Natal, em Timor, é um dos “loron bo’ot” (dias sagrados e importantes) em que as famílias se reúnem. No tempo Natal, as pessoas buscam voltar para as suas origens. Por tanto, muitos, por exemplo, que vivem, estudam e trabalham em Díli, a capital, regressam para as suas terras de origens para festejarem este grande dia com a família. A família, para os timorenses, inclui a família alargada. Para entender este conceito da família alargada, é preciso conhecer o que é “Uma Lulik” ou a “Casa Sagrada” que enraíza os timorenses na sua identidade mais profunda como um povo. Natal é tempo de família.
Mas, como é o Natal diferente dos outros dias importantes? O que distingue Natal dos outros dias importantes é que é uma festa de recomeço na vida. Por esse motivo, a novidade é uma marca importante deste dia festivo. A família tenta celebrar este tempo de nascimento do Deus-Menino no Espírito desta novidade. Verifica-se este nas preocupações que muitos manifestam em comprar vestidos novos para o dia do nascimento do Senhor. As pessoas demostram o seu respeito ao Deus-Menino no seu melhor porque querem que o Senhor lhes encontre no seu melhor. É um tempo do ano em que, de crianças aos adultos, nas cidades até nas áreas mais remotas do país, as pessoas se preocupam com vestidos novos para assistirem a missa do galo ou a do dia 25. Para esta gente, o Senhor merece o melhor que têm.
Porém, o Natal não se inaugura só com a novidade. A um nível mais profundo, o Natal traz uma esperança renovada para a família. A novidade que se inspira da vinda do Senhor tem que tocar profundamente as relações familiares. Se houverem alguns desentendimentos durante o ano entre membros da família, entendida como mencionada, devem-se resolver na família. Por isso, Natal é um tempo de “monu-ain” e de “fo-liman ba malu”. “Monu-ain” literalmente significa ir cair-se ou ajoelhar diante de uma pessoa com quem tenho problemas. Este ato expressa que um, com toda a humildade do mundo, pede desculpa pelas ações de possam criar desordem e desarmonia entre famílias.
Por sua parte, o “fo-liman ba malu” literalmente significa dar mãos aos outros, que expressa a ajuda mútua entre membros da família e amigos. Com isso, as relações complicadas se emendam e, assim, surge uma nova relação marcada pela reconciliação e pela paz na família. Ao chegar, o Príncipe da paz deve encontrar-se com uma família unida e reconciliada.
Nessa reunião, as mães ocupam-se preparando refeições. Partilham entre elas algumas receitas para bolos e doces. Mas, Natal não é só uma celebração exclusivamente na família. É também um momento para manifestar a solidariedade com outros. Ou seja, é um momento de compartir com outros o que um tem. As mães, colaborando com os vizinhos, preparam os bolos. Logo, essas pedem aos filhos mais pequenos para distribuem aos vizinhos os bolos que já prepararam. O natal é um tempo solidário porque Deus, na Sua encarnação, é solidário com o mundo, vindo para estar com os homens e oferecer-lhes a Sua salvação.
Para terminar, em Timor, as famílias se reúnem no Natal por motivos como celebrar um novo começo que traz novidade. Esta novidade necessita um terreno fértil para que se enraíze. Este terreno é a reconciliação entre membros de família que têm tido conflitos entre eles. Finalmente, os que querem acolher este Deus solidário no Natal têm que manifestar esta solidariedade com os outros começando com os mais próximos.
P. Isaías Caldas, jesuíta timorense