P. Roque Cabral
05.03.1927 – 25.06.2021
Biografia
O P. Roque Cabral nasceu na cidade do Lobito, Benguela, Angola, no dia 5 de março de 1927 e entrou na Companhia de Jesus no dia 18 de outubro de 1944, no mosteiro de Santa Marinha da Costa, Guimarães. Fez o Noviciado e dois anos de Humanidades Clássicas e Modernas, em Guimarães. Entrou na Faculdade de Filosofia de Braga em 1948 e licenciou-se em Filosofia em 1951. Foi diretamente da Filosofia para a Teologia, em San Cugat del Vallés, Barcelona, até 1955. Foi ordenado sacerdote em San Cugat, no dia 30 de julho de 1954. Fez a Terceira Provação (1955/56) na Alemanha, em Sentmaringerweg, Münster.
Em 1956 foi destinado ao Colégio de S. João de Brito, em Lisboa, como diretor espiritual dos alunos e professor, durante quatro anos. Em 1960 seguiu para Roma fazer o doutoramento em Teologia Dogmática, na Universidade Gregoriana. Fez os Últimos Votos no dia 2 de fevereiro de 1962, na Igreja do Gesù, em Roma.
Em 1962 foi para a Faculdade de Filosofia de Braga como professor de Ética e redator da “Revista Portuguesa de Filosofia”. Permaneceu como professor de Ética até ao final da sua carreira docente. Jubilou-se em 2007, ao completar 80 anos.
Em 1964 assumiu o cargo de ministro dos estudantes de Filosofia, até 1976. E foi, também, prefeito de estudos. Colaborou na enciclopédia “Verbo”, da qual foi diretor e nas enciclopédias “Polis” e “Logos”. Foi coordenador do sector de Filosofia de Lisboa, da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e nomeado para a comissão instaladora da UCP, no Porto, em 1978,. Foi também durante vários anos Diretor do Curso de Direito da Universidade Católica no Porto.
Foi membro fundador do Centro de Estudos de Bioética.
Foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem da Instrução Pública, pelo Presidente da República, Dr. Mário Soares, no dia 10 de junho de 1990. Em maio de 2000, a Faculdade de Filosofia de Braga da Universidade Católica Portuguesa homenageou o P. Roque Cabral pelos seus vários anos de lecionação da disciplina de Ética. Em 2016 foi agraciado com o Prémio Fé e Liberdade.
O P. Roque Cabral foi uma pessoa altamente considerada pelo seu equilíbrio e competência profissional. Faleceu no final da manhã do dia 25 de junho em Braga com 94 anos.
Testemunho
Memórias agradecidas
Pediu-me, o P. José Maria Brito, que abrisse o meu “ficheiro”: P. Roque Cabral – memórias agradecidas. Sim, aqui vão três (ou mais!) momentos marcantes, já que “somos o que forem as nossas relações”.
Se puxar o filme bem lá para trás, vejo uma sala de aula, barulhenta e confusa. Nos últimos anos do liceu (então 6º e 7º ano) no Colégio S. João de Brito, o P. Roque foi nosso professor de Religião. Admirávamos aquele padre novo, figura distinta e afável. Os seus apontamentos eram extraordinários a abrir-nos a cabeça. Falava baixo e com clareza, mas naquelas idades, ouvir era discutir e brincar. E a gritaria tomava conta do ambiente até que algum reparava: o pad’ Roque já cá não está! Silêncio… Sem nos darmos conta, tinha pegado nos seus papéis e saído silenciosamente. Logo arranjávamos uma delegação para ir ao seu quarto: “arrependidos” pedíamos que voltasse. E ele voltava. A sua atitude dava vida á sua catequese. Surpreendia-nos! Estávamos em finais dos anos 50. Para mim, ainda era distante vir a ser jesuíta (1965). Mas os textos do P. Roque, mais tarde publicados em dois livros, muito me ajudaram nos meus primeiros anos de padre.
Voltei a ser aluno do P. Roque, na Faculdade de Filosofia (Braga). Ele dividia com o P. Paulo Durão as cadeiras de Ética. Além de mestre sentia-o como amigo, pela atenção que me dirigia e animava. Há fórmulas que não se esquecem: ética, aquilo que se deve ser para ser quem se é! Nessa altura pensei que a Ética e o debate sobre as questões morais seriam o meu caminho como jesuíta. Mas a Teologia levou-me para a Espiritualidade.
Contudo, anos mais tarde, estando eu em Coimbra no CUMN impulsionei e fiz parte do grupo fundador do Centro de Estudos de Bioética, realidade pioneira em Portugal. Entre figuras bem conhecidas, médicos, juristas, etc, dois jesuítas incontornáveis, o P. Archer e o P. Roque; e, pelo meio, eu, um novato tímido e atrevido. Assim, continuei como discípulo e amigo atento ao seu pensamento crítico, original e sensível.
Memória mais recente. Fomos convidados para um casamento. O P. Roque, apesar dos achaques, da idade e das doenças, mantinha-se activo e lúcido. Na viagem endireitou-se e disse-me: Bem, tu presides. É o certo. Eu, logo se vê. No regresso, como seria de esperar, teve o cuidado de dizer-me o que tinha gostado sem omitir as notas críticas; e sempre com uma anedota, pelo meio. Grande pedagogo! Obrigado.
P. Vasco Pinto de Magalhães