«No dia 10 de junho de 2020, na Nigéria, o académico James Nwoye Adichie morreu subitamente» (1). Era pai de 6 filhos, entre os quais Chimamanda, autora deste livro.
Notas sobre luto conta-nos o modo como esta filha viveu a morte do pai. Em jeito de diário, Chimamanda põe a descoberto a dor da perda e mostra-nos como foi aprendendo a lidar com a morte do pai – pois só «sabemos como fazer o luto no momento em que o fizemos» (2).
No dia 10 de junho de 2020, o mundo vivia em plena pandemia e tudo ainda se encontrava fechado. A família Adichie, como tantas outras, reunia-se por Zoom, conectando-se um filho de Inglaterra, dois de Lagos, três dos Estados Unidos e os pais de Abba, a sua terra natal.
Não pretende este livro, de modo nenhum, ser um livro de auto-ajuda ou qualquer outra lição sobre como viver em tempos de perda. Chimamanda mostra-nos apenas como viveu a morte do seu pai e que não há duas formas iguais de estar de luto. Estas notas transparecem bem a verdade com que a autora escreve, aliando a dor e paz com uma capacidade de escrita literária que a caracteriza.
Se o tempo que se segue à morte de alguém querido é um tempo que evoca as memórias mais importantes e as mais banais, é também um tempo que exige de cada pessoa de modos surpreendentes. A autora encontra-se a recordar os jogos de Ludo com o pai, a explicar o que é a tristeza à filha e a lutar contra a evidência que é escrever sobre o pai no pretérito.
O luto é cada um que o faz, mas esse caminho partilha-se. Notas sobre o luto apresenta-nos o caminho de Chimmanda que nos pode ajudar a fazer o nosso. Um caminho ao qual também a autora teve que voltar:
«Um amigo envia-me uma frase do meu romance: ”A dor era a celebração do amor, quem sentia a verdadeira dor do luto tinha a sorte de ter amado.” É tão estranho que me seja extraordinariamente doloroso ler as minhas próprias palavras» (3).
Lido na edição D. Quixote
https://www.wook.pt/livro/notas-sobre-o-luto-chimamanda-ngozi-adichie/24737703
(1) contracapa do livro
(2) p. 103
(3) p. 80