Segunda Semana

Na Segunda Semana, depois de reconhecermos os efeitos destrutivos do pecado em nós mesmos e no mundo que nos rodeia, somos convidados a entrar na vida de Jesus, na Sua maneira de estar e agir no mundo.

A Segunda Semana dos Exercícios Espirituais centra a nossa atenção na pessoa de Jesus. Depois de reconhecermos os efeitos destrutivos do pecado em nós mesmos e no mundo que nos rodeia, somos convidados a entrar na vida de Jesus, na Sua maneira de estar e agir no mundo. Todo o percurso da Segunda Semana – que, na verdade, são 12 dos 30 dias dos Exercícios – tem como objectivo o “conhecimento interno de Jesus, para que mais O ame e O siga” (EE 104).

 

O convite

A Segunda Semana inicia-se com o Chamamento do Rei Eterno. Nesta pequenina parábola, é-nos oferecida a comparação entre um rei humano, que nos convida a tomar parte na sua aventura e conquista, e Jesus, o Rei Eterno que nos quer como companheiros na Sua missão, na pena e na glória. Neste pórtico da Segunda Semana, Inácio quer provocar a nossa imaginação desmontando as nossas idealizações. Talvez hoje a imagem de um rei não nos seja tão próxima como era no séc. XVI, mas o seu objectivo é mostrar-nos a proximidade de Deus, que nos convida a construir com Ele o Reino, na pessoa de Jesus.

Este convite torna-se mais concreto na Contemplação da Encarnação. Deus escolhe enviar ao mundo o Filho para acabar com a violência, com o ódio e o egoísmo. Somos convidados a olhar o mundo do ponto de vista da Trindade, com o mesmo olhar de misericórdia e ternura que nos encontrou na Primeira Semana. A Anunciação a Maria é a concretização deste Amor misericordioso num cenário humilde e despojado.

 

Ver as pessoas, ouvir o que dizem, considerar o que fazem

Atravessado o pórtico, mergulhamos na vida de Jesus. Os sucessivos episódios e encontros da vida pública servem de imaginário para este encontro com o Senhor. Nas várias cenas, Inácio propõe-nos os mesmo três pontos: ver as pessoas, ouvir o que dizem, considerar o que fazem.

A contemplação não é um simples exercício de composição mental ou de análise abstracta; é um convite a estar ali com Jesus, seja como Seu interlocutor – cego, leproso, fariseu… – ou como um dos seus amigos que O acompanha. Mais do que os discursos, Inácio privilegia as cenas de curas, porque mostram Jesus não apenas em palavras, mas em gestos, e assim promovem um encontro total com Jesus a partir do coração.

 

O Dia Inaciano e a eleição

O Dia Inaciano está no meio da Segunda Semana como uma espécie de diapasão, que nos retrata, de uma forma mais operativa, o estilo de Jesus. As suas três meditações compõem um imaginário muito rico, capaz de tocar profundamente toda a minha vida – história, desejos, sonhos, medos – a fim de que eu possa ser configurado integralmente pela pessoa de Cristo e assim Lhe possa responder.

A Meditação das Duas Bandeiras dirige-se à inteligência. Jesus, formoso e gracioso é contraposto ao Diabo, horrível e tirânico. Opõem-se também os critérios de decisão a que levam: o Diabo leva-nos à procura de riquezas, depois à fama e, por fim, à soberba; Jesus conduz-nos pelo caminho da pobreza, das humilhações e da humildade. Neste passo dos Exercícios, é-nos posta com muita clareza a meta a perseguir com as suas especificidades – sem dourar a pilula, porque a humildade só chega pelas humilhações!

Depois de estabelecida a meta, é preciso considerar os meios a usar: chegamos à Meditação dos Binários, dirigidos à vontade. Aqui, a parábola é a de três grupos de homens a quem é oferecido um tesouro e a forma como eles o preferem a Deus – o primeiro grupo nem ousa colocar a pergunta, fica fechado em si; o segundo quer preservar o tesouro, levando Deus ao seu interesse; o terceiro grupo que a vontade de Deus e dispõe do tesouro apenas se for essa a Sua vontade. Estamos a falar das formas concretas como procuramos a vontade de Deus; conhecendo a Sua vontade, o Seu estilo, é preciso colocar os meios para isso, mesmo que isso seja por vezes penoso e difícil. Não chega conhecer Deus ao longe, há-que tomar opções concretas para nos aproximarmos d’Ele!

O terceiro momento, que dá sentido aos outros dois, toca o coração, a profundidade do afecto: os Modos de Humildade. Depois de estabelecida a meta e aferidos os meios, chegamos ao lugar da comunhão. Aqui, as imagens dão lugar o sentimento profundo de união a Cristo, abandonado à Sua vontade e estilo. Pede-se a graça de não nos afastarmos dele e, se assim for a Sua vontade, de viver como Ele, em pobreza e humildade.

A contemplação de Jesus não serve apenas para ficar “na nuvem”. Conhecer Jesus leva-nos a uma mudança de vida, que nos torna cada vez mais Sua imagem e semelhança. A Segunda Semana é o ambiente em que Inácio propõe a eleição. A partir da pessoa de Jesus, somos convidados a escolher o modo concreto como a nossa vida se pode configurar mais à Sua vontade. A eleição é a forma concreta de colocar a minha vida diante deste estilo de Jesus – dos Seus critérios, dos meios adequados para O procurar e do Seu coração – para perceber como é que a minha vida concreta pode ser uma resposta ao Seu convite. Pela contemplação das diferentes cenas da vida do Senhor, em diálogo com as diferentes cenas da minha própria vida, posso ir percebendo de que maneira concreta Jesus me chama a tomar parte com Ele, na construção do Seu Reino.

 


Imagem: Vladislav Babienko (Unsplash)