O amor só se dá

«Todos comeram e ficaram saciados»

“Dai-lhes vós de comer”. O Seu estilo, a Sua maneira de proceder, é-nos sugerido. O servo há-de assemelhar-se, em tudo, ao seu Senhor.

Continuamos a aproveitar o tempo quente do Verão e as suas noites aprazíveis, para dar largas aos sonhos que o nosso coração transporta. O principal sonho, e que se encontra sem excepção em todos os corações, é o de se ser amado. Normalmente, cada um pensa em encontrar quem o ame, quem lhe dê um lugar confortável na vida, quem lhe assegure segurança e confiança no futuro.

O nosso coração faz-se à vida, movido por este sonho, por este desejo, por esta sede. Dia após dia, do primeiro ao último momento do nosso viver. O Senhor sabe bem deste sonho. Desperta-nos e diz-nos: “Prestai-Me ouvidos e vinde a Mim; escutai-Me e vivereis”. Ao mesmo tempo, não mata o sonho, mas alarga-o, provocando-nos: “Vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei.” Uma forma criativa de dizer, a todos nós, que o que procuramos não pode ser comprado. Trata-se do Seu amor, que não é comercializável, que não é negociável, mas que é dom absoluto, totalmente entregue, a quem o sonhe, a quem o deseje. Ele saciará a nossa sede, Ele satisfará a nossa fome, Ele responderá à busca do nosso coração.

Este amor, que buscamos, tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. Neste Homem, revela-se o amor de Deus por nós. Neste Homem, espelha-se a forma de Deus amar. Neste Homem, concretiza-se uma aliança infinita de amor infinito: de sempre e para sempre. A grande declaração do amor de Deus, por nós, apresenta-se como comunhão connosco. Em tudo igual a nós, excepto no pecado. É o amor na sua marca mais desejável, a eternidade. Todos nós queremos ser amados, não momentaneamente ou por temporadas, mas sempre, em todos os momentos, sem fim. Deus responde a este nosso anseio natural, pois é marca do Seu acto criador. Nunca deixará sozinhas as Suas criaturas, os Seus filhos. Acompanhará, sempre, com o Seu amor, a obra das Suas mãos. São Paulo gritará: “nada nos poderá separar deste amor”.

Nenhuma criatura tem força para quebrar este amor. Temos a liberdade de o recusar, de lhe virar as costas, de vivermos fechados em nós, mas não temos a capacidade de fazer com que Ele deixe de nos amar. Nada, nem ninguém, é mais forte e mais gratuito que o amor de Deus, por nós.

A gratuidade de Deus, que tardamos a acolher porque estamos habituados a viver numa lógica do “dou para que dês”, é proposta por Jesus, aos Seus discípulos: “Não precisam de se ir embora, dai-lhes vós de comer”. O Seu estilo, a Sua maneira de proceder, é-nos sugerido. O servo há-de assemelhar-se, em tudo, ao seu Senhor. Dar a quem não pode dar, nem sequer retribuir. Inspira-nos a ser, à Sua imagem e semelhança, bênção para todos aqueles que connosco se cruzem. Convida-nos a fazer nosso o Seu modo de amar. O caminho até lá é a vida de cada dia, que Ele nos oferece. Ir por ela deixando-nos tocar, compassivamente, pelas necessidades e dores dos nossos contemporâneos. A sede do nosso coração, de ser amado, será finalmente saciada. O sonho de encontrar alguém que nos ame descobrirá a sua alegria, no amar sem esperar recompensa.

P. Sérgio Diz Nunes, sj
“In Notícias da Covilhã Covilhã 30  de julho 2020”