QUARESMA

O Evangelho abre-nos uma janela para o íntimo de Jesus. O fascínio do poder, da glória e do compromisso com o mal, também o tocaram como uma possibilidade.

Reparemos em Jesus. Antes de dar início à sua vida pública, retira-se para o deserto. É o lugar do silêncio e da compreensão das coisas à luz de Deus. Ali se purificam os desejos e se fortalece a vontade. Jesus prepara-se assim. Reza. Jejua. A sobriedade ajudará a ter presente o essencial da sua vida, a vontade do Pai. Mas o silêncio pode ser duro. Jesus é tentado e posto à prova.

E se usar o seu poder para benefício próprio. Porque não fazer das pedras pão, já que tem fome? E se fizesse alguma coisa de espectacular – lançar-se, por exemplo, do alto do templo, sem que nenhum mal lhe acontecesse – para que reparassem nele e o admirassem? E porque não ceder – só um bocadinho, que importância teria? – aos poderes do mundo para realizar, mais rapidamente, o Reino de Deus? Afinal, não foi para isso que veio ao mundo?

O Evangelho abre-nos uma janela para o íntimo de Jesus. O fascínio do poder, da glória e do compromisso com o mal, também o tocaram como uma possibilidade. Porém, Jesus não cede ao encanto do mais fácil. Para si, escolhe a pobreza, a humildade, o serviço. Não quererá outro caminho. É assim – só assim – que realizará o Reino de Deus entre nós. E não haverá cedências. Antes perder a vida.

Será possível viver assim, como Jesus? Pobreza, humildade, serviço: não é opção para fracos?; não será demasiada ingenuidade, num mundo tão astuto? Sim, parece difícil. Mas o Senhor mostra-nos que é possível. E repete-nos, uma e outra vez: “quem quiser seguir-me…”

Pe. José Frazão Correia, sj