Compromissos Temporários CVX Sul

Foram 16 as pessoas que decidiram realizar o Compromisso Temporário na CVX, na festa do final de ano, da CVX-Sul, no Rodízio, no passado dia 23 de junho. Conversámos com alguns membros da Comunidade e sobre as suas motivações.

Foram 16 as pessoas que decidiram realizar o Compromisso Temporário na CVX, na festa do final de ano, da CVX-Sul, no Rodízio, no passado dia 23 de junho. Conversámos com alguns membros da Comunidade e sobre as suas motivações.

 

Há uma década que a CVX faz parte da vida de Duarte Sousa Rego, inicialmente na CVX-U e nos últimos anos no grupo «Roda Viva». Foi nos anos da universidade que conheceu a espiritualidade inaciana através do CUPAV, Centro Universitário Padre António Vieira, participando nas atividades propostas pelo Centro e participando nos Exercícios Espirituais (EE). “Fazer EE foi mesmo uma experiência de oração que moldou a minha vida”, sublinha.

Ao longo do caminho que tem feito em comunidade, Duarte tem tomado consciência das “graças” que recebe e como deve viver de forma “mais agradecida pelo Amor” que recebe de forma “incondicional”. “O estilo de vida simples e a identificação com os mais pobres tem ajudado a discernir os meus caminhos em Igreja na família, no trabalho, no mundo”, sugere.

A opção de fazer o compromisso temporário, diz, “é um passo para a liberdade de viver com o coração preso em Cristo”. “Este compromisso ajuda-me a perceber o que quero como prioridade na minha vida, por onde quero procurar Jesus. E, como esta procura de Jesus não se faz sozinho, sem uma comunidade, vejo também como um compromisso com a Igreja, que só posso ajudar se amar a Deus cada dia mais um bocadinho que no dia anterior. Peço sempre ao Espírito Santo que me dê a graça de amar a Deus cada vez mais”, finaliza.

 

Tomás Caldeira Cabral integra o grupo «Sinais», há sete anos, juntamente com a sua esposa Mónica, pessoa que o incentivou a participar. “Conheço a CVX desde o tempo da faculdade mas só entrei por convite da Mónica e após vários anos em que os acompanhei”, recorda. Este contacto levou-o a descobrir um grupo “heterogéneo mas muito sério e empenhado em fazer caminho em comum, utilizando as ferramentas e a espiritualidade Inaciana”. “Um espaço livre, em que o grupo não apaga o indivíduo, em que se aprende muitíssimo com a diversidade de dons e de pontos de vista e que nos ajuda e motiva a continuar esta procura de Deus”, sublinha. A ação contemplativa, indica, é o que mais o seduz: “o espaço que é dado a cada um, aos seus ritmos, ao Magis e ao Bem Maior sem esquecer que é muito mais importante o «muito saborear», do que o «muito saber».

Tomás Caldeira Cabral assume que a realização do compromisso temporário peca por tardio, mas, sublinha, ser um “reforço” para se manter na comunidade e na espiritualidade inaciana, isto porque, “a exteriorização, a verbalização, torna mais forte e real uma decisão que já estava maturada e que era altura de assumir”. O compromisso temporário foi feito singularmente mas simultaneamente com a esposa, Mónica. “Significa que os dois estamos em sintonia na opção livre e empenhada de sermos cristãos com esta espiritualidade específica. É uma boa ajuda puxar um pelo outro neste compromisso que é estruturante enquanto pessoas, enquanto família e comunidade”.

 

Depois de um tempo afastada da prática religiosa, Mónica Azevedo inicia uma reaproximação à Igreja, em 2004, quando descobre uma “forma mais próxima e livre de viver a fé e de a colocar em prática”, através do grupo «Sinais», na CVX. Da espiritualidade inaciana, que conheceu na universidade, destaca o discernimento individual: “Creio que há imenso de psicologia humana na espiritualidade de Santo Inácio e isso faz-me todo o sentido”, destaca, acrescentando ser uma relação que gostaria de aprofundar.

“Cada pessoa é chamada a contribuir para a construção do reino sempre numa procura do Bem Maior mas com uma grande proximidade com as circunstâncias particulares de cada situação”, sublinha. Fazer o compromisso temporário, indica, “já devia ter sido realizado” mas ao sentir, particularmente, algum desânimo este ano na CVX; considerou ser importante dar este passo.

“Os processos verdadeiramente importantes na nossa vida têm altos e baixos (o casamento, os filhos, a profissão), mas o compromisso não deixa de estar lá e expressá-lo na comunidade alargada teve bastante impacto em mim”, esclarece. Mónica acredita que o compromisso, em si, nada altera o seu caminho ou compromisso com a Igreja, mas faz afirmar a espiritualidade que a anima.

No grupo «JB» há 10 anos, Catarina Faria recorda que foi parar à CVX depois de ter feito Exercícios Espirituais. “Procurava um grupo para me integrar, já em versão adulta”, recorda, também porque sente que em comunidade pode ser mais fiel. “Para mim é essencial partilhar a fé em Cristo em comunidade pois sei que sozinha não consigo permanecer e tendo a ficar fechada sobre o meu umbigo”, reconhece. Na CVX encontrou uma forma de alicerçar a vida na oração e na partilha.

Para a Catarina, fazer o compromisso temporário é uma forma de agradecer o “tanto” recebido, ao mesmo tempo que reconhece este caminho como seu. “Preciso de compromissos que me ajudem a permanecer no caminho. Se me mantiver na oração diária os frutos, para mim, para a minha família e amigos, para a Igreja virão necessariamente. Quaisquer que eles sejam”, finaliza.

 

Membro do grupo «Mais Além» desde 2008, João Maltez recorda como chegou à CVX e a espiritualidade inaciana fez sentido na sua vida e na vivência familiar. “A minha forma de estar e servir em Igreja foi no passado de cariz paroquial e através do Movimento Encontro de Jovens Shalom”, recorda. Fortemente centrado nos jovens e na sua evangelização, João afirma ter sentido, a certa altura no seu crescimento, ser pouco. “Um padre desse Movimento falou-nos na CVX (a mim e à Teresa, minha mulher) e quando contactámos a CVX, disseram-nos: «Vão fazer Exercícios Espirituais, se gostarem inscrevem-se no Dia CVX onde posteriormente serão formadas equipas, se não gostarem se calhar não vale a pena continuar.» Da experiência orante João dá conta que imediatamente sentiram ser este o seu caminho espiritual. “Fomos, depois, ao Dia CVX e descobrimos que essa seria uma forma de continuar a servir a Igreja, no mundo, na nossa vida. E aqui estamos ao fim de 11 anos”, recorda, integrando a sua mulher participante também do seu grupo.

João Maltez entende que o seu caminho passa por esta forma de “servir a Igreja”, “entre a missão de ser cristão no mundo, ao estilo CVX, fazendo a diferença, indo mais além, no trabalho, família, pessoas” com quem se relaciona e, simultaneamente, na paróquia onde, assume, ser chamado a “fazer a diferença”.

A espiritualidade Inaciana prende João Maltez quando o desafia à “reflexão e oração pessoal”. “Tudo ser rezado e não apenas refletido, o discernimento pessoal, procurar e tentar realizar a vontade de Deus na minha vida. E finalmente o procurar o Magis, irmos sempre mais além, fazermos a diferença em todos os locais onde estivermos, no dia-a-dia fora da Igreja mas também dentro da Igreja. Não fazer diferente só por ser diferente, mas porque é melhor, e na maior parte das vezes ser melhor em relação a nós próprios, ao estilo de Jesus”, esclarece. Com naturalidade surgiu a vontade de fazer o compromisso ao fim de 11 anos: “O caminho é por aqui, na continuidade do que tenho vivido”, indica, consolidando a vontade de “servir o Reino”, e ir sempre «Mais Além».

 

Frederico Mensurado diz que foi a CVX que o escolheu e não ele a escolher este caminho em Igreja. Em 1998, entrou “sem qualquer preparação prévia”, pois afirma, converteu-se dois anos antes de constituir o grupo «Amarelos», na altura, posteriormente extinguido e refundado a partir de quatro elementos, no «Ideiafix». Hoje são o grupo «Romanos8». “Estava muito contente ao princípio porque tinha uma expectativa grande em poder estar com outros que podiam partilhar a vivência de fé. Um pouco apreensivo também pelo que tinha de desconhecido e a ausente experiência de vivência em ambientes e grupos ligados a movimentos religiosos da Igreja. Fui descobrindo o valor da simples partilha e dos laços que se foram formando entre nós e a presença e expressão de Deus nesses laços”, manifesta. Neste trajeto conheceu a Margarida, animadora do grupo «Amarelos», com quem veio a casar; “temos hoje quatro filhos e completamos 19 anos de casamento este ano”. Vinte e um anos depois de ter conhecido esta forma de estar em Igreja, Frederico reconhece o quanto cresceu na comunidade, fundado nas dimensões espiritual, comunitária e missionária. “É uma leitura que se faz melhor “a posteriori”. Identifico-me com a simplicidade com que se vai tecendo o grupo e reconheço-me alimentado pelo corpo do vínculo que se foi formando ao longo dos anos”, reconhece.

Quanto ao compromisso temporário, agora publicamente assumido e formalizado, afirma ser um passo natural, mas que foi acontecendo ao longo dos anos. Frederico afirma que o seu compromisso se expressa nos nomes e rostos concretos de cada um dos seus companheiros no grupo «Romanos 8», mas também noutras pessoas que foi conhecendo. A este passo que deu associa a palavra «serviço» e o «ofício de consolar», uma expressão, diz, de Santo Inácio que lhe é cara. “Creio que qualquer contributo é consequência do fruto da transformação pessoal que vai acontecendo e que o simples modo de viver e estar já é contributo, juntamente com algum sentido de desafio para projetos ou atos concretos que se acabem por materializar. O compromisso deverá ter esta expressão concreta, deverá «incarnar» ”, explica.

No dia 23 de junho realizaram compromissos temporários a Rita Moreira La Feria, a Marina Subtil e a Inês Couto do grupo «Aprendiz de Viajante»; a Filipa Studer e a Raquel Falacho do grupo «Sinais»; a Helena Vargas, a Mariana Mendes de Almeida e a Helena Prata do grupo «Mais Além»; a Joana Lino e a Mariana Mira Delgado do grupo «Duc in Altum».

Lígia Silveira