Irmã:
Mãe:
Avó:
«(…) ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar» [Laudato Si 19].
Hoje é o dia da apresentação da natureza. Neste texto, a Natureza tem o sentido de todas as coisas criadas: a Mãe Terra, para S. Francisco de Assis. O Papa Francisco recorda-nos o sentido de criação que a natureza tem. Não é uma ideia original sua, mas da própria concepção de criação cristã. Esta concepção que S. Francisco de Assis viveu tão profundamente, quando tratava todas as coisas como seres criados – os pássaros, o irmão sol, a irmã água… – foi muitas vezes desencarnada, talvez por uma antropologia cristã deficiente.
Para mim, um dos rasgos do Papa Francisco na Encíclica Laudato Si, nasce deste «sofrer» com a criação, porque remete-me para Emmanuel Lévinas que propõe o «sofrer com» como a resposta humana a ser dada perante o mal sofrido pelo outro. Um amigo, que quer ajudar outro que sofre, deve escutá-lo, deixar-se incomodar e acompanhá-lo, sofrendo e responsabilizando-se por ele. Para Lévinas, perante o rosto do Outro estou de caras com alguém que não abarco, que me transcende, mas a interacção com o seu Rosto responsabiliza-me por ele.
O convite que o Papa faz hoje não é o de assumir uma lista de deveres para cuidar da criação, mas deixar-se incomodar pelo mal sofrido pela criação e que o desejo que daí brote, a própria conversão ecológica pessoal, me impele a agir.
Voz: Nérika Amaral
Desenho: António Ferreira da Silva sj
Texto: Bruno Monteiro sj