Fio Dourado
Por dentro dos rostos lavados
os corações remendados
pedem um peito onde pousar
o jugo.
É teu esse peito que acolhe
o peso das cicatrizes.
Só a tua pureza as redime.
És tu em quem ao fim do dia
depomos as horas
e as cabeças cansadas.
Quem abre o leito das mãos
e recolhe
a vida que semeamos.
És tu quem colhe o linho
dos nossos dias.
Quem faz o fio e tece
as sombras e as luzes.
O fio divino do fruto humano
com que remendas o pano
dos nossos corações terrenos.
Desejado
Guardamos a discreta vocação
de ser chão
onde firmas os pés belos sobre os montes
de ser mãos para os teus gestos
e os vasos pobres da tua glória
de ser o coração de uma gruta para as tuas palavras
quando o parto da noite as fia anunciadas
no lençol da história.
És afinal todas as canções e nós
o silêncio de guardá-las.
Foto: CHUTTERSNAP, Unsplash