Porque é que as Missões Universitárias nos tocam tanto o coração?

É tempo de Missões Universitárias! Maravilha!

É tempo de Missões Universitárias! Maravilha! Começam e acabam estas semanas que deixam tantos de nós felizes, alegres, a sentirmo-nos realizados, cheios de histórias para contar… Mas afinal o que é que é tão transformador nestas semanas (que nem é assim tanto tempo, mas que parece ter uma densidade muito maior do que o resto das nossas semanas)?

Vou tentar dar uma resposta com alguns pontos que me parecem fundamentais. Não é uma resposta exaustiva, não é seguramente a única resposta, nem pretendo que seja a verdade…mas estou convencido que tem alguma coisa de verdadeiro.

São quatro coisas. Todas elas a ver com “meter as mãos na massa”! 

Entenda-se massa como  coisas concretas e reais, como a vida de outros e as nossas vidas.

A grande parte das relações que hoje temos é virtual. Na Missão, pelo contrário, contactamos com pessoas concretas, de carne e osso, com problemas, alegrias, angústias e sucessos. Passamos os dias ao lado de pessoas reais – sejam os outros missionários, sejam as pessoas da terra – e isso acorda-nos, excita-nos (no sentido profundo da palavra!).

Passamos grande parte das nossas vidas em solidão, mesmo que com outras pessoas à volta. Na missão experimentamos verdadeiramente que só podemos ser Pessoas em comunidade, partilhando o que vivemos com outros corações de carne. 

A maioria das preocupações que temos no dia-a-dia são connosco mesmos, com os nossos problemas, com a nossa imagem, com as nossas necessidades. E a grande parte destas preocupações são ou inúteis (de nada nos serve preocupar), ou são irreais (problemas que agigantamos sem necessidade). Na Missão, as nossas preocupações e os nossos desejos passam a estar focados noutros! E isso tira-nos de nós, dá-nos vida, cura-nos. São ocupações com a realidade dos outros e não com ideias que fazemos de nós mesmos.

A grande parte dos nossos dias é sem silêncio. Estamos cheios de grupos de whatsapp, de redes sociais, passamos os dias a ser bombardeados por informação e gastamos horas a ver séries (estou convencido:se fizéssemos Missão sem telemóveis a experiência seria ainda mais profunda). Na Missão temos tempos de silêncio, fazem-se umas coisas chamadas “orações”. Ouvimos coisas do nosso interior mais verdadeiro, mais real, que não estamos habituados a ouvir. Ouvimos a realidade do interior dos outros. Fazemos silêncio e estamos mais atentos para ouvir toda a realidade que nos circunda.

Podemos dizer que, nas Missões, pomos as mãos na massa e deixamos que a massa nos toque. 

Será que podemos dizer tudo isso sintetizado numa verdade cristã? Acho que sim: em missão experimentamos Jesus Ressuscitado. Mas Jesus ressuscitado está na realidade, não está nas ideias. Jesus ressuscitado é uma realidade concreta, não é uma ideia.

Não seria maravilhoso viver sempre em missão?

(Fotografia: Missão País Braga 2023)