O tempo vai passando e os acontecimentos recentes vão deixando o tom escuro, para, pouco a pouco, irem ganhando claridade. Já é mais do que um rumor, a certeza de que o Senhor está vivo e caminha com todos. A ressurreição de Jesus ilumina, em retrospectiva, a Sua vida. Começa a ser claro, para muitos, que a Sua vida ganha importância. Nela manifesta-se um estilo diferente, novo no modo de viver. Há ali qualquer coisa de totalmente distinto que fascina, que atrai, que convida a viver da mesma forma. São já muitos, os que falam abertamente de Jesus. Do que disse e do que fez. E essa recordação, ainda que por vezes dolorosa, manifesta uma memória agradecida.
Jesus é o homem que passou fazendo o bem, nas palavras de São Pedro. Essa é a Sua marca, o Seu modus operandi. Jesus, aos sofrimentos padecidos, aos insultos acatados, não teve outra resposta a não ser o silêncio. Jesus não respondeu ao mal com o mal. Ele já tinha dito que não se podia a alimentar a espiral de violência, da lei de Talião, do olho por olho, dente por dente. O caminho que propõe, a resposta que sugere, é dar a outra face. É a única forma de quebrar a lógica do mal, de mostrar a força do Reino. No Seu modo de viver a violência, o sofrimento, as provações, está uma proposta de vida também para nós. Viver fazendo o bem e aceitando com longanimidade os padecimentos da vida, iluminará a nossa existência e a dos que nos são próximos.
A amizade, uma das expressões mais sublimes do amor, é reciprocidade. Sou amado, quero amar. Tratam-me bem, quero tratar o outro da mesma forma. Por isso, a pergunta surge naturalmente: “Que havemos de fazer irmãos?” Olhar agora para a vida de Jesus, acolher o testemunho de Pedro e dos outros discípulos, leva-nos, necessariamente, a este desejo de fazer qualquer coisa. Pedro, que na sua folha de serviço tinha a marca da deserção, da traição, não se deixa fechar aí. A sua memória de Jesus fá-lo ir mais longe e escolher o caminho com futuro. O perdão, a que se abriu, aceitando cruzar o olhar com Jesus, diz-lhe que o caminho não é o remorso. Não é lamentar sempre o passado, não conseguindo sair dali. Não. O caminho é olhar em frente. Com confiança no Senhor, no Seu amor, imensamente maior do que as nossas faltas. O futuro é voltarmo-nos cada vez mais para Ele e ir fazendo nosso o Seu estilo de vida.
O fazer nosso o Seu modo de viver não é automático. Não se passa a viver da mesma forma, de um dia para o outro. Exige tempo, persistência, confiança. Jesus ensina-nos o melhor modo de nos aproximarmos, de nos assemelharmos, de continuarmos o Seu modo de viver. O segredo está na relação, na amizade com Ele. Esta é a porta de entrada para um estilo de vida, em tudo semelhante ao de Jesus. Ele é, de facto, a porta para um novo tipo de vida. Usa a imagem do pastor e da sua relação com as ovelhas, para nos dizer que é importante conhecer a Sua voz. Se formos ouvindo
Jesus, se formos aprendendo a reconhecer a Sua voz, teremos cada vez mais gosto em escutá-Lo, em seguir o que nos diz. Na Sua Palavra está a Sua Vida, na Sua Vida está a nossa salvação.
P. Sérgio Diz Nunes, sj
“In Noticias da Covilhã 30 de abril 2020”