Uma família para Deus

Hoje, olhando o Menino, à semelhança de Ana e Simeão, também nós nos vamos rever e maravilhar n’Ele. Todos nós somos recebidos uns dos outros, a partir de um Deus que é Pai, doador de Vida. De um Deus que é irmão, outorgador de fraternidade. De um Deus que é Espírito, criador de comunhão.

Vamos ao templo de Jerusalém, acompanhando Jesus e os Seus pais, que O vão apresentar ao Senhor. Ao ir com eles, notamos uma marca, a da pobreza. A oferta que levam consigo, um par de rolas ou duas pombinhas, é o que está determinado na lei, relativamente aos pobres. Os pais de Jesus, Maria e José, são judeus com uma vida muito simples. No templo, encontram-se com Simeão e Ana, dois anciãos que, de alguma forma, recolhem as esperanças, os anseios de todo o seu povo, de poder ver a Deus.

Estão consolados. O seu Deus, em quem põem toda a esperança, é fiel. São, também, estes dois anciãos, imagem dos justos de Israel, que, contra toda a desesperança, sabem esperar no Seu Senhor. Eles, ao verem o Menino, revêem-se e falam a Maria e a José de como aquele Menino é, para eles e para todo o povo, a expressão maior da acção de Deus em seu favor.

Ao tomar o Menino em seus braços, ao olhá-Lo tão de perto, ao contemplá-Lo, Simeão e Ana maravilham-se. Estremecem com o Seu olhar. O Seu reflexo ilumina-os. Jesus fala-lhes ao coração, fá-lo inflamar-se. Olham para a sua vida, avançada em idade, e percebem que nada de maior, de mais grandioso, poderão testemunhar. No seu coração, experimentam a Paz e a Alegria, que sabem só poder ser dom de Deus. Quantas vezes, com muitos outros, se dirigiram a Deus e oraram: “Oh se rasgásseis os Céus e descêsseis”. Não foi mais uma prece, desaparecida no silêncio de Deus. Diante dos seus olhos, têm a resposta. A fidelidade de Deus está ali, naquele Menino, naquela carne, tangível. Deus, no meio de nós, um de nós.

Este amor, que experimentamos de Deus, ao perceber que Ele quer que sejamos da Sua família, impele-nos a procurar agir com os outros, à Sua imagem e semelhança. Nas palavras afectuosas e misericordiosas que temos, nos gestos ternos e próximos que nos alegram, revemo-nos n’Ele. Reconhecemo-nos como parte Sua, somos da Sua raça, expressão do Seu amor. A caridade afigura-se-nos como regra natural do nosso viver. Torna-se inspiradora, no modo como nos relacionamos no dia-a-dia. Os sentimentos mais nobres, que experimentamos, revelam-nos como Deus nunca deixa de nos acompanhar. Do primeiro ao último momento da nossa existência, está sempre connosco.

Jesus, Maria e José, a família de Nazaré, são expressão de como Deus, no Seu inexcedível amor por nós, quis para o Seu Filho uma carne, um corpo, e também uma família. O amor revela-se, assim, como a concretização mais profunda do agir de Deus. Um amor que se vai realizando, de geração em geração, pelos séculos dos séculos. Um amor que a todos nos faz ser. Somos uns para os outros e uns com os outros; todos recebidos de Deus. Hoje, olhando o Menino, à semelhança de Ana e Simeão, também nós nos vamos rever e maravilhar n’Ele. Todos nós somos recebidos uns dos outros, a partir de um Deus que é Pai, doador de Vida. De um Deus que é irmão, outorgador de fraternidade. De um Deus que é Espírito, criador de comunhão.

P. Sérgio Diz Nunes, sj