Nietzsche nunca se dedicou inteiramente a esclarecer o que entendia por mundo, não chegou a escrever um texto sobre a sua visão acerca deste, nunca lhe dedicou uma tese… porém, intrínseco à sua obra podem perceber-se algumas luzes por entre as linhas um tanto poéticas que nos deixou.
Ora este déficit de material, que à partida nos poderia parecer limitador, deixa-nos uma liberdade criativa muito maior do que se tivéssemos de seguir fielmente os argumentos do autor. Assim surgiu o Wille Zur Macht – uma tentativa de tradução daquilo que seria a visão do mundo para Nietzsche.
Este pequeno escrito procura falar-nos do mundo como uma Vontade de Potência, como indica o título em alemão (língua do autor). Um instante em que tudo se vê com clareza e verdade, onde o conhecimento, a cultura e a linguagem não permitem mais sombras na apreensão do real e onde o ser humano pode e é chamado a criar.
Wille Zur Macht
Oh instante de hora
Quimera necessária
Beleza ardente
Meio dia do jardim ao sol
Oh que erro és fundamento e
Ilusão suportada pela mentira de todas as coisas
Ditas-me limite
És o conhecimento
Oh arte que saltas de alegria
Pois és doutrina da verdade criadora
Transfiguração do imediato
Potência
Oh estética mãe
Ventre de vontade explicativa
Que desejas que eu seja aquilo que já sou
Oh busca da verdade
Consciência tardia inacabada e frágil
Encontrada nas malhas da sedução linguística
Experiência imediata
Oh mundo, não me fujas
Sonho juvenil
Ímpeto e ilusão
Só a vontade da Potência
Te cria em mim
Bibliografia:
- NIETZSCHE, Friedrich. Ecce homo: como alguém se torna o que é. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
- NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra-um livro para todos e para ninguém. Tradução: Mário Ferreira dos Santos- Petrópolis, RJ: Vozes, 2007
- STACK, J.G. “Nietzsche’s critique of things-in-themselves”. In: Diálogos, Porto Rico, Editorial Universitaria U.P.R., 36 (1980), p. 33-57.