Estive no último simpósio realizado em Manresa sobre Exercícios Espirituais e Conversão Ecológica e fiquei mais uma semana para fazer os EE orientados pela equipa itinerante da Amazónia, uma equipa que tem como missão alertar o mundo para os problemas decorrentes da desflorestação e exploração mineira naquela zona considerada o verdadeiro pulmão do nosso planeta.
Achei que foi uma experiência muito, muito interessante. Para além dos pontos de oração que, obviamente, seguiam a estrutura inaciana (o coordenador da equipa é um jesuíta e os restantes elementos eram todos de espiritualidade inaciana), houve tempo para informação sobre os povos indígenas e os vários mártires que têm dado a vida pela sua causa.
Houve vários desafios para descobrir no contexto local sinais de consumismo, mas também de tentativas de resposta (reutilização, reciclagem…), assim como apelos à simplicidade (na alimentação, por exemplo) e à coragem para a exposição à intempérie (dormir ao relento, por exemplo).
A criatividade e a beleza tornavam a radicalidade atrativa. O estilo informal, afetivo (“desde el corazonar”) e inclusivo (também nas celebrações eucarísticas) facilitou a integração das diferentes culturas, a abertura a modos de ser Igreja que privilegiam a participação de todo o Povo de Deus e uma profunda Comunhão.
As referências a Laudato Si y Fratelli Tuti ajudaram à reflexão sobre a necessidade de um novo paradigma que valorize mais a relação com a “Madre Tierra”—a dimensão cósmica—para além de um profundo sentimento de unidade com toda a humanidade (escuta atenta dos pobres e vulneráveis).
Impossível não tomar consciência da urgência de passar do modelo do bem-estar, do consumismo desenfreado, da competição pelo sucesso, para o modelo da harmonia com o ecossistema e com os seres humanos, dando prioridade a uma distribuição mais equitativa dos recursos e às relações saudáveis: “o viver e conviver bem”.
Fundamental, para isso, é mantermo-nos junto à fonte, pois, junto à fonte, todos estamos conectados, desde o Cardoner (do Tejo…) à Amazónia…
Desde o nascimento, Jesus apontou para a inter-religiosidade e a interculturalidade (magos, pastores…). E, para não esquecer esse horizonte de sentido, basta a presença das referências bíblicas que motivam sempre à contemplação e maravilhamento, à reverência, à simplicidade, cuidado e harmonia.
Na base desta partilha, está a convicção de que despertar o interesse para mais informação sobre os conteúdos e os protagonistas de experiências como esta é sem dúvida um serviço prazeroso, mas mínimo. Mas é, sobretudo, um gesto incontido de gratidão pelo privilégio de ter participado na reflexão sobre a necessária relação da espiritualidade dos Exercícios Inacianos com a exigência da simplicidade, da sobriedade a todos os níveis, desde o individual na sua quotidianidade ao social, ao planetário, à casa comum, cada vez mais ameaçada de sobrevivência. Gratidão também por ter experimentado, como exercitante, como o clima de verdadeira conversão ecológica pode trazer mais luz para prosseguir o caminho com mais ânimo e liberalidade.
Dirce Serafim