Olha a Amada ou o Lírio paciente, a brancura do seu mármore, a sua pureza só, que não é fria e intocável.
Saberás, talvez, como o maior ardor é a maior leveza, como a maior pureza é o amor mais intenso.
Como a carne é pura não porque intocada, mas porque tocada pela pureza do amor que redime.
Como um lírio
Sicut lilium inter spinas, sic amica mea inter filias.
Ecce tu pulchra es amica mea.¹
Contemplação do lírio ²
Quis torcer o lírio que vertesse a luz
Apertar a pureza escorrendo
Na mão
O óleo da paciência com que veste
A nudez de não fiar.
Sicut lilium
Mancha de brancura entre espinhos
Acesa em luz silenciosa
– o brilho é um sussurro.
Não ferem os espinhos o teu mármore
Sem que floresçam redimidos.
Se beijasse o mármore no lugar de se fender em fonte
A humidade de um mineral a arder
em branco e rosa.
Verei a flor da carne em glória
O mármore virgem que arde
Inconsumido.
A pureza ou a amada
Elevada e alta no teu sono
de dormires criança adulta
na mão de Deus.
Sono esse apenas é lixívia
e branqueia a carne
O amor – e amor apenas –
redime a nódoa.
¹ “Como um lírio entre os espinhos é a minha amada entre as jovens. Eis como tu és bela minha amada.” (Cântico dos cânticos 2, 2. 1, 14)
Carregar no link para conhecer o livro bíblico do Cântico dos Cânticos.
² “Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam; pois Eu digo-vos: Nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.” (Lc 12, 27)