Falámos de oração e do poder de conversão que ela tem para, a cada dia, operar mudanças de vida. Mas atenção e disponibilidade são condições essenciais para responder a esses sinais, numa atitude que passa por reconhecer e usar as ferramentas que, a espiritualidade inaciana, oferece, em especial os Exercícios Espirituais e o Exame diário.
Recolhemos o testemunho de Alexandra Morgan Costa, que fez o percurso de iniciação da CVX há um ano, e atualmente integra um novo grupo (ainda sem nome). Ficámos a conhecer a importância e a descoberta que tem feito na sua vida, guiada pelos momentos de diálogo diário com Deus.
Como conheceu a espiritualidade inaciana e o que foi determinante para se deixar seduzir?
Foi no Movimento de Schoenstatt, acompanhada pela minha família e amigos, que despertei para a espiritualidade, passando a participar ativamente na vida comunitária do movimento.
No entanto, só Deus sabe porquê, num impulso, inscrevi-me para fazer Exercícios Espirituais (EE), sem saber ao que ia, atirando-me, sem hipótese de fuga.
Foram três dias de silêncio, em que fertilizei a minha capacidade de imaginação: imaginei cenas e cenas com Jesus, em todos aqueles locais sagrados na Terra Santa, onde tinha estado recentemente em peregrinação com um grupo de Schoenstatt.
Foi um silêncio colorido, onde consegui transportar a dor para a terceira pessoa e realizar um belíssimo filme bíblico, cheio de vivências fascinantes, com cenas belas e encantadoras protagonizadas por um Jesus fazedor e transformador.
Para si qual o desafio de viver a vida cristã em pequena comunidade?
Inscrevi-me na iniciação da CVX em outubro de 2018. Confesso que, na primeira reunião, fiquei muito desconfiada com o método de partilha, sem «feedback», e de escuta ativa, sem comentários e reações físicas ao que cada um dos elementos do grupo ia partilhando.
Espantosamente foi logo após as primeiras reuniões que senti o impacto positivo em cada uma das pessoas do grupo e no meu crescimento espiritual. Tão simples e tão potente: o nosso trabalho era simplesmente registar o que sentimos e viver com atenção durante os quinze dias entre cada reunião.
Como é que os instrumentos de oração, propostos pela espiritualidade inaciana, se tornam fecundos na sua vida?
Foi-me apresentado o exame inaciano, um mini retiro diário, que entrou na minha rotina, como calmante para ter um sono descansado.
É uma reunião diária com Deus, onde eu e Ele revemos as consolações e as desolações, onde fazemos o sumário, em atitude de agradecimento, do importante de cada dia e onde pensamos nas ações para o dia seguinte.
Este encontro diário traz Jesus de uma forma, emocional, participada, ao vivo, para o meu dia-a-dia: sabendo que tenho de recolher informação para a nossa conversa, obriga-me a estar com atenção, a trazer mais presença para cada acontecimento, interpela-me a estar preparada para receber cada pequena surpresa (boa ou má) que se vai cruzando a cada hora.
Vou aprendendo a registar e a aceitar as desolações, a procurar o seu motivo para cuidar delas com amor e com o perdão, diário, de Deus no exame.
Mais tarde, já em ambiente CVX, repeti os EE. Estava agora mais receosa, por saber que o trabalho não deveria estar tanto na minha imaginação, mas descendo a mim, ao meu interior, ao que Deus já me vinha revelando no dia-a-dia, nestas escavações diárias com o exame.
Fiz, esta segunda vez, com uma diferente consciência pessoal, num confronto com o sofrimento e com muitas recordações do passado que tentei ordenar, assinalando as linhas de ação de Deus na minha vida e sentindo uma enorme gratidão.
Desta caixa de ferramentas Inaciana, e num tão curto espaço de tempo, decidi tirar mais uma: o Eneagrama. Com este instrumento abriu-se um novo caminho: revelaram-se tantas coisas, fizeram sentido outras tantas!
Grande surpresa: Encaixei e apaixonei-me pelo meu número, pelas explicações que me trouxe ao meu modo de ser e de agir! Quando tomei consciência e quando estava ‘quase quase’ a aceitar as fraquezas características do meu número, Deus diz-me que ainda posso ficar uma pessoa melhor, que tenho de continuar o meu trabalho mas agora com maior sentido do outro.
Ir ao encontro do outro, aprender a conhecer, a aceitar, a gostar do outro e a tomar para mim características do outro para crescer, para me transformar e estar mais próxima de Deus.
Com que Jesus se relaciona pessoalmente?
Um convite que só conseguirei aceitar, sem medo, por poder utilizar estas ferramentas, que no meu trabalho individual e em grupo, me ajudam a ter a graça de todos os dias ir vendo com clareza e amor as iniciativas que Deus deseja que eu escolha para as pormos (Deus e eu) em prática.
Lígia Silveira