Um dos momentos altos e mais esperado nos campos é a tradicional caminhada. Muitos acreditam que é o ponto de viragem de um campo. Uma atividade exigente, nem sempre fácil, por vezes até dolorosa mas que, por algum motivo, nos coloca num maior contacto connosco mesmos, nos deixa mais próximos uns dos outros e mais próximos de Deus. Todos somos capazes de recordar o regresso ao campo como um momento intenso onde, apesar da fatiga, sabemos que o nosso coração está diferente, mais aberto, mais disponível para acolher tudo o que Deus nos quer oferecer. Hoje quero desafiar-vos a iniciar esta caminhada que a Igreja nos propõe, a caminhada da Quaresma, um caminho de preparação para melhor viver e acolher o mistério Pascal.

A partida: as cinzas

Geralmente antes de começar a caminhada aparece um animador com um cartaz enorme a dizer o que tens de levar, as coisas que tens de colocar no saco-cama, o que tem de ir na mochila de equipa, sem esquecer o protetor solar e o chapéu. Neste início de caminho a Igreja dá-te um sinal: as cinzas na cabeça. Estas servem para te recordar do caráter provisório de tudo o que é superficial. Um sinal que te convida a colocar o coração no que é verdadeiramente essencial, no que é eterno, o Amor de Deus. Tudo o resto: os bens, os sucessos, o poder ou a fama, tudo é pó, tudo passa!

Três exercícios para o caminho: Jejum, Caridade e Oração

O Jejum liga-nos a nós mesmos. Não se trata apenas de não comer carne à sexta-feira, mas de abdicar dos excessos que me poluem o coração para me centrar no que realmente importa. Do que é que realmente precisas de jejuar nesta quaresma?

A caridade aproxima-nos dos outros. Ajuda-nos a sair do nosso egoísmo para sermos mais atentos aos outros. Por isso procura fazer ações particulares e concretas de caridade neste caminho.

A oração aproxima-nos de Deus. É o exercício fundamental para sabermos reconhecer os nossos limites e as nossas falhas, para nos reconhecermos necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Por isso tenta dedicar um tempo especial a Deus em cada dia do teu caminho e procura celebrar o sacramento da Reconciliação.

A chegada: o Tríduo Pascal

A celebração do Tríduo Pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus, é o ponto culminante do Ano Litúrgico e do nosso caminho. Participar nas diferentes celebrações do Tríduo ajuda-nos a recordar, a viver e a celebrar o Amor de Deus por nós. Será que este caminho é difícil de percorrer? Sim, é difícil, mas conduz à meta. Começa com as cinzas, mas leva-nos no final à Luz da noite da Vigília Pascal, a descobrir que com Jesus a nossa vida não se fica pela cinza, mas brilha com uma maior intensidade. Se nos entregarmos ao Senhor com as nossas fragilidades, se seguirmos com coragem o caminho do amor, seremos transformados nos nossos corações.

Carlos Miranda sj