suave” de seguir o Senhor, na Companhia, nos devesse tornar homens demasiado sérios para o que é cómico. Se não há nada demasiado humano para ser divino, também não há nada demasiado sério para ser assim tão esmagador que impeça uma graça (e a graça). Talvez a habilidade jocosa do irmão Rogério possa servir de metáfora para a nossa fé e aligeirar qualquer peso inevitável a suportar na vida. Quer queiramos quer não, o mau espírito quererá sempre fazer-nos acreditar que esta vida é absoluta! Ser capaz de uma graça pode bem ser um ato de fé, de que, afinal, este mundo não é assim tão absoluto que não se lhe possa trocar as voltas.
O tesouro há de estar noutro lado, “logicamente!” E isso era visível na sua bondade de criança que trazia um sorriso rasgado sempre que entrava na capela, sinal de um coração bom!
Por detrás da graça (e da desconversa), houve sempre espaço para uma atenção delicada, um queijo comprado, uma receita de pudim por dar, e uma certeza daquilo que é o papel de Ministro numa casa da Companhia – agora, podemos voltar a ouvir claramente, a partir da misericórdia do Pai, que “o papel do Ministro é cuidar da comunidade, é cuidar de cada membro da comunidade”. “E é mesmo!”
António Ferreira da Silva, Eduardo Amaral e Francisco Montellano