Igreja de São João Batista do Lumiar
Embora se pense que tenha sido fundada no séc. XVI ou XVII, é no séc. XIII, em 2 de Abril de 1266, que é instituída como Igreja Paroquial de S. João Baptista e S. Mateus, sendo D. Mateus, Bispo de Lisboa (entre 1259 e 1282). Os espaços da Paróquia primitiva de 1266 correspondem hoje, “grosso modo”, aos espaços das atuais Paróquias do Lumiar, da Ameixoeira, da Charneca, de Telheiras e de Nossa Senhora do Carmo. Naquele tempo, era tudo “Paróquia do Paço dos Liminares”.
Em 1283, cerca de 17 anos após a criação da Paróquia, a Igreja recebeu, conforme reza a tradição, uma relíquia que se tornou um importante foco de devoção, a cabeça de Santa Brígida, mandada vir da Ibérnia (Irlanda) por D. Dinis. Esta devoção a Santa Brígida manteve-se aqui sempre, e, por ser protetora dos campos e do gado, aqui se realizavam, até há bem poucos anos (1932), grandes romarias e solene bênção do gado.
Durante os reinados de D. Manuel e de D. João III, houve uma extensa área em torno de Lisboa, um “grande labor” de reconstruções, reformando-se e ampliando-se velhas Igrejas. Também esta igreja sofreu nessa altura grandes obras, que transformaram a Igreja primitiva naquela que chegou aos nossos dias, integrando elementos do estilo manuelino de que é exemplo a porta lateral e os vestígios da capela de Santa Brígida. São desta época a pia batismal, datada de 1542, e o púlpito de pedra, na segunda coluna do lado direito, que tem inscrições relativas à execução da obra em 1546.
No ano de 1551, no decorrer do mês de Outubro, o Rei D. João III após ter assistido em Belém à transladação dos ossos do seu pai, foi, durante oito dias, para os campos de Alvalade, tendo visitado a Igreja diversas vezes para rezar a Santa Brígida.
Existem registos de uma torre sineira em 1577, ainda que com aspeto diferente da torre atual.
No início do séc. XVII, são realizadas novas obras na Igreja com a construção da porta principal em 1603, em estio clássico. Entre 1616 e 1617, procedeu-se ao assentamento de azulejos verde e branco, nas paredes da Igreja. Em 1619, concluiu-se o coro e são comprados dois órgãos para acompanharem as missas. É também deste ano o cruzeiro do adro da Igreja, em volta do qual se aglomeravam os rebanhos que recebiam as bênçãos de Santa Brígida.
No período de praticamente 50 anos, entre 1696 e 1745, concluiu-se o doirado e a pintura da capela-mor – recebendo o azulejista António de Oliveira Bernardes, em 16 de Julho de 1707, a quantia de quatrocentos mil réis pela realização da obra.
O terramoto de 1755 não terá causado grandes estragos à Igreja: “apenas padeceram de algum estrago a frontaria e a torre”.
Em 1780, terá sido encarregado o ourives António de Bastos de executar o cofre – relicário de prata dourada, onde é guardada a relíquia de Santa Brígida.
Dado o início do séc. XIX ter sido um período conturbado, com guerras e invasões, não é de admirar que a Igreja tenha sido assaltada a 10 de Novembro de 1822. Mas daqui até ao início do séc. XX, não existem outros registos marcantes, até à madrugada de domingo, 7 de Fevereiro de 1932, em que um violento incêndio destruiu quase por completo a Igreja. Em 2016, ainda se ouviram testemunhos de pessoas que assistiram a essa tragédia. Foi reconstruída sob a orientação do Arq. Tertuliano Marques e manteve o aspeto geral da antiga Igreja, onde as três naves articuladas entre si por dez arcos de volta perfeita, apoiadas em colunas de fuste liso, bases trabalhadas e capitéis jónicos, dão o enquadramento geral que se mantém na atualidade.
Reabriu para o culto em 24 de Dezembro de 1934, inaugurando-se com solenidade em 23 de Junho de 1935, com várias celebrações e a assistência do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manual Gonçalves Cerejeira.
De então para cá, sofreu pequenas alterações, com vista a adaptar-se à liturgia renovada, proposta pelo Concílio Vaticano II.
Como se sabe, após várias alterações, sofridas ao longo dos séculos, deu-se em Portugal, na primeira metade do século XIX, uma grande reformulação, sendo uma das mais significativas a total separação administrativa, em cada um dos espaços territoriais: a “administração religiosa” e a “administração civil”. Assim chegaram, até nós, com a designação de “paróquia” (religiosa) e de “freguesia” (civil).
[Curiosamente, estes dois termos estão trocados quanto ao seu significado, por motivos históricos que não cabe aqui explicar. De facto, “paróquia” é um termo grego que significa a vizinhança (par-oikía), e “freguesia” é uma expressão latina, que significa o conjunto dos “fiéis à Igreja” (fideles ecclesiae).]
Capela de São Sebastião
A capela de São Sebastião foi construída provavelmente nos inícios do séc. XVI, no termo da cidade de Lisboa, resultado da piedade dos moradores do lugar, quando em todo o país se popularizava a evocação de São Sebastião contra a peste. Ao redor da pequena ermida, erguida primitivamente num lugar solitário em honra do santo mártir, foram surgindo outras edificações, estando atualmente situada numa zona nobre do Paço do Lumiar.
Na primeira metade do séc. XVII, realizaram-se obras importantes, como atestam as datas inscritas na fachada exterior e no rodapé do arco cruzeiro. Estas obras realizaram-se com o patrocínio de capitão Estevão Soares de Albergaria, segundo a lápide sepulcral localizada no corredor central da nave. É desta época o revestimento de azulejos do acro cruzeiro, representando frontais de altar, bem como a colocação da pia de água benta, junto à entrada.
Nas primeiras décadas do séc. XVIII, houve nova campanha de obras, nomeadamente o revestimento azulejar das paredes laterais da capela-mor.
Após o terramoto de 1755, realizaram-se novas obras de restauro: na fachada principal, for refeito o janelão e a empena, e no interior a nova cobertura da nave, em estuque, obras empreendidas possivelmente pelo Pe. António Mamede. No final do séc. XVIII, foi realizada a pintura do arco triunfal.
Encontrando-se a capela bastante degradada, realizaram-se obras de recuperação entre 1988 e 1997. Foi reconstruído o tecto de madeira na nave e refeito o pavimento primitivo de tijoleira, mantendo o desenho original. No decurso dos trabalhos de restauro, foi também descoberto o primitivo retábulo-mor com embutidos, que estava revestido de talha dourada.
Capela de traça quinhentista, é um dos poucos testemunhos da herança arquitetónica gótica na freguesia do Lumiar.
A capela de São Sebastião encontra-se inserida no Conjunto Classificado do Paço do Lumiar.