Esta pergunta que Jesus, dirigiu aos Apóstolos e nos dirige a nós nesta quaresma, e mexe connosco: Que é que dizem por aí a meu respeito, que dizeis vós, Apóstolos e que dizes tu…, que me segues? E, claro que não basta a resposta que eu aprendi no Catecismo ou numa melhor escola de Teologia. Vale sim uma resposta que saia da experiência íntima que eu tenho adquirido com o Senhor, no silêncio interior, na oração confiante e meditativa. Só assim posso partir com o Senhor para Jerusalém e não ser obstáculo ao seu Projecto (Satanás, como queria ser Pedro, Mc. 8,33). O medo, entretanto, instalou-se no grupo.
Jesus toma então consigo Pedro, Tiago e João e sobe à montanha do Tabor para aí recuperar toda a Tradição do Povo revelada no Monte Sinai, com a Lei dada a Moisés, o legislador por excelência e, com a Mensagem do profetismo que ressoou pela boca de Elias, no Horeb. Passa, entretanto, por todo o Tabor, uma luz resplandecente, uma Glória tal que o rosto do Senhor não se pode contemplar directamente como aconteceu no Sinai com o rosto Moisés. Mas não falta a voz de Deus que ressoa por entre a nuvem que O oculta e O manifesta. A (é a transcendência e imanência divinas manifestam-se aqui no Tabor, tal como aconteceu Sinai: “ Este e meu Filho muito amado, ouvi-o… Tudo Isto fascinou de tal maneira Pedro que, sem saber o que dizia, diz a Jesus: “Senhor, façamos aqui três tendas…” Mas não. É preciso descer do monte, não fixar a tenda do acampamento e caminhar com Ele, carregando o seu opróbrio (Hebreus), para Jerusalém e dar a vida…Para trás, fica toda a Antiga Aliança que desaparece por entre a nuvem e fica Jesus, o Filho a que é preciso ouvir: “OUVI-O”.
Na Liturgia de hoje, nós meditamos ainda no sacrifício de Isaac. Isaac é, de alguma maneira, o filho de Abraão, renascido da morte pela fé do Patriarca na Promessa. É o novo Isaac. Mas Isaac é apenas figura de Jesus na glória e na luz da Ressurreição, como menciona Marcos ao fim da sua narração. No Evangelho de Lucas, fala-se da Transfiguração como dum Êxodo que Jesus devia completar em Jerusalém. Ele é o Filho de Deus muito amado que não pode ficar cativo da morte. E também nós não ficamos cativos da morte, embora como Pedro Tiago e João não compreendamos o que significa todo o alcance da Ressurreição: “Eles guardaram a recomendação de Jesus de não contar o que aconteceu na Transfiguração, mas perguntavam entre si o que significava ressuscitar dos mortos”.
Padre José Augusto de Sousa SJ.
Pintura: Botticelli (Galleria Pallavicini – Roma)