A Santa Sé vai conceder a indulgência plenária aos fiéis que visitarem uma das igrejas jubilares designadas – da Companhia de Jesus (ou confiada aos jesuítas) -, acederem ao sacramento da reconciliação e da eucaristia e rezarem pelas intenções do Papa. Esta graça especial poderá ser recebida pelos fiéis que assim o desejarem até finais de julho de 2022 e acontece porque os jesuítas em todo o mundo celebram um ano especial, o Ano Inaciano, que assinala os 500 anos da conversão de Santo Inácio de Loyola, seu fundador.
A indulgência nasce como “remédio” excecional e festivo, associado a tempos especiais e lugares particulares, oferecido pela Igreja. Deste modo, a comunidade cristã que faz suas a dores do batizado perdoado. A indulgência está intimamente ligada ao sacramento da penitência, que é sacramento de cura, sem o qual não se compreende. Diz especificamente respeito à remissão da chamada “pena temporal” que decorre da absolvição do pecado. Quando nos confessamos, a graça do perdão absolve-nos da culpa do pecado cometido. Contudo, além da culpa, que diz respeito ao mau uso dado à liberdade, o pecado deixa marcas negativas em quem o realizou, nos outros e na criação, feridas graves que determinam o futuro. Correspondendo livremente à graça do perdão recebido, é necessário percorrer um caminho penitencial, custoso e lento, de trabalho sobre essas marcas negativas.
Ora, se o pecado foi perdoado, as suas marcas na memória, na vontade, na inteligência, nas atitudes, nas relações permanecem e precisam de ser trabalhadas para que o “homem novo”, de que fala S. Paulo, possa ser reativado e ganhar forma na vida concreta. É esta a “pena temporal”. De forma penitencial, o batizado que se reconhece perdoado deve, agora, corresponder à graça do perdão, empenhando a sua liberdade, para que se realize nele uma conversão profunda e existencialmente eficaz. É a este trabalho sobre a própria identidade que a “penitência” recebida no final do rito do sacramento inicia.
Se o contexto passado que viu nascer as indulgências era profundamente marcado por práticas penitenciais, a indulgência vinha atenuar a dureza desse mesmo regime penitencial. O ritmo ferial era interrompido por um elemento festivo, gracioso, benevolente. Hoje, num contexto radicalmente diferente e quando na compreensão do próprio sacramento da penitência se perde o enfoque no processo penitencial que dele deveria resultar, o recurso à indulgência deveria poder acender o desejo e iniciar a um verdadeiro exercício penitencial de trabalho sobre si mesmo.
A possibilidade de receber esta graça especial foi solicitada pelo Superior Geral dos Jesuítas, P. Arturo Sosa, ao Papa Francisco, que entendeu concedê-la aos fiéis por ser um meio de ajudá-los a progredir na sua conversão espiritual. Num ano tão especial como este, a Companhia de Jesus considera que esta pode ser uma ajuda no caminho de santidade a que todos os cristãos são chamados. Esta iniciativa decorrerá até finais de julho do próximo ano, quando se encerrará, em todo o mundo, a comemoração do Ano Inaciano.
Para acederem a esta graça especial, os crentes devem visitar uma igreja da Companhia de Jesus (ou confiada pastoralmente aos jesuítas), receber o sacramento da reconciliação, participar na eucaristia e rezar pelas intenções do Papa. As igrejas jubilares onde os fiéis podem cumprir esta devoção são a Capela do Imaculado Coração de Maria (Soutelo, Braga), Igreja de S. Paulo (Braga), Igreja do Colégio das Caldinhas, nas Caldas da Saúde (Santo Tirso), Igreja de Nossa Senhora de Fátima (Porto), Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Covilhã), Igreja da Sé Nova de Coimbra (Coimbra), Igreja de São Roque (Lisboa) e Igreja de São Francisco Xavier (Pragal).
Conversa na Brotéria
Para ajudar a compreender melhor este tema das indulgências e as possibilidades pastorais e espirituais que se abrem com esta iniciativa da Santa Sé, decorreu no dia 16 de setembro na Brotéria, uma conversa entre o P. José Frazão Correia, teólogo, e o P. António Júlio Trigueiros, historiador.
INFORMAÇÕES SOBRE IGREJAS JUBILARES – veja aqui
CAIXA DE PERGUNTAS – veja aqui
Uma explicação teológica e pastoral sobre as indulgências, a sua importância e polémica ao longo da história da Igreja, e as possibilidades pastorais que trazem aos nossos dias. Nove perguntas e respostas para melhor compreender este tema. Veja aqui.