Diz Rilke numa carta a um jovem poeta que «nem tudo se pode aprender ou dizer, como nos querem fazer acreditar. Quase tudo o que acontece é inexprimível e se passa numa região que a palavra jamais atingiu»[1].
Ora, alguns insistem na tentativa de expressar o indizível. Um bom exemplo é o de Epicuro a propósito daquilo que é a Felicidade, que expresso desta forma:
Querida felicidade
Querida felicidade
De que te falo Meneceu
Dedica-te à verdade
Esquece o desejo teu
Querida felicidade
Que revigoras o antigo
O jovem é puberdade
E o velho amigo
À fruição da vida
Não te impeça o medo
Esta é uma corrida
Atenta ao desenredo
Da ausência à necessidade
Do início ao fim
A porta da felicidade
É benefício assim
A prudência é uma lente
Para a grande sabedoria
A morte é eficiente
Não te tire a alegria
Ora isto é a felicidade
Que tu podes encontrar
Entre o prazer e a verdade
Nem a dor pode faltar.
[1] Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta, trad. Vasco Graça Moura, Modo de ler, 2015, 15.