Após o jantar da primeira noite, o Pe. Sérgio Diz Nunes informou-nos que, a partir daí, seria bom permanecermos em silêncio durante os três dias de exercícios espirituais. Estávamos no Seminário do Verbo Divino, no Tortosendo, e eu tinha correspondido à sugestão de amigos para, finalmente, fazer os meus primeiros dias de exercícios, segundo o modelo preconizado por Sto. Inácio de Loyola. Respondi afirmativamente porque, por um lado, tinha apreciado a entrada do Pe. Sérgio como pároco de S. Pedro, avançando já para um trabalho de exigência a vários níveis. Ainda não tinha “aquecido o lugar” e já tinha marcado várias sessões de exercícios espirituais ao longo do ano e com ampla divulgação na paróquia. Por outro lado, achei que já era tempo de responder afirmativamente a convites deste género. Há muitos anos atrás, tinha frequentado retiros, doutro tipo, que não me tinham tocado de forma sensível, daí as minhas reticências.
O ser em silêncio, despertou em mim, inicialmente, alguma estranheza, mas fui constatando que o processo resulta. Ao fim de algum tempo, os “ruídos” de sons, imagens e sensações feitas por esta nossa sociedade de pressas, de pressões e de angústias inerentes vão-se aquietando e perdendo preponderância. Aos poucos, paulatinamente, vamo-nos disciplinando, “ginasticando”, na leitura da Palavra, na meditação e na escuta de Deus.
Como foi a primeira vez, obviamente, não tenho termo de comparação, mas apreciei muito o esquema usado pelo Pe. Sérgio, com quatro momentos de reflexão e oração por dia, dois pela manhã e dois pela tarde, sempre a partir de textos da Bíblia, com muitas pistas para nossa reflexão, seguindo-se a Eucaristia pelo fim da tarde e uma breve palestra após o jantar para irmos adormecer sobre os temas tratados. Ao longo dos dias, havia também a possibilidade de falarmos em privado com o Pe. Sérgio, o que me serviu, essencialmente, para novas pistas e redireccionamento das minhas reflexões e orações.
Éramos catorze pessoas. Conhecia algumas, mas outras não, no entanto, é tão interessante a ligação sentida entre todos. Apesar de não falarmos uns com os outros, sentíamo-nos fortemente ligados, pois sabíamos que estávamos todos ali para o mesmo, para crescermos na disponibilidade interior de chegarmos e vivermos a oração de Santo, Inácio “Tudo é Vosso, disponde”.
Paulo Lopes (CVX ” Os Profissionais”)