Enquadramento
“Not a city that was” é o mais recente projecto desenvolvido por Maria Appleton – jovem portuguesa designer de têxteis. Após uma estadia de três meses, a trabalhar no contexto de uma residência artística, EMMA Kreativzentrum, em Pforzheim, pequena cidade do sudoeste Alemão, Maria oferece-nos uma exposição virtual que vale a pena visitar. (https://www.emma-pf.de/en/designers-in-residence/virtual-exhibition-2020/)
Pforzheim sofreu vários bombardeamentos, sendo completamente devastada, durante a 2ª guerra mundial. A arquitectura e a construção da cidade são, por isto, recentes e frequentemente alteradas. “É bonito percorrer a cidade e sentir que há poucos preconceitos em destruir e construir para gerar novidade, algo totalmente diferente de caminhar por um local onde podemos sentir o peso da história”, diz Maria num dos textos explicativos da exposição. Um dos poucos edifícios que permaneceu intacto foi a piscina pública, “Stattbad”, local da exposição.
O trabalho com têxteis
Criar espaço no interior do Ser Humano – na consciência, no coração – não é tarefa fácil. Gerar vazios que dêem lugar a encontros. Colocar uma pessoa em contacto com o que tem e com o que lhe falta. Despertar os sentidos para o espaço que nos rodeia. Procurar perceber a relação do Homem com o espaço: o espaço vazio, o espaço preenchido, o espaço interior e exterior, o espaço ambiente, a matéria. É a isto que Maria Appleton aspira através do seu trabalho com têxteis. Estou convencido que este esforço de despertar algo, de criar espaço, era o que Jesus tentava fazer quando se encontrava com as pessoas: levantar perguntas em cada coração e em cada um abrir espaços – dando sentido, dando esperança -, colocar a caminho. Uma das características da virtude da esperança é esta, “dilatar o coração (cria espaço!) na expectativa da Bem Aventurança eterna” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1818). De facto, a arte toca o que de mais profundo existe no Ser Humano.
A exposição – celebrar a vida
Pforzheim não é uma cidade morta e a Stattbad não se quer como um local de recordação da morte. É a vida que é necessário celebrar! A existência, o novo, o nascimento. A vida de uma cidade que se reergueu dos escombros nascida de novo, e que, sem se confinar nas mágoas passadas, se quer esperançosa a celebrar a vida nova. E, na verdade, “existem lugares que têm uma aura que, de alguma forma, está ligada ao nascimento”: uma piscina – a água – é um deles.
Também o Natal não é uma celebração estática de memórias, como um teatro que teimamos reencenar. Não é apenas uma história bonita que ficou para a História. É vida real, é o Cristo que está vivo e quer renascer cada vez mais profundamente nos nossos corações!
Não falta vida na exposição de Maria, bem pelo contrário! Pode sentir-se muito bem a força e a energia do seu trabalho. No vídeo de apresentação do projecto a força da vida, a alegria e a energia são bem claras. Não se trata de uma alegria histérica, mas de uma alegria sincera que transporta o peso próprio da existência, que tem sempre um “rasto” grave, de Cruz. Nascimento e dor caminham juntos, a esperança exige que algo melhor ainda esteja para vir. Can you feel it?
https://youtu.be/tB63ZH4IWjw
A exposição – real e virtual
A experiência da visita virtual à exposição é impressionante (e se tiveres a hipótese de fazê-lo com uns óculos VR – de realidade virtual – ainda melhor). Através dos jogos de cores e transparências, de luz e movimento, provocados pela disposição dos tecidos, pelo vento introduzido e pelos reflexos do chão, podemos sentir a matéria real e presente. Aquilo que diante de um ecrã é difícil de conseguir-se, a experiência sensorial real, Maria consegue exponencia-lo, retirando o máximo proveito da matéria, real e virtual. Apetece estar no meio destes têxteis. Dão-nos uma experiência de imersão. “O tempo move-se lento, os sons extinguem-se, o corpo funde-se com o meio e a respiração detém-se”… É a experiência da imersão na água.
A exposição – transparência e cores
As cores e transparências dos tecidos são muito bonitas – o conjunto de fotografias disponíveis testemunha a qualidade dos têxteis criados pela artista. Os jogos de cores que rebentam da sobreposição dos panos, sem que estes se anulem uns aos outros, mas gerando novidade, são a vida da exposição. É um equilíbrio espantoso que não ofusca, nem escurece. Não é opaco, nem vítreo, não preenche simplesmente o espaço, mas dá-lhe verdadeiramente uma nova vida.
Também o Menino que nasceu é transparência e cor. É Ele a Verdade transparente, sem distorções, clara e límpida. É Ele a Vida colorida com toda a sua densidade, com toda a sua tonalidade. É Ele quem nos olha à transparência, na verdade mais profunda de nós mesmos, e quem nos dá a nossa melhor coloração, nomeando quem somos, sem nos anular. É Ele que nos dilata o coração. Ele é a nossa Esperança.
Isto não é sobre morte…
Isto é sobre esperança.