Montes a perder de vista, temperaturas altas, sobreiros despidos e vacas a decorar a paisagem, estamos no Alentejo! É nesta paisagem tranquila que encontramos um grupo de 24 peregrinos originários da Coreia, Reino Unido, Irlanda, França e Eslovénia, acompanhados por um jesuíta francês e um voluntário português. Nesta experiência pretende-se aprofundar a fé através da ecologia e ambiente, tendo três pilares na sua base: a encíclica do Papa Francisco – Laudato Sí, os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, e a metodologia de Joanna Macy “Work that connect”, que consciencializa para uma intervenção ativa e quotidiana no que diz respeito à conversão ecológica. Parece uma tríade improvável mas é exatamente isso que a torna tão especial e permite oferecer uma proposta que transmita uma mensagem universal.

Conforme nos explica o jesuíta francês Gabriel, a proposta desta ambientalista, escritora e filósofa da ecologia baseia-se em quatro passos que nos recentram, “em certa medida lembram-me os exercícios espirituais inacianos aplicados à conversão ecológica.”

Durante toda a semana estes jovens vão aprofundar os quatro passos que esta metodologia pressupõe: (1) AGRADECER, (2) HONRAR A NOSSA DOR PELO MUNDO, (3) UM NOVO OLHAR SOBRE O MUNDO, (4) AGIR

O primeiro dia de experiência foi dedicado à gratidão. Após um momento de reflexão conjunta os jovens tiveram tempo para passear pelo monte, ajudar na horta e interagir com os locais que estavam curiosos pelos seus idiomas e feições pouco portuguesas. O primeiro dia foi dedicado a viver a maravilha de Deus de forma consciente e agradecida.

No segundo dia, os peregrinos focaram-se no aprofundamento das questões que diariamente agravam a crise ambiental que vivemos. Citou-se Francisco e a sua encíclica Laudato Si que nos acorda e faz agir apressadamente para mitigar esta problemática. Falou-se em ecologia quotidiana, conversão ecológica, globalização e diálogo.

Para conhecer melhor o terceiro ponto do paradigma ecológico de Joanna Macy os peregrinos tiveram um workshop que os colocou a pensar de que forma podiam agir: “Puting together elements that want to change ecologically and socially and then try to reunite ways of looking at it and resolve it.”

O contributo para a transição ecológica cabe a cada um dos cerca de 8 mil milhões de habitantes do planeta, no entanto, no fim desta semana já seremos mais a cuidar melhor da nossa Casa Comum.

A viver também uma experiência de Ecologia e Ambiente encontra-se um grupo de 19 jovens do Zimbabué, Zâmbia, Maurícias, França, Espanha e Portugal, acompanhados de um Jesuíta na Casa Velha. A Associação casa velha, de inspiração inaciana, foi criada em 2012, e a sua missão é contribuir para o Desenvolvimento Humano Integral, nas suas diferentes dimensões: pessoal, comunitária, local, em comunhão com toda a Terra e com a Humanidade.

O portão já estava aberto. A Casa Velha está sempre aberta para quem passe por lá. Tudo lá é feito para que quem chegue se sinta como em sua própria casa e também uma calma de quem caminha com a terra.

Quem está nesta experiência trabalha a seguir o ritmo da terra. A calma dos tempos de cada ser vivo que habita aquele espaço, das formigas, de cada um dos voluntários, passando pelas borboletas e todas as plantas e árvores. Esperar com a terra e com as estações, sabendo que a colheita não ocorre durante o ano inteiro, mas sim quando a terra estiver pronta.

Acordar com o sol e adormecer com o sol. Mas não é só tempo para trabalhar, mas também para descansar. Para contemplar o que se encontra diante dos nossos olhos, de compreender a beleza da criação.

Uma das coisas que o P. Frederico sj disse numa das missas foi – face ao evangelho daquele dia – viver o momento como as crianças. Para as crianças não há a ansiedade do amanhã, os problemas dos dias seguintes, mas sim o viver agora, o assentar na terra. E daí a experiência “down to earth” ir buscar um pouco às crianças. Viver a terra com o seu ritmo e não no ritmo da vida diária. Compreender que cada coisa tem o seu tempo, e que há tempo para todas as coisas (eclesiastes 3).

Na criação do anfiteatro, tudo era de produção local, desde a madeira às pedras. A construção da comunidade para a comunidade; e no final será usado para vários fins, um deles: a admiração da natureza, da beleza da criação e, assim, agradecer tudo o que Deus nos dá e continua a dar.