Estamos em Jerusalém num momento importante da vida de Jesus, nas vésperas da sua Paixão e Morte. Jesus tinha acabado de entrar triunfalmente em Jerusalém e a multidão tinha-o aclamado como “Aquele que vem em nome do Senhor, o rei de Israel” (Jo.12,13). Entre os que chegavam à Cidade Santa, estavam uns Gregos que vinham, também, para a Celebração da Páscoa dos Judeus. Estes devotos da Religião de Israel, aproximaram- se de Filipe e fizeram-lhe este pedido: “queremos ver Jesus”. Filipe falou deste desejo dos pagãos a André e ambos expuseram o caso a Jesus. Jesus, parece não ter ligado ao desejo daqueles pagãos e, quase misticamente, arrebatado e, em êxtase, exclama: “Chegou a Hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado” e acrescenta: “Se o grão de trigo, lançado à terra não morrer fica só, mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a vida perdê-la-á e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna”. Chegou a Hora, para Jesus, de passar deste mundo para o Pai, isto é, o tempo das palavras e dos sinais chegou ao fim e, agora, aproxima-se a Hora do último e maior Sinal: o da sua Paixão e Morte para a salvação do Mundo. Jesus, na sua Hora, explica aos Gregos em que consiste a verdadeira glória: cair por terra e morrer como grão de trigo para dar muito fruto. É a hora de Jesus. Só através da sua morte é que o Pai poderá revelar ao mundo o seu imenso amor pelos homens. E foi para isto que “Ele veio ao mundo, que esteve no mundo e que, agora, vai, de novo para o Pai.” Na Hora de Jesus, são os Gregos que se manifestam. Já não há grego nem escravo, mas homens e mulheres livres que desejam ser salvos por Cristo. Não há estrangeiros na Casa do Pai.
Na Hora de Jesus, trata-se, para todos os homens, de escolher os valores sobre os quais apostar: morrer como o grão de trigo, porque a única vida que se realiza plenamente é aquela que é consumida pelo amor. Jesus foi o primeiro a oferecer a sua vida. E nesta oferta está a manifestação da glória. A glorificação é a demonstração pública, quer para gregos, quer para judeus, que Deus é amor, contra a mentira infiltrada pela serpenta na criação, de que Deus seria avaro dos seus dons. Ser avaro dos seus dons, seria conceber a Deus como contrário ao amor. “A glória de Deus é o homem vivo”, dizia Santo Irineu. Agora Jesus diz-nos: “como Eu fiz, fazei vós também”. É a hora da glória; é a hora do maior serviço: dar a vida.
Na Grécia, tinham-se como “aristocratas” (aristoi), os homens bem-pensantes, os que tinham atingido uma posição social ou honra e prestígio Os Gregos aprenderão com Jesus que a verdadeira aristocracia, a verdadeira sabedoria, a verdadeira glória é cair por terra como o grão de trigo.
Jesus vem sim manifestar a sua glória e, por Ele, com Ele e n’Ele, o rosto de Deus é glorificado, Deus receberá a sua glória e esta manifesta-se pela glorificação de Cristo que dá a vida, morrendo na Cruz. Elevado sobre a cruz, colocado em evidência para todos os homens, o Evangelista João quer dizer-nos que esta elevação coloca Jesus acima de toda a criatura. Jesus diz: “Quando Eu for levantado da terra atrairei a mim todos os homens”, mas esta atracção não passa pelo triunfo humano, mas pelo serviço.
Guardemos na memória e no coração:
Paulo, o apóstolo repete que não há mais judeu nem grego. Todos somos convidados a ver Jesus e a olhar para aquele que pregamos na cruz. E onde estão os gregos hoje, onde estão os Judeus e onde estão aqueles que nós pregamos sobre a cruz da nossa da rejeição e da exclusão?
Queremos ver Jesus, quantos homens e mulheres que não têm fé, se dirigem a nós, crentes, para os ajudarmos a encontrar o Deus revelado em Jesus Cristo em quem acreditamos a quem entregamos confiadamente a nossa vida?
P. José Augusto de Sousa S.J.