Nos passos
de S. Paulo

Pela Turquia e Grécia
26 de maio a 05 de junho 2024

Ponto de
Partida

 

Animados pela onda jovem que inundou Lisboa no verão e pelo sopro do Espírito que varreu a Igreja sinodal q ue o Papa Francisco sonha e já está a construir, viajamos até às origens do cristianismo para conhecer o berço das comunidades cristãs e rezar nos locais onde São Paulo pregou e difundiu a fé cristã para lá das fronteiras judaicas.

Ponto de
BUSCA

Partimos em busca e na companhia do mesmo Cristo que animou São Paulo e que o fez atear o seu fogo pelos primeiros cristãos da região da Turquia e da Grécia, mas num tempo e num mundo feridos pela guerra, pela desesperança e pela ausência de Deus.

Partimos à descoberta porque sonhamos um mundo onde a religião e a cultura podem e devem ser caminhos de diálogo e de paz. E partimos porque na vida dos primeiros cristãos, que iremos aprofundar através da oração, da meditação das Escrituras e da partilha entre todos, queremos buscar inspiração para a nossa vida pessoal e eclesial.

Ponto de
INTERROGAÇÃO

Caminhamos com o desejo de conhecer os locais onde os discípulos de Jesus começaram a ser tratados como cristãos, de aprofundar as questões teológicas e pastorais que os ocuparam e, com isso, ajudar a construir uma igreja sinodal, missionária, e comprometida com os problemas de cada um e do mundo atual.

Ponto de
ENCONTRO

Viajamos num grupo de 48 pessoas que têm em comum o facto de serem leitores do Ponto SJ. Teremos a acompanhar-nos o P. José Frazão Correia, diretor da revista Brotéria, teólogo e pensador das grandes questões da atualidade religiosa e cultural, que tem refletido sobre a relação entre a fé e o mundo e sobre a reconfiguração das comunidades cristãs no futuro. Connosco irá também o P. Domingos Monteiro da Costa, jesuíta a trabalhar no Algarve há várias décadas, e um profundamente conhecedor da história e dos locais que vamos visitar e que nos contagiou com a sua energia e sabedoria.
Em conjunto, estudaremos e meditaremos sobre os textos sagrados, celebraremos a eucaristia e partilharemos a vida e a mesa, como os primeiros cristãos.

Programa da
Viagem

Iniciaremos a nossa viagem em Istambul, na Turquia, onde visitaremos o Hipódromo Romano, a mesquita azul, e daremos um passeio de barco no Bósforo

Depois voaremos até à Capadócia, onde os primeiros cristãos construíram as suas igrejas e cidades subterrâneas no tufo originado pela lava e cinzas vulcânicas. Uma verdadeira maravilha da natureza com igrejas rupestres decoradas de frescos e pinturas bíblicas do séc. X e XI.

Daí seguiremos para Konya, antiga capital do Império Seljúcida, centro religioso e cultural importante do séc. XIII, e depois para Pamukkale, conhecida pelas suas fontes termais pelas cascatas petrificadas que deram origem ao nome de “Castelo de Algodão” e é uma das mais belas zonas naturais do mundo.

Já em Éfeso, cidade onde S. Paulo veio pregar muitas vezes e S. João escreveu o seu Evangelho e, onde foi construída a primeira das 7 igrejas do Apocalipse, visitaremos a Casa da Virgem Maria, onde viveu os últimos anos.

Em Kusadasi, embarcaremos num cruzeiro que nos levará até à Grécia. No caminho visitaremos a ilha de Patmos, o mosteiro e a gruta onde o apóstolo João teve visões e ouviu as revelações de Deus sobre o fim do mundo, as quais resultaram no Livro do Apocalipse. Ainda neste percurso de barco, visitaremos a ilha de Creta e Santorini.

Já na Grécia, iremos a Corinto, Micenas e Atenas, locais onde a presença, a ação apostólica e as marcas de São Paulo são profundas.

Programa de preparação da viagem
(abril-maio)

Curso em três sessões online orientada por jesuítas:

  • Cartas de São Paulo
  • Os grandes debates eclesiais
  • Diálogo inter-religioso

Condições

Preço em regime de quarto duplo: 3250€

Inscrição – 1000€
1ª prestação: até 30 de janeiro de 2024 — 1000€
2ª prestação: até 26 de Fevereiro de 2024 – 1250 €

 

Preço em regime de quarto individual: 3950€

Inscrição – 1000€
1ª prestação: até 30 de janeiro de 2024 — 1000€
2ª prestação: até 26 de Fevereiro de 2024 – 1950€

O que inclui

  • Voo internacional e interno na Turquia
  • Taxas de aeroporto, segurança e combustíveis
  • Seguro de viagem
  • Estadia de 7 noites em hotéis de **** (Turquia e Atenas)
  • Estadia de 2 noites no cruzeiro em camarote exterior
  • Regime conforme se indica no programa (9 pequenos almoços ; 9
    almoços; 9 jantares)
  • Guia local
  • Taxas portuárias obrigatórias ( valor de 129,00 €)
  • Passeio de barco no Bósforo
  • Excursão Patmos ( Mosteiro de São João e Gruta do Apocalipse ); Creta
    ( Palácio de Knossos)
  • Entradas na Acrópole ; Novo Museu Acrópole em Atenas e Corinto
  • Bebidas às refeições durante o cruzeiro
  • Taxa de cidade em Atenas

O que não inclui

  • Gratificações a guias e motoristas
  • Qualquer extra de carácter pessoal (bebidas às refeições, serviço
    e consumos no quarto do hotel, menus especiais, etc.) e tudo o
    que não estiver devidamente especificado no presente programa;
  • Auriculares
  • Bagageiros

Dois a dois,

nunca sozinhos

Por Teresa Martins Pupo e Duarte Pupo Correia
26.05 a 05.06.2024

Na confluência de continentes esvoaçam múltiplas bandeiras nas encostas da Turquia que rodeiam o Bósforo, como que sublinhando bem ser aquele território seu. Uma delas, com 1000 m2 de área, hasteada num mastro de 111 metros, foi música de fundo para o meu olhar no decurso de dias tão memoráveis “Nos passos de S. Paulo”, título da 2ª Peregrinação do Ponto SJ.

As construções frágeis semelhantes a papel que ali pululam, pois têm de albergar 16 milhões de habitantes, contrastam com os múltiplos palacetes de inspiração francesa e as casas ricas com iates acostados à beira das águas do Bósforo, em Istambul.

As vozes dos muezzin propagam-se pelos minaretes, apelando à oração cinco vezes ao dia. Uns sentem-se chamados e a ela respondem, outros continuarão com as suas vidas, indiferentes, testemunhando a diversidade existente nesta enorme e extraordinária cidade.

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À entrada da Mesquita Azul arrumamos os sapatos em estantes ordenadas que exalam um odor característico e avançamos para as maravilhas do interior. Azulejos azuis, múltiplos candeeiros redondos, muito grandes e relativamente baixos, tectos brancos, muito altos e mesclados de flores e frescos azuis, rosa e grená tornam a visita obrigatória.

Ali coincidem grupos conduzidos por guias que decantam a sua história, ouve-se à volta um Babel de idiomas: português, inglês, espanhol, alemão, japonês e, em espaços isolados, homens dispõem-se em diferentes posições para a oração da tarde.
Rumamos depois à Hagia Sophia, situada mesmo em frente. Interdito recentemente o piso térreo, podemos vê-la do 2º andar passeando nas galerias que a permitem contornar numa volta 360 e que, em si mesmas, reservam inúmeras maravilhas. De cima para baixo a extensa e fofa alcatifa azul-turquesa reveste a Igreja que se tornou Mesquita. Acolá um biombo branco em treliça separa a área de oração exclusiva aos homens, com o púlpito característico onde pregará o Imã. Aqui mais perto, passam famílias em sussurros respeitosos.

Também mais próximo, mas ainda lá muito em baixo, numerosos e grandes candeeiros redondos caem de um tecto altíssimo, onde panos em forma de vela tentam ocultar imagens bizantinas de Nossa Senhora e do Menino, de S. José e outros Santos tão queridos da Cristandade.

A destruição das figuras pintadas, pela mão dos Iconoclastas, retrata o absurdo da destruição inútil e fratricida, que as guerras religiosas podem trazer. Apesar de tudo, beleza inigualável sobrevive, mantendo-se preservada nos maravilhosos mosaicos que ainda subsistem.

A Missa foi celebrada na Igreja de Sto. António de Pádua, para nós, de Lisboa, gradeada por altíssimo portão de ferro e com um dissuasor carro da polícia à porta.

A viagem prosseguiu no dia seguinte em Goreme, na Capadócia, no extraordinário vale que outrora abrigou igrejas, capelas e aposentos de comunidades monásticas do cristianismo inicial. Os frescos são de uma diversidade e riqueza impossível de descrever e por si só mereceriam uma viagem a eles dedicada. Já no lugar da 2ª Eucaristia, apertámo-nos 50 cristãos católicos numa Igreja minúscula, escondida e escavada nas formações de rocha vulcânica características daquele lugar. Após a Consagração, começávamos o Pai-Nosso e a nossa guia, Sesani (ou Fathma) e o motorista da camioneta, Ahli, interpelados pelo muezzin à Oração das 10h00, juntam-se na antecâmara da Igrejinha e iniciam as suas próprias orações. Momento especialmente comovente e emocionante. Ecuménico. Unitivo.

Recordam-nos que Deus, Iaweh, Alá, é agregador, não divisor ou promotor de guerras santas. Para o Islão a guerra santa [a travar] é o combate interno que cada um tem de fazer à indiferença e à endeusificação de outros ídolos dentro de si.

No Hotel, no dia seguinte, o desafio não foi de eventual (nunca sentida) insegurança, mas a música batida que tocava nas piscinas exteriores e que acompanhou a terceira Eucaristia. Ali se partilharam fragilidade e dores dos que trouxemos no coração e nos acompanharam nesta viagem peregrinação.
Pelo caminho Hierápolis e Pamukkale, terras por onde andou e foi martirizado S. Filipe, apóstolo.

Em Esmirna, a Missa decorreu numa Igreja rodeada de muros altos e cercada por arame farpado. No final, o Padre polaco apelou apoio para a Comunidade local, que passa por tantas carências que, mesmo para a liturgia em turco, tem de descarregar diariamente os textos da internet…

Depois Éfeso, onde, nas espantosas ruínas do que foi uma cidade com mais de 1 milhão de habitantes nos tempos de Roma – a maior da região – passámos pelos locais onde Paulo e seus discípulos enfrentaram a resistência dura dos fiéis da deusa Artemisa – a mesma do grande templo que ali existia, uma das maravilhas do mundo antigo. Também ali, a basílica de Santa Maria, onde em 431 o grande Concílio reconheceu a maternidade divina de Nossa Senhora.

Não longe dali, num lugar perdido nos montes de singular beleza, visitámos a casa onde Maria Santíssima, levada por S. João, teria passado os últimos anos da sua vida. Aqui celebrou-se comovente Eucaristia. É um local muito especial, de veneração por católicos e muçulmanos turcos, que a ela se referem carinhosamente como “Mãe Maria”, a única mulher referida no Corão.

Já no hotel, ao cair do dia, importante conversa sobre como ser cristão hoje.

Levou-nos, portugueses vindos de Ponte de Lima, Aveiro, Cascais, Lisboa e Portimão, a debater sobre os desafios e caminho árduo para continuar a transmitir a força e atualidade do Evangelho, numa Igreja que tem necessariamente de se abrir, neste mundo em mudança tão permanente e radical.

Como S. Paulo, que tinha a consciência de que falar e testemunhar a Boa Nova aos atenienses e povos de outras culturas exigia a utilização de diferentes e novas linguagens, contrastantes com aquela em que ele próprio crescera. Que também teve de conviver e integrar maneiras diferentes de pensar na Igreja do seu tempo.

O calor escaldante não o desalentou, a teimosia, sobranceria e até violência dos poucos que o ouviam, as humilhações sofridas – “Que quererá dizer este papagaio?”, ouviu em Atenas, não o demoveram. “Quando estou fraco, aí é que sou forte, porque o Senhor está comigo!

Na confluência entre o mundo Oriental e Ocidental senti, com as chamadas para a Oração, que Deus não é ali (ainda?) posto à margem. Nem sequer da discussão e do debate, pois não se fica indiferente ao som melodioso do cântico que a ela chama.

Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Querer fazer tendas com pessoas que, apesar das diferenças, têm pontos de encontro, sentires nem sempre assim tão distintos, alargar a porta de entrada, ultrapassando a tibieza e as resistências testemunhadas por S. Paulo.

Em simultâneo, porém, não dará alento a que, em comunidade, mas para lá dela, não desistamos de tentar ser mais à forma de Cristo, testemunhando e vivendo que Deus É Amor?

Num outro tempo em que todos deveriam pensar do mesmo modo, ser cristão no mundo ocidental pode já ter sido mais fácil. Terá sido, porém, menos maduro. Hoje falar Nele no Ocidente pode fazer-nos incorrer no risco de sermos tratados como foram S. Paulo e os seus seguidores nas Igrejas que fundou no Oriente. Não só com humilhação, mas com a morte. Como acontece em vários pontos do globo.

Aqui foi possível reanimar forças, repensando na Missão que Cristo nos confiou: “eis que vos envio, como cordeiros, para o meio de lobos”.

Mas Jesus sabia tão bem os desafios que interna e externamente poderiam – poderemos – ter de enfrentar, que os enviou dois a dois, nunca sozinhos.

A nossa viagem conjunta levou-nos ainda por muitos locais lindos e emocionantes, como Patmos, local da revelação do Apocalipse a S. João, Creta, terra de Tito, discípulo de Paulo, Santorini, Corinto, Micenas e finalmente Atenas.

Que privilégio ter podido participar nesta Peregrinação (2ª do Ponto SJ), mas, em simultâneo, que responsabilidade. Tanto bem recebido e tanto bem a comunicar!

Nos Passos de São Paulo:
Um lado B

 
António Dantas

Dia 1 – A mala do Padre Domingos; A viagem de Costa a Contracosta

Na fila para fazer o check in, despachar a bagagem de porão e receber o respetivo cartão de embarque existe, pelo menos, uma mala que se diferencia das restantes pelas suas dimensões. A nossa viagem terá uma duração de 11 dias, durante os quais percorreremos diversas geografias, para muitos de nós será pisar terreno desconhecido, ou dito por outras palavras são muitos os imponderáveis incluindo o tempo meteorológico que iremos encontrar. Ou seja, para os comuns dos mortais, encafuar a roupa e acessórios absolutamente indispensáveis, para uma longa epopeia de 11 dias, dentro de uma mini-mala de cabine, constitui um exercício de contorcionismo impossível de executar. Mas, ao que parece, esse exercício não é impossível para o Padre Domingos, o que nos leva a concluir que não estamos perante um comum mortal ou, e mais provavelmente, o quão longe estamos ainda daquele estadío superior de desprendimento jesuítico. A mala do Padre Domingos é a prova provada do nosso apego aos bens mundanos supérfluos pois o seu diminuto tamanho contrasta com os baús formato XXL que vão sendo etiquetados e engolidos para as profundezas do aeroporto. 

O voo de Lisboa para Istambul tem a duração aproximada de 4 horas e meia, tempo mais do que suficiente para ir espreitando o mapa de bordo e ficar familiarizado com os contornos dos países e nomes das cidades que vamos sobrevoando. Porém, existe uma singularidade neste mapa da Turkish Airlines: Uma das suas funcionalidades indica a direção de Meca assim como a hora da próxima oração em função do local escolhido. A juntar à saudação da tripulação “Welcome Ladies, Gentlemen and Children” e ao anúncio emitido pela megafonia no momento em que o A321 neo aterra numa das pistas do Aeroporto AtatürkWelcome to Istambul, the meeting point of the World!” aquela constitui mais uma curiosidade para um viajante ocidental. Atendendo ao que nos é dado a observar através da vigia da aeronave, bem como o tempo que o avião demora até chegar à respetiva manga telescópica para desembarque, facilmente concluímos que o novo Aeroporto Atatürk é um verdadeiro colosso. E quando caminhamos em direção ao hall para a recolha de bagagens, num dos anúncios publicitários, pode ler-se que a Turkish Airlines é, a nível mundial, a companhia aérea que voa para mais destinos internacionais pelo que o Meeting Point of the World talvez não seja apenas um chavão megalómano ou uma questão de chauvinismo. No posto de controlo de entrada, ou alfândega, sorrimos para a câmara, antes de ouvir aquele som mecânico do carimbo no passaporte e que soa sempre a música para os nossos ouvidos pois equivale a dizer que fomos aceites a entrar neste país.

Depois de recolher as malas, felizmente não houve perdas de bagagem, o grupo está completo e vamos de encontro à nossa guia e anfitrião. Chama-se Cezanne, ou Susana, para facilitar, quem nos acompanhará enquanto estivermos em solo turco. Susana é uma jovem turca que aprendeu a língua de Camões durante uma estadia de 6 meses no Brasil, posteriormente complementada com os sempre enriquecedores diálogos das telenovelas da Globo. Aquele jeitinho de falar, com o inconfundível sotaque brasileiro, aliado a um toque de inocência com uma certa construção gramatical turca resulta numa mistura deliciosa e bem agradável de se ouvir. A excursão é composta por 50 pessoas, a que se juntam Susana e o nosso motorista, ou seja um autocarro com a lotação praticamente completa e que nos levará por uma auto-estrada, que parece de construção recente, até ao nosso hotel. Enquanto a viagem decorre vamos aprendendo as primeiras lições sobre a geografia local e que ouviremos repetidas vezes durante os próximos dias. Para já, ficamos a saber que Istambul, outrora Bizâncio e depois Constantinopla, é atualmente uma mega metrópole com mais de 16 milhões de habitantes sendo a única cidade do mundo que se situa em 2 continentes: Europa e Ásia.

Chegamos ao nosso hotel de 5 estrelas, algo inflacionadas é verdade, situado algures na imensa Istambul. O fuso horário indica que estamos duas horas adiantados em relação a Portugal Continental pelo que temos tempo apenas para deixar as malas no quarto antes de descer para o jantar. Embora parte significativa dos elementos que compõem o nosso grupo já se conheçam entre si de outras aventuras há também alguns ilustres desconhecidos pelo que, uns mais timidamente que outros, vão-se dando a conhecer e trocando as primeiras impressões. 

Voámos de Costa a Contracosta, do extremo ocidental para o extremo oriental da Europa, e mesmo sendo um dia com apenas 22 horas este faz-se longo e cansativo. Mas antes de ir dormir é importante fazer o lançamento da viagem e, mais uma vez, recordar que ao estarmos fora da UE é conveniente ter os dados móveis sempre desligados. Enquanto em território turco, sempre que possível deveremos cingir-nos ao wifi dos hotéis, restaurantes etc. um conselho sábio que nos permitirá poupar várias centenas de euros. Aproveita-se a oportunidade também para fazer as apresentações de carácter mais formal: Quem somos? Donde viemos? O que fazemos? Qual a nossa ligação aos Jesuítas? Fica claro que para uns a cabeça está distante e ainda longe do verdadeiro espírito da viagem mas nada que uma boa noite de sono não possa resolver. Infelizmente, para alguns, o sono não é assim tão retemperador e tudo por causa do barulho dos martelos pneumáticos que irrompem no silêncio da noite. Obras! A lei do ruído ainda não se aplica por estas paragens. Por outro lado, talvez seja necessário rever aquele preconceito, tremendamente atual e que faz parte da espuma dos dias, mais concretamente que os turcos não são um povo particularmente trabalhador. Fica então explicado o porquê dos turcos terem conseguido construir aquela mega infra-estrutura aeroportuária em apenas 5 anos. 

De qualquer forma, nem o barulho noturno dos martelos pneumáticos nos demove e nos retira um pingo de entusiasmo para enfrentar tudo o que aí vêm pois a mensagem para este primeiro dia é inequívoca: Iniciar com grande ânimo e generosidade.

Dia 2 – Ôi Genti… Tá?; A Cidade

Oi Genti! Durante os próximos dias, vezes sem conta, a Susana irá presentear-nos com esta simpática e descontraída saudação a ponto de se tornar, dentro da vertente laica ou pagã da viagem, na expressão mais repetida e carismática de toda a nossa estadia. 

Deixamos o hotel Lionel sem tempo sequer para desfazer as malas, um cenário que se repetirá ao longo destes dias. O nosso autocarro leva-nos até o centro de Istambul, segundo a nossa guia e etimologicamente falando Istambul significa “Cidade”, num trajeto de poucos quilómetros mas que durará mais de 40 minutos. Tal como em muitas outras cidades deste mundo o trânsito aqui é absolutamente caótico. 

Na Igreja de Santo António, reconstrução do início do século XX fazendo relembrar o estilo veneziano, temos o nosso primeiro momento de pacificação. Neste diminuto oásis de tranquilidade, o Padre José Frazão relembra-nos que é sempre mais fácil as manifestações de Deus se revelarem nas pequenas coisas, claramente em oposição àquele pensamento tão marcadamente humano que tende sempre a buscar respostas e realização naquilo é grande, mais alto, maior. Ao sermos partícipes desta Eucaristia, celebrada numa das raras igrejas cristãs perdida algures nesta mega urbe, inconscientemente estamos a replicar os passos de São Paulo pois, e ao contrário do que hoje se possa pensar, o maior impulsionador do testemunho de Cristo pregava para uma minoria, as suas pregações eram escutadas por 4 gatos pingados, parafraseando uma expressão utilizada pelo Padre José Frazão durante a sua homilía.

Voltamos ao nosso autocarro, que nos conduz até ao cais, onde embarcamos num barco que nos levará para um passeio turístico pelo Bósforo. O Estreito do Bósforo, com 32 quilómetros de comprimento, separa os continentes europeu e asiático lingando o Mar Negro, a norte, com o Mar de Mármara, a sul. O nosso barco ruma precisamente na direção norte pelo que a parte europeia de Istambul situa-se a bombordo isto é na nossa margem esquerda. Com a Torre Gálata sobressaindo do casario em pano de fundo vamos deixando para trás os hotéis e restaurantes luxuosos, palácios sumptuosos e frotas de iates ancorados em pequenas marinas. Retratos gigantes do omnipresente e magnânimo Atatürk, literalmente, O Pai dos Turcos, e bandeiras da República da Turquia, algumas com centenas de metros quadrados de pano, ondulam ao sabor da brisa do Bósforo. Nesta manhã soalheira, são inúmeras as embarcações que sulcam as águas do Estreito, incluindo os ferries que fazem a ligação entre as duas margens, o que significa que para além de ser a única cidade que se distribui por 2 continentes é também, provavelmente, o único local do mundo onde é possível fazer uma viagem intercontinental pelo preço de uma bica servida em café de província. Mantendo o rumo norte chegamos até o local onde o Bósforo é mais estreito, pouco mais de 600 metros separam as duas margens, e onde foi construída a cidadela que serviu de apoio ao cerco a Constantinopla levado a cabo pelo Sultão Mehmed II. O nosso barco dá meia volta pelo que a margem europeia fica agora a estibordo, do nosso lado direito. A propósito do cerco a Constantinopla, e olhando para o calendário, estamos a 27 de Maio ou seja daqui a 2 dias comemora-se o 571 aniversário da tomada desta cidade pelos Otomanos, evento que pos termo ao Império Romano do Oriente. 

Almoçamos no interior da Ponte Gálata e depois seguimos para o Corno de Ouro, zona onde se concentram as mais emblemáticas atrações turísticas da cidade. No interior da Mesquita Azul, um dos maiores templos do Islão caracterizado pelos seus 6 minaretes, já descalços e as senhoras também com a cabeça coberta, apesar da imensa multidão que nos rodeia, escutamos atentamente da nossa guía uma interessante e didática explicação sobre os 5 pilares da fé islâmica assim como alguns conceitos sobre o Islão de rua, termo utilizando pelo Padre Rui Fernandes durante a última sessão preparatória da viagem e que teve lugar no CUPAV. A visita a Hagia Sophia é opcional pelo que alguns de nós trocamos este programa cultural por um gelado à sombra dum jasmin ao mesmo tempo que vamos observando, descontraidamente, as hordas de turistas no seu frenesi de compras e incessante busca dos melhores ângulos para as inevitáveis selfies. No imenso labirinto que é o Grande Bazar de Istambul, hoje profusamente decorado com bandeiras do Galatasaray que na última noite se sagrou campeão da liga turca de futebol, somos bombardeados por uma overdose de cores, cheiros, sensações, tendo sido quase um milagre que há hora combinada o grupo se apresentasse completo. Serve esta deixa para dar uma primeira palavra de agradecimento às 3 organizadoras da viagem, in alphabetical order à Isabel, à Mena e à Rita, posteriormente batizadas de Anjos de Charlie mas essa história virá para depois, pela sua incansável labor e preocupação para que tudo pudesse decorrer dentro da mais absoluta perfeição. 

Ainda não passaram 24 horas depois de termos aterrado e já estamos de regresso ao colossal Atatürk. E quando a maioria se prepara para retemperar forças com uma tão desejada sesta eis que: 

Oi genti… A Turquia é um pais com cerca de 80 milhões de habitantes, tá? Apenas 3% da superfície do território fica na parte europeia, chamada Trácia, tá, enquanto os restantes 97% ficam na Ásia Menor mas que aqui na Turquia se chama Anatólia, tá? A Turquia faz fronteira a norte com a Georgia e a Arménia, tá? A leste está o Irão e a sul encontra-se o Iraque e também a Síria, tá? Alguns são vizinhos complicados por isso, para entrar no aeroporto, é necessário fazer um controlo prévio da bagagem, tá? Neste controlo podem levar líquidos, tá? Mas no segundo controlo, para aceder à área de embarque, já não podem levar líquidos, tá? 

Embarcamos para Kaserei (Cesareia, em português) cidade localizada no coração da Capadócia, para um voo interno de hora e meia. Como há overbooking alguns de nós são beneficiados com um upgrade para Business Class. De qualquer forma, damos o lugar aos nossos Guias Espirituais. Trocar um lugar em Business por um lugarzinho no céu parece um bom negócio! 

É quase meia noite e ainda temos pela frente uma hora de camioneta até chegar ao nosso hotel, situado numa localidade de nome desconhecido: Ürgüp. Tempo para refletir e trocar impressões com a pessoa do lado sobre o que mais nos tocou neste dia tão rico e intenso.

Dia 3 – Günaydin; O chamamento do Muezzin

Acordar na Capadócia. Bom dia, ou melhor, Günaydin: Mais uma palavra carismática desta viagem e, para muitos de nós, o único vocábulo do léxico turco que conseguiremos incorporar à nossa linguagem de rotina. Bom, talvez alguns tenham ainda memorizado a palavra portakal, e que traduzido para português significa… laranja!  

Poucos minutos passam das 8 horas e já estamos dentro do bus desta feita para visitar as construções escavadas no interior da rocha e tão típicas desta região, locais que serviram de refugio para muitos dos primeiros Cristãos. Apesar de ser ainda relativamente cedo o calor já se faz sentir mas não o suficiente para nos demover de escalar uma pequena montanha e explorar as diferentes grutas e antigas habitações, algumas das quais em formato de pequenas catedrais com as respetivas pinturas, nas paredes e teto, representando cenas bíblicas.

Finda esta primeira visita, dirigimo-nos para mais um momento de pacificação e que, desta feita, terá lugar na Gruta de Nossa Senhora onde celebraremos a Eucaristia do dia. O simbolismo, a simplicidade e austeridade do local convidam à reflexão e oração pelo que até os 2 elementos não Cristãos do grupo parecem estar em comunhão connosco, impressionados com toda a atmosfera de paz que nos envolve e que se respira. A verdade é que já foi possível perceber que a Susana, quando pretende fazer alusão a algum aspeto relacionado com o Cristianismo, de forma respeitosa e muitas vezes com um simples olhar, busca sempre uma espécie de aprovação tácita ou consentimento nos nossos Guias Espirituais, no fundo como se pedisse licença antes de se aventurar a pisar terrenos alheios à sua religião, um gesto revelador de sensibilidade e respeito. Durante a visita da manhã, à sua pergunta se Jesus Cristo poderia ser considerado como um Profeta responde o Padre Domingos de maneira genial: Poder, pode, mas é sempre o Maior de todos.

Muito provavelmente não foi uma questão de coincidência mas poucos segundos após a consagração começamos a ouvir em fundo a voz do Muezzim, chamando os fiéis de Alá para a oração do meio dia. E curiosamente, ou talvez não, aquele chamamento não representa um corpo estranho ou hostil, não têm o poder suficiente para nos abstrair da nossa Celebração Eucaristica, é como se estivéssemos perante um coro a duas vozes, a voz do Padre Domingos acompanhada em fundo pela voz do Muezzin, uma perfeita metáfora que simboliza o encontro de culturas ou harmonia entre religiões. Foi sem dúvida um momento místico e dos mais marcantes de toda a viagem o qual, seguramente, iremos recordar para o resto das nossas vidas. 

A missa reconforta-nos a alma e o espírito pelo que urge agora satisfazer o estômago. “O almoço é buffett mas as bebidas e café não estão incluidos, têm de ser pagas à parte, tá?”. Mais uma das frases que, repetidamente, iremos ouvir durante toda a viagem. 

Já com o estômago satisfeito visitaremos uma cidade subterrânea, uma das 30 cidades existentes no subsolo desta região entretanto descobertas, locais onde os primeiros Cristãos se refugiavam não só dos rigores do Inverno mas sobretudo das cruéis atrocidades de que eram objeto. Naquela altura, o Cristanismo era ainda uma religão considerada ilegal e, por isso, motivo de perseguição impiedosa. A dita cidade que visitamos não é demasiado profunda, têm apenas 2 níveis abaixo da superfície, mas mesmo assim não podemos deixar de imaginar o austero tipo de vida a que aquelas populações, animais incluídos, eram sujeitas, no fundo o como conseguiam sobreviver debaixo do solo durante 4 infindáveis meses é algo que nos causa uma perplexidade imensa. As enormes pedras circulares que serviam para tapar ou bloquear as entradas causam bastante admiração entre os visitantes. Como apontamento de reportagem foi referido que a maior cidade até agora descoberta têm 9 níveis subterrâneos facto que, só de ser imaginado, despoleta em todos nós uma forte sensação de  claustrofobia.

Chove copiosamente sobre a Capadócia pelo que, antes do previsto, regressamos ao nosso hotel. Facilmente se percebe que esta é uma região de clima relativamente seco e apesar de termos sido obrigados a alterar os planos da viagem, como em qualquer outro lugar do mundo, a chuva é sempre uma benção. Em contrapartida, ficamos com tempo livre no hotel para outras actividades mais lúdicas, para descarregar as centenas de fotografias que entretanto foram sendo enviadas para o whatsapp do grupo ou, simplesmente, para descansar.

Depois do jantar, num dos salões do hotel, formamos um círculo com as cadeiras e temos a nossa primeira partilha de grupo. Ainda nem sequer 3 dias se passaram desde que saímos de Lisboa mas mesmo assim já há tantas experiências e reflexões interessantes para partilhar.

Dia 4 – Go West

Acordamos tão cedo que ao espreitar pela janela do quarto conseguimos ver uma miríade de balões de ar quente suspensos num céu azul imaculado. Os passeios em balão, para assistir de camarote ao nascer do Sol são, seguramente, uma das maiores atrações turísticas da Capadócia. E foi a chuvada ocorrida na tarde anterior que permite que o céu se nos apresente com um azul mais intenso, límpido e cristalino, a mesma chuvada que nos obriga a levantar meia hora mais cedo para podermos completar o programa, que estava previsto para o dia anterior, e que consistia em visitar um outro ícone desta região, nomeadamente as curiosas esculturas da natureza, vulgo Chaminés de Fada. 

Dia 29 de Maio é dia de duplo aniversário: um dos ilustres do nosso grupo celebra a vida enquanto os turcos comemoram a queda da Cidade de Constantinopla e o fim do Império Romano do Oriente, às mãos dos Otomanos, e que teve lugar precisamente neste dia mas no ano de 1543.  

Para hoje, temos pela frente uma viagem de quase 700 quilómetros, em direção a Oeste, ou seja vamos atravessar grande parte da metade ocidental da Anatólia. A viagem vai decorrendo sem qualquer sobressalto por estradas e vias rápidas que em nada ficam atrás quando comparadas com as congéneres de qualquer país europeu. Além disso, a limpeza das mesmas deixa-nos positivamente surpreendidos sendo difícil de vislumbrar, nas respetivas bermas, garrafas de plástico ou qualquer outro tipo de lixo. Por outro lado, os campos estão cultivados e verdejantes o que vêm de encontro àquilo que já nos disse a nossa Susana, nomeadamente que a Turquia é um país auto-suficiente no que a bens alimentares se refere. Trigo, cevada, milho, batata, beterraba, damascos são algumas das culturas que mais frequentemente nos vão surgindo em ambos os lados da estrada. Como a viagem é longa os nossos Guias Espirituais convidam-nos ao silêncio e dão-nos pistas para reflexão. Refletimos, com as Montanhas Taurus bem lá ao fundo no nosso lado esquerdo, enquanto o autocarro, rolando para Oeste em velocidade tão constante que convida ao sono, vai deixando para trás o Planalto da Capadócia.

A primeira paragem têm por objetivo fazer uma rápida visita ao Caravansarai de  Sultanhani uma fortificação erigida no século XIII, durante o reinado dos Seljucídas, e que servia de apoio às caravanas que trilhavam a Rota da Seda. Mais uma vez não podemos ficar indiferentes ao excelente estado de conservação deste monumento bem como à limpeza de todo o espaço circundante. 

Sempre com o rumo apontado a Oeste, e sensivelmente a meio caminho do nosso destino final, chegamos à Cidade de Konya, outrora capital do Reino Seljucída. Trata-se de uma cidade com cerca de 2 milhões de habitantes e, pelo que nos é dado observar, espaçosa e moderna, embora seguramente tenha muita história e rica em pedras que falam. Mas a nossa passagem por Konya é bastante cirúrgica pois tem como objetivo uma visita ao Museu Mevlana e cuja principal atração corresponde ao túmulo, ou mausoléu, do poeta e filósofo Rumi. A nossa guia dá-nos umas pinceladas sobre a filosofia de Rumi, uma filosofia de vida, e tratando-se de um local de culto somos obrigados a colocar nos nossos sapatos uma proteção de plástico enquanto que as senhoras, tal como sucede em qualquer mesquita, terão de cobrir a cabeça. Almoçamos num restaurante bastante típico perto do Museu Mevlana e depois, infelizmente e ao contrário do que estava previsto inicialmente, não poderemos visitar a Igreja de São Paulo pois dizem-nos que se encontra em obras. A versão oficial deixa-nos céticos, ou desconfiados, mas a viagem têm de seguir, para Oeste, é claro, sempre para Oeste. 

Algures à saída de Konya rezamos o terço. Numa pequena aldeia, ou vila, contam-se 8 mesquitas. As Montanhas Taurus continuam à nossa esquerda e, mesmo antes da primeira paragem técnica pós-almoço, as centenas de hectares de pomares de cerejeiras são indicador que chegámos a uma zona mais fria. A segunda paragem técnica dá-nos a possibilidade de experimentar iogurte com haxixe, uma recomendação da Susana! Apesar das paragens a viagem torna-se cada vez mais cansativa e os últimos quilómetros até Pamukkale, nosso destino final, são feitos em esforço e já no lusco-fusco.

Fim do trajeto e procedimentos que se vão tornando rotineiros: Resgatar as malas do autocarro, check in na receção, olhar de relance para os e-mails e mensagens do whatsapp, jantar buffet com bebidas não incluídas… Ainda há tempo e energia para uma missa, supostamente para mais um momento de pacificação, desta feita numa das salas de conferências do hotel. Supostamente porque a celebração desenrola-se ao som, vindo da zona da piscina, do  Bailando, Despacito e outros mega-hits dos anos 80, incluindo uma música dos Petshop Boys intitulada, Go West

Após uma viagem tão longa e apesar de toda a distração e ruído exterior, que inclusivamente nos faz bater o pé, só mesmo as palavras do Padre José Frazão têm o condão de captar e manter a nossa atenção, neste caso só o Padre José Frazão para centrar a nossa fé no eixo da vida ou a vida no eixo da nossa fé.

Dia 5 – A fé sobe montanhas; A vida em ponto morno

Dia 30 de Maio, 5ª feira, Solenidade do Corpo de Deus. Também é dia de parabenizar mais uma pessoa ilustre do nosso grupo. 

Pamukkale, traduzido para português significa, Montanhas de Algodão, uma boa imagem para descrever mais estas esculturas da natureza, neste caso resultantes da deposição de sedimentos calcáreos ao longo de vários milhares de anos. 

Começamos o dia com uma visita a Hierápolis, uma antiga e importante cidade romana sobretudo famosa pelas suas águas termais com capacidades curativas. Mas mais do que ver as ruínas desta necrópole o nosso principal objetivo é visitar o túmulo de São Filipe o qual se encontra, praticamente, no cimo de uma encosta. É cedo mas o calor já aperta e a subida faz-se pausadamente, em ritmo lento. Menos para o Padre Domingos que com as suas 84 primaveras encabeça o pelotão de forma destacada algo que nos deixa admirados e até com uma pontinha de inveja saudável. Pode dizer-se que a fé sobe montanhas! Segundo o Padre Domingos, quando esteve neste mesmo local há cerca de 10 anos, não havia sequer uma simples placa que indicasse a existência do túmulo de São Filipe, aliás não existia mesmo qualquer caminho, e para lá chegar era necessário seguir por um trilho de cabras densamente povoado por arbustos e ervas silvestres. Serve isto para fazer uma reflexão sobre o grande salto evolutivo da Turquia em relação ao turismo pelo que todo o investimento realizado na conservação e preservação de locais ou monumentos com  significado relevante para a Cristandade têm dado os seus frutos. Junto ao túmulo de São Filipe, e sob um Sol cada vez mais inclemente, as duras palavras do Livro do Apocalípse, narradas pelo Padre Domingos, ecoam forte nas nossas consciências: “Não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim porque és morno vou vomitar-te da minha boca”. 

Após algum tempo livre para admirar as Montanhas de Algodão regressamos à base, neste caso à nossa camioneta da qual agradecemos particularmente o ar condicionado. Segue-se uma viagem de aproximadamente 3 horas até á cidade de Izmir (Esmirna, em português). A meio caminho almoçamos num restaurante junto à estrada. Desta vez não é buffet, o prato principal é um borrego assado bastante delicioso, mas obviamente que as bebidas e cafés são pagos à parte.

Izmir, com os seus mais de 4 milhões de habitantes é a terceira cidade da República da Turquia, seguindo-se a Istambul e à Capital Ankara. A nossa vinda a esta metrópole, situada no extremo ocidental da Ásia Menor, ou Anatólia para os turcos, tem por objetivo celebrar missa não na igreja de São Policarpo, como consta no programa, mas sim na igreja de São João. Não sabemos se esta mudança de cenário também se fica a dever a motivos de obras mas para a maioria, senão mesmo para todos, torna-se indiferente qual a igreja onde celebraremos a Missa da Solenidade do Corpo de Deus. 

Mas o que ressalta à vista neste templo Católico de Izmir não é a porta fechada e que dá acesso ao pátio, já o mesmo acontecera em Istambul, na Igreja de Santo António, mas sim o denso arame farpado existente no cimo do muro que delimita todo o recinto da igreja. Pretende-se uma Igreja de portas abertas para, Todos, Todos, Todos, mas este emaranhado de arame farpado relembra-nos que, por vezes, lá fora ainda existe todo um mundo tremendamente hostil. A tradicional procissão do dia de hoje será feita no adro da igreja, simplesmente porque não têm autorização para sair à rua. A forma de hospitalidade é um dos pensamentos escolhidos para este dia solene. 

Voltamos ao nosso autocarro mas agora para uma curta viagem até Kusadasi, não demorará mais de uma hora, uma localidade com características balneares situada na costa do Mar Egeu. Assim que chegamos a mais uma unidade hoteleira e nos ligamos ao wifi as fotografias da nossa viagem chovem em catadupa, fotografias cada vez mais artísticas, evidenciando que dentro do grupo existem excelentes fotógrafos.

Após o jantar, um variadíssimo, riquíssimo e colorido buffet mas com bebidas e cafés à parte, reunimo-nos num recanto do jardim junto à praia onde refletimos, em formato reduzido de 3 pessoas, sobre como avaliamos o fruto da nossa vida e qual a medida com que a medimos. As palavras apocalípticas de São João, escutadas esta manhã junto ao túmulo de São Filipe, retornam perturbadoramente às nossas mentes, muito em particular a palavra, morno. Uma vida em ponto morno! Depois, e em reflexão grupal alargada, o Padre José Frazão pede para que cada grupo defina o seu dia a partir duma só palavra ficando desde logo provado que ainda temos muito que trabalhar relativamente à nossa capacidade de síntese. 

E já agora, o nome Policarpo significa, muitos frutos!

Dia 6 – A Casa da Mãe de Deus; Foi aqui mas já não está cá!

Durante o curto trajeto, entre o nosso hotel em Kusadasi e a Casa da Virgem Maria, o Padre Domingos aproveita para nos ler uma breve história da religiosa e mística alemã Katharina Emmrich, quem sem nunca ter estado na região descreveu com exatidão cirurgica o local onde se encontraria a última casa terrena da Virgem Maria. 

A Casa da Virgem Maria, que segundo a tradição Cristã viveu os seus últimos anos com São João numa zona isolada por causa das perseguições movidas pelos judeus, encontra-se no cimo de uma montanha não longe da antiga e importante cidade de Éfeso.  Atendendo ao enorme significado que a Virgem Maria têm para os Cristãos e para os Muçulmanos, curiosamente a Mãe Maria, assim chamada pelos turcos Muçulmanos, vêm mais vezes referenciada no Corão do que nos próprios Evangelhos, este é considerado um local sagrado pelo que todo o espaço envolvente é classificado como Santuário. A Casa da Virgem Maria está transformada em pequena capela mas, uma vez dentro, a duração de permanência permitida para os visitantes é muito reduzida pois o segurança de serviço não nos dá sequer tempo para rezarmos uma Avé Maria. Felizmente, o facto de termos chegado relativamente cedo, havendo por isso ainda poucos turistas ou peregrinos, é um convite à pacificação e à reflexão. Num dia de Sol como este, as sombras das frondosas árvores tornam o local ainda mais tranquilo e acolhedor. 

Numa outra capela do Santuário celebramos a Missa do dia. O cenário é simples mas perfeito e até as vozes do alegre coro que nos têm acompanhado em cada Eucaristia parecem hoje elevar-se em direção ao céu mais ligeiras e afinadas. Na parede por detrás do altar existe uma pintura representando a Última Ceia de Cristo tendo a particularidade de 1 dos 12, concretamente aquele que O traiu, com a bolsa das 30 moedas numa das mãos, se encontrar claramente afastado dos restantes Apóstolos. Chama também a atenção a túnica vestida pelo sacerdote que preside à celebração, neste caso o Padre José Frazão, bem como a toalha que reveste o altar, ambas com um “M” finamente bordado com linha de cor azul celeste. Como sempre, a homília do Padre José Frazão é de grande profundidade refletindo desta vez sobre uma passagem do Capítulo I do Evangelho de São João, o Verbo Encarnado, assim como o que significa ser Mãe de Deus. Termina a Eucaristia mas mantemo-nos na capela, durante largos minutos em silêncio e oração, envoltos numa sensação de paz quase infinita: Montemos 3 tendas! 

Entretanto, lá fora, a Susana começa a ficar algo nervosa com o horário.

Descemos para Éfeso, uma das grandes metrópoles da antiguidade estimando-se que tenha albergado, durante o seu auge, mais de 1 milhão de habitantes. A sua localização estratégica, era um importante porto junto ao Mar Egeu, o vale fértil que acompanhava o Rio Meandro e as grandes peregrinações da época para prestar culto à deusa Artémis enriqueciam consideravelmente a cidade. Com o passar dos anos, foi-se dando a desflorestação das encostas das montanhas circundantes ao mesmo tempo que se ia praticando uma agricultura cada vez mais intensiva destinada a satisfazer uma população em franco crescimento. Estes fatores conjugados levaram ao arrastamento de detritos e à erosão das camadas de solo mais fértil e, consequentemente, ao assoreamento do delta do Rio Meandro. Apesar das drenagens que iam sendo periodicamente realizadas, com o tempo, os cais deixaram de ser acessíveis a barcos de maior tamanho pelo que a cidade foi perdendo grande parte do seu comércio e importância. Segundo a nossa guía, hoje, o local onde se encontrava o antigo Porto de Éfeso está separado do mar por mais de 6 quilómetros de terra pantanosa. 

Sob um calor intenso e que nos obriga a procurar as zonas de sombra, a Susana faz-nos uma visita guiada pelas ruínas da antiga cidade: os edifícios e palácios, os templos destinados ao culto da deusa Artémis, a biblioteca, as latrinas, a àgora romana, dão-nos uma ideia da grandiosidade que Éfeso chegou a atingir sendo fácil de perceber o porquê de São Paulo também ter escolhido esta urbe para espalhar a sua mensagem. Dentro do enorme anfiteatro, com capacidade para 36.000 pessoas, a leitura do Padre Domingos faz-nos recuar quase 2000 anos e conseguimos imaginar, precisamente neste cenário e com nitidez cinematográfica, um enorme tumulto provocado por uma turba enfurecida e tudo porque a mensagem de São Paulo começava a fazer estragos em todo o negócio da prata que havia em torno da deusa Artémis. Foi aqui mas já não está cá! As conversões ao Cristianismo começavam a fazer mossa nos poderosos e São Paulo foi obrigado a fugir de Éfeso. 

Ainda há tempo para uma sessão fotográfica de grupo nas ruínas da Basílica de São João tendo o Padre Domingos a felicidade de reencontrar, mais de 10 anos depois, a piscina baptismal. 

Almoçamos à sombra dum parral, num sítio bastante agradável sobretudo tendo também em conta o adiantado da hora. Buffet com bebidas e cafés pagos à parte, obviamente. E a propósito de pagamentos, podemos dizer que, de um modo geral, os turcos com quem nos fomos encontrando ao longo do caminho foram sempre bastante atenciosos e simpáticos exceptuando porém aquele momento solene em que se apresentam para cobrar as bebidas e cafés. Efetivamente o pagamento das bebidas e cafés parece ser um assunto demasiado sério para este povo a ponto de se transformarem em pessoas rudes e antipáticas. Normalmente vêm aos pares, um deles com o terminal multibanco em riste e o parceiro com um molho de notas de liras turcas numa mão e de euros na outra, mas sempre com ar desconfiado e de poucos amigos, pelo que qualquer comentário ou graçola que façamos em relação ao pagamento tem invariavelmente como resposta um semblante enfadonho acompanhado de um comentário ríspido e imperceptível. A descoberta de novas culturas é, sem dúvida, um dos encantos associados ao viajar. 

Regressamos ao hotel com algumas horas de tempo livre pela frente algo praticamente inédito até então. Aproveitamos para dar uma saltada até à praia, apanhar um pouco de Sol e dar um mergulho no Mar Egeu. A água está morna e o único senão é o lixo espalhado que vamos encontrando, algo que contrasta com tudo aquilo que até então tínhamos visto nas cidades e ao longo das estradas. 

Somos convidados para uma reflexão com o Padre José Frazão: Que igreja pretendemos para estes novos tempos de mudança ou de mudança de tempo? Perante este novo quadro cultural, caracterizado por uma sociedade plural e de reconhecimento legitimo, a forma perdeu força pelo que, talvez, o traço de hospitalidade seja a resposta da igreja para este tempo de mudança. 

Está dado o mote para a nossa conversa. A discussão e as opiniões vão fluindo, o tema daria para horas e dias de discussão, mas as melgas e o horário do restaurante do hotel põem termo à nossa interessante tertúlia vespertina.  

Voltamos a ter partilha de grupo e, novamente, as cadeiras são dispostas em círculo para criar um ambiente mais familiar e de maior proximidade. A verdade é que vão faltando as palavras para descrever tudo o que estamos a viver, é preciso tempo para ir assimilando esta torrente de sensações e de experiências. Cumprimos pouco mais de metade do programa da viagem e esta é já um enorme sucesso excedendo largamente todas as expetativas mais otimistas que previamente pudessemos ter imaginado. E ainda falta tanto por ver e visitar! Que imenso privilégio!

Menos privilegiados são os hóspedes que têm os quartos virados para a piscina do hotel. A música soa tão alto que até parece que a discoteca está dentro do próprio quarto. Como alguém escreveu no whatsapp de grupo, é para que o Padre José Frazão se possa sentir em casa, à noite em pleno Bairro Alto.

Dia 7 – Apocalipse now

Günaydin e Ôi genti! Ouvimos estas incontornáveis e já míticas palavras, da boca da nossa guía, pela última vez. À saída da camioneta e entrada do Porto de Kusadasi despedimo-nos da Susana. Foi um prazer. Mais do que ter sido a nossa simpática e incansável guia durante os dias em que permanecemos em solo turco ela soube conquistar os nossos corações pelo que a despedida é acompanhada por um indisfarçável sentimento de emoção e pontinha de saudade. Uma palavra de apreço também para o nosso motorista, quem nos trouxe desde a longínqua Capadócia até aqui, sempre como uma condução extremamente segura e isenta de qualquer reparo, um verdadeiro profissional do volante. Güle güle, Susana e Ahmed, muito obrigado por tudo!

No cais de Kusadasi estão ancorados 2 navios: Um da empresa TUI e outro da empresa Celestial Cruises. Obviamente que tendo em conta o propósito da nossa viagem  embarcaremos neste último. O Celestial Discovery, nome do nosso navio, felizmente não é um paquiderme dos mares pois transporta cerca de 1500 passageiros para além de 300 tripulantes. Para alguns de nós trata-se de uma estreia no mundo dos cruzeiros pelo que obedientemente seguimos as instruções de embarque, todo um ritual: Nós próprios etiquetamos e entregamos as respetivas malas, passamos o controlo de passaportes e de segurança e, mesmo antes de embarcar, entregam-nos o cartão de identificação que, para além de chave do quarto, será o nosso salvo-conduto enquanto formos hóspedes deste navio. Uma vez dentro da embarcação entregamos o passaporte, o que para alguns levanta legítimas duvidas constitucionais, e pagamos uma caução de 300 euros. A verdade é que está tudo bem organizado e decorre sem sobressaltos daí que, pouco tempo depois, as nossas malas aparecem à porta dos respetivos quartos. Todos os passageiros recém embarcados são divididos em grupos, em função da língua, para assim receberem as primeiras indicações da tripulação e realizarem um pequeno exercício de segurança. Como luso parlantes ouvimos atentamente as indicações em português do Brasil. Curiosamente, ou não, a primeiríssima informação que recebemos não têm a ver com os procedimentos de segurança, por exemplo como vestir o colete de salva-vidas ou para onde ir em caso de emergência, mas sim com os diferentes pacotes de bebidas disponíveis a bordo: Pacote café, pacote cervejas, pacote Margheritas… tudo verdadeiras pechinchas, pelo menos é o que nos diz a jovem tripulante com sotaque brasileiro e encarregada de orientar o nosso grupo. Além disso, de momento importa reter que o desembarque é feito no piso 4, a receção encontra-se no piso 6, o ponto de encontro no piso 8 e os restaurantes nos pisos 8 e 9. Após o exercício de segurança ficamos aptos para dar início à nossa viagem havendo ainda tempo para uma breve exploração do navio. Com o Celestial Discovery ancorado ao cais almoçamos num dos seus restaurantes, um buffet de comida dita internacional e, pasme-se, com bebidas incluídas: Água, refrigerantes, café de saco, até vinho e cerveja, tudo à descrição e free of charge.  

O navio zarpa do Porto de Kusadasi, sempre observado desde o alto duma colina por uma estátua do omnipresente Atatürk e que domina a cidade, para cumprir uma primeira etapa que nos levará até à Ilha de Patmos onde, e como ponto alto, faremos uma visita à Gruta da Revelação do Apocalípse. Rumando para sul o navio vai navegando sob um espelho de água e, pouco depois, através da megafonia de bordo, somos informados que em breve iremos atravessar o Estreito de Mycale que com menos de 2 quilómetros largura separa a ilha grega de Samos da costa ocidental da Anatólia. Somos também informados que Pitágoras nasceu na Ilha de Samos.

Hoje a missa vai ser a bordo não sendo tarefa fácil encontrar, em todo o navio, um recanto que nos permita cumprir o nosso ritual diário. Ao contrário das aulas de zumba e de chá-chá-chá que se vão sucedendo no convés do piso 10 as celebrações religiosas não deverão ser muito habituais neste parque de diversões flutuante. Durante a celebração o Padre Domingos relembra-nos que hoje, dia 1 de Junho, é Dia Mundial da Criança pelo que, para além de pedir pelas crianças da Mexilhoeira Grande, uma das intenções é dirigida às crianças que vivem em zonas flageladas pela guerra, na Ucrânia e em Gaza, que como já nos foi anteriormente relembrado são locais que distam pouco mais de uma hora de avião da geografia onde nos encontramos. Neste cenário improvável para uma missa, com uma relaxante vista para o Mar Egeu, a nossa mente é abalada pelas sempre chocantes imagens daquelas crianças que estão a viver o verdadeiro Apocalipse now

São cerca de 5 horas da tarde quando o nosso navio lança a âncora ao mar. Como o cais desta ilha é demasiado pequeno, e possivelmente sem profundidade suficiente para receber navios de maiores dimensões, ficamos fundeados ao largo de Patmos. Por isso, o desembarque do nosso navio até ao cais é feito em  pequenas embarcações. Na escadaria que dá acesso à saída, e seguramente pela falta de experiência quanto aos procedimentos de desembarque, gera-se alguma confusão com o guia de um grupo de turistas latino-americanos ou seja ficamos a um triz de provocar um pequeno incidente diplomático. Felizmente os ânimos acalmam e o desembarque completa-se com normalidade. 

Uma vez em terra firme somos encaminhados para uma fila de autocarros calhando-nos em sorte o número 14, um número a fixar. Dentro do autocarro 14 a Angela, que será a nossa guia durante esta curta estadia em Patmos, em língua espanhola e de forma muito profissional e entusiasta vai-nos dizendo aquilo que, todos os dias, repete aos grupos de turistas que visitam a ilha. O nosso motorista chama-se, Kostas.

A Ilha de Patmos é pequena, têm apenas uma superfície de 34 quilómetros quadrados, mas é sobejamente conhecida por ter sido a ilha onde São João recebeu de Deus a revelação do fim dos tempos dando assim origem ao Livro do Apocalípse, o último livro da Bíblia. A Gruta da Revelação é um local místico e de grande significado para os Cristãos mas rapidamente nos apercebemos que a nossa experiência não será nem mística nem reveladora. Ensandwichados por longas filas de turistas a visita ao local da Gruta da Revelação é feita em contra-relógio e sob grande pressão. Regressamos ao autocarro 14 e subimos até uma povoação localizada no cimo de uma das colinas, Hora, desta feita para visitar o Mosteiro Ortodoxo de São João. Neste mosteiro existe um interessante museu mas o tempo de que dispomos permite apenas fazer uma visita express. É uma imagem perfeita da actual industria do turismo, em que todos os procedimentos estão perfeitamente calculados, estandardizados, com o tempo cronometrado ao segundo: o barco grande chega ao destino; descarrega os turistas em barcos pequenos que os transportam até ao cais; em terra, são repartidos por camionetas e levados a visitar os pontos de interesse da ilha; finda a visita os turistas regressam ao barco grande, felizes e contentes sobretudo por levarem consigo, para além dos imprescindíveis souvenirs, as preciosas selfies para serem postadas nas redes sociais. A pequena ilha volta à normalidade e pronta para receber a próxima fornada de turistas. 

Antes de irmos dormir reunimo-nos no convés da proa onde pomos em comum algumas intenções. Sob um céu estrelado o Celestial Discovery desliza sobre as águas tranquilas do Mar Egeu, rumando para sudoeste em direção à Ilha de Creta. Diante de nós o cenário é tudo menos apocalíptico.  

Dia 8 – Dia de ir à missa em Santorini

Quando acordamos o nosso barco está prestes a atracar no Porto de Heraklion, a mais populosa e principal cidade da Ilha de Creta. Ao contrário do Porto de Patmos, este permite que o desembarque seja diretamente realizado para terra-firme. E tal como sucedeu em Patmos, somos encaminhados para um dos muitos autocarros que aguardam a chegada dos visitantes. Permaneceremos umas 4 horas na Ilha de Creta onde, primeiramente, visitaremos o complexo das ruínas do Palácio de Knossos e terminaremos com uma breve passagem pelo centro da Cidade de Heraklion. O nosso guia de serviço fala um português arrevesado, no entanto perceptível quando e só fizermos um esforço para nos manter concentrados. Creta, com uma superfície superior a 8.000 quilómetros quadrados e mais de 600.000 habitantes, é a maior ilha do Estado grego. 

Ainda não são 9 horas da manhã mas já o Sol bate forte e a temperatura ronda os 30 graus centígrados, a que acresce uma humidade relativa elevada, ou seja chapéu e garrafa de água são acessórios indispensáveis. O nosso motorista, chama-se Kostas, vende cada garrafa de meio litro de água fresca por uns meros 50 cêntimos, isto sim uma verdadeira pechincha. Seguimos atrás da fila de turistas para entrar no recinto onde se encontra o complexo das ruínas do Palácio de Knossos, um dos maiores testemunhos da antiga Civilização Minóica. Foi o arqueólogo inglês Arthur Evans que aqui, no início do século passado, dirigiu as escavações em grande escala. Durante a visita guiada recebemos informação em catadupa, no fundo uma overdose de informação histórica entrelaçada com mitologia grega, daí que com tantos nomes, datas, factos, mitos e lendas, não é de estranhar que os nossos cérebros mais se assemelhem a um verdadeiro Labirinto de Creta. De repente, soa o alarme pois o grupo não está completo. No turbilhão da visita as nossas incansáveis e sempre atentas organizadoras da viagem dão pela falta de um dos nossos mas rapidamente o mistério é resolvido. Com tanto calor houve quem preferisse antecipar o fim da visita para buscar um refúgio à sombra. 

No centro da Cidade de Heraklion, com ambiente e arquitetura tipicamente Mediterrânica, temos a oportunidade de conhecer, e fazer uma pequena oração, na Igreja de São Tito, Apóstolo de São Paulo, profusamente decorada com os ícones da Igreja Ortodoxa. 

Regressamos a bordo e largamos amarras rumo à Ilha de Santorini, o nosso próximo destino. O mapa digital existente junto à receção, no piso 6, indica que Santorini fica precisamente a norte de Heraklion a uma distância de 63 milhas naúticas equivalente a 120 quilómetros. Após o almoço, e antes de chegar a Santorini, reunimo-nos para ouvir uma pequena exposição do Padre José Frazão sobre o livro do filósofo contemporâneo Silvano Petrosino, A filosofia da luz: Não vemos o que devemos nem o que queremos mas sim o que podemos! 

É domingo e, portanto, dia de ir à missa. Mas esta nossa ida à missa na Ilha de Santorini vai revelar-se como uma das operações mais complexas de toda a viagem pondo de parte qualquer possível duvida que houvesse relativamente à nossa inabalável devoção. Para além de termos sido dos últimos a embarcar nos pequenos barcos shuttle, o nosso grupo fica fragmentado o que torna quase impossível a sua gestão contabilística. Além disso, uma vez chegados ao porto, vamos engrossar uma enorme fila de turistas e ter de aguardar pacientemente por um lugar numa cabine de funicular que nos levará até Fira, no cimo da ilha, pois a outra opção seria escalar as várias centenas de degraus debaixo de um Sol escaldante. Quando o grupo da frente chega à Catedral de São João Batista, e para não fugir à regra, é informado que a missa decorrerá noutro local, concretamente na Igreja das Irmãs Dominicanas. Esta igreja localiza-se dentro do Mosteiro e a escassos metros da Catedral de São João Batista no entanto encontra-se num sítio mais ou menos escondido. Entretanto os restantes fiéis vão chegando a conta-gotas o que atrasa consideravelmente o início da nossa celebração. 

A homília do Padre José Frazão, brilhante como sempre, dá-nos pistas de reflexão precisamente para o dia que estamos a viver, concretamente pondo em contraste o acto de criação do Livro do Génesis, simples e cristalino, claramente uma criação de Deus, com as criações mitológicas, sempre resultantes de actos carregados de violência e demasiado fantasiosos atestando a sua origem humana. 

Santorini, com as suas casinhas brancas e telhados de cor azul celeste, as suas ruas estreitas ladeadas de pequenos restaurantes e lojas atulhadas de coloridos e chamativos souvenirs, é uma ilha sobejamente conhecida, fazendo parte de qualquer roteiro turístico que tenha por destino a Grécia ou o Mediterrâneo Oriental. Uma vez que o cruzeiro não espera ficamos impedidos de fazer grandes passeios turísticos porém o suficiente para perceber que a atmosfera que aqui se respira é, claramente, de sítio de veraneio selecto. Tendo em conta o adiantado da hora é tempo de regressar ao navio repetindo, mas em sentido inverso, os passos que nos trouxeram até à Missa, em Fira.

No convés da popa, onde jantamos em ambiente descontraído e com sabor a noite de Verão, temos a felicidade de assistir ao anoitecer em Santorini, coroado com um breve fogo de artifício que irrompe da ilha. Estamos bastante exaustos mas ao mesmo tempo muito satisfeitos e reconfortados pela sensação do dever cumprido pois, contra ventos e marés, conseguimos ir à Missa em Santorini.

Dia 9 – Os traumas do Stelio; Pedras que falam

Na tarde anterior recebemos duas importantes instruções por parte das nossas simpáticas e incansáveis organizadoras: até às 11 da noite tínhamos de deixar as nossas malas fora do quarto, apenas as de maiores dimensão pelo que neste lote não estava incluída, além de outras honrosas exceções, a mala do Padre Domingos, e, antes das 7 da manhã, os nossos quartos teriam de ficar livres. Significa isto mais um acordar madrugador pelo que quando chegámos ao destino final deste nosso cruzeiro pelo Mar Egeu, no Porto de Lavrion, já estávamos bastante despertos. Independentemente da experiência do cruzeiro ter sido, ou não, uma descoberta celestial a verdade é que passámos 2 belos dias a bordo, para além das excursões em terra, e como corolário as nossas malas aguardavam por nós, intactas, no terminal de desembarque. 

O Porto de Lavrion situa-se em território continental, umas dezenas de quilómetros a sudeste de Atenas. É altura de regressar ao modo camioneta o que também implica conhecer um novo guia, o Stelio, a quem lhe caberá fazer o papel de anfitrião durante as próximas etapas da viagem. A propósito, o nosso motorista chama-se Kostas, curiosamente o mesmo nome dos motoristas que nos conduziram em Patmos e Creta, levando-nos a concluir que na Grécia todos os Kostas são motoristas ou então que todos os motoristas são Kostas. 

Apesar do seu sotaque, o Stelio fala um português bastante claro, com boa dicção e rico em vocabulário, sendo um estudioso da nossa língua. A única coisa que nos deixa algo intrigados relativamente ao Stelio é o uso repetido da palavra “trauma” dando a entender que a sua vida, mais do que uma tragédia grega, deverá ser uma sucessão de acontecimentos e experiências traumáticas. Enquanto o Stelio prossegue com as suas reflexões filosóficas e private jokes, por exemplo baptiza as nossas 3 organizadoras de viagem como Anjos de Charlie, o autocarro avança muito lentamente pois, nos arredores de Atenas, apanhamos um enorme engarrafamento. Nesta manhã soalheira e calorosa de início de Junho, Corinto, a sudoeste de Atenas, é o nosso primeiro destino onde visitaremos as respetivas ruínas e celebraremos uma missa campal. 

Antes de chegar a Corinto, mesmo à entrada da região do Peloponeso, fazemos uma paragem técnica numa área de serviço. Estranho é que o Stelio depois de nos ter contado toda a história relacionada com a escavação do Istmo de Corinto e abertura do respetivo canal não nos diga que este fica mesmo alí, literalmente a 2 passos da área de serviço. O Canal de Corinto, obra concluída no final do século XIX, com os seus 6 quilómetros de comprimento permitiu ligar o Mar Egeu ao Mar Jónico. Desde cima da ponte é possível obter umas curiosas e interessantes fotografias. 

Chegamos a Corinto, outrora importante cidade pela sua posição estratégica situada precisamente entre o Mar Egeu e o Mar Jónico. São Paulo pregou a esta Comunidade, que não era conhecida por ser um poço de virtudes, aliás ser conotada como rapariga ou mulher de Corinto não era propriamente receber o maior dos elogios, a quem dirigiu algumas das suas mais belas e conhecidas Cartas. Foi aqui mas já não está cá! Em plenas Ruínas de Corinto, à sombra das árvores e sentados nas pedras, temos finalmente a tão esperada missa campal, presidida pelo Padre Domingos superiormente assistido pelo nosso Diácono Rui. No silêncio da nossa Celebração, objeto de curiosidade por parte de alguns turistas que inclusivamente se detêm para nos fotografar ou até filmar, enquanto meditamos sobre o Momento Estrada de Damasco das nossas vidas, ouvimos as pedras falar.

O programa da viagem diz-nos que se segue uma visita às ruínas da antiga Cidade de Micenas mas são quase duas horas da tarde e o corpo já pede uma pausa para o almoço. É a intervenção providencial dos nossos Anjos de Charlie que possibilita a alteração no programa. O almoço, num enorme restaurante à beira estrada e que parece estar preparado para receber grandes grupos de turistas, casamentos e baptizados, embora não seja buffet, não têm bebidas e cafés incluídos, são pagos à parte, um costume a que nos desabituados depois de termos feito o cruzeiro. 

Quando chegamos a Micenas, mais um testemunho da Civilização Minóica, a temperatura ronda os 35 graus centígrados e a subida ao pequeno morro que se depara diante de nós afigurasse como uma escalada ao Everest, uma tarefa tão ciclópica como o tamanho das pedras com o mesmo nome e que fazem parte da muralha. Porém, um grupo de uns 20 magníficos, encabeçados obviamente pelo Padre Domingos, desafiam o Sol abrasador e vão até o cimo da colina para explorar as ruínas.

Durante a demorada viagem para Atenas há tempo para conhecermos, um pouco mais a fundo e de viva voz pelos seus ilustres representantes, o Ponto SJ, a Revista Brotéria e a Publicação 7 Margens. Finalmente, já ao cair da noite, chegamos ao nosso hotel, localizado numa zona relativamente central da cidade. De qualquer modo, mesmo alí, uma rua adjacente ao nosso hotel serve de refúgio a um considerável grupo de sem-abrigo e tóxico-dependentes uma imagem sempre chocante e reveladora de até quão baixo pode chegar a dignidade humana. No terraço do hotel, com uma bela vista para a Acrópole, existe uma espécie de piscina, talvez um tanque, mas que de qualquer maneira sempre possibilita um pequeno banho mais ou menos refrescante. 

Jantar no hotel e buffet sem bebidas incluídas. A reflexão desta noite é breve pois após um dia tão longo e cansativo o colchão chama por nós. Para amanhã, dia sobretudo reservado para visitar a Cidade de Atenas, a temperatura máxima prevista é de 38 graus centígrados. Um trauma, como diria o Stelio!

Dia 10 – 38 graus à sombra; Transformação

As previsões meteorológicas confirmam-se e a subida até a Acrópole requere todo um esforço extra da nossa parte. O calor é intenso mas insuficiente para desmobilizar a multidão de turistas que escolheu esta manhã para marcar encontro no mais icónico monumento de Atenas, um dos mais visitados em todo o mundo. À torreira do Sol, e competindo com outros grupo de turistas por uma nesga de sombra, tentamos acompanhar a explicação do Stelio versando sobre a história deste local. O Parthenon, foi eregido durante o período de ouro da antiga Civilização Grega, o século de Péricles, como homenagem e tributo à deusa Atenas. Enquanto o Stelio vai narrando a sucessão de episódios de destruição e reconstrução que este monumento sofreu ao longo dos tempos, fruto das diversas civilizações que por aqui passaram, simultaneamente, o nosso olhar vai contemplando a imensa cidade de Atenas, caracterizada por uma tonalidade predominantemente branco sujo, e espraiando-se até as montanhas. Do outro lado, a sul, é possível avistar o Mar Egeu e o famoso Porto do Pireu. 

Descemos em direção ao Museu da Acrópole, edifício construído para dar abrigo às inúmeras descobertas arqueológicas feitas neste local. Rapidamente nos apercebemos que o museu é demasiado grande para o pouco tempo de que dispomos mas mesmo assim o Stelio proporciona-nos uma visita muito interessante e didática. Independentemente da opinião que cada um de nós possa ter a seu respeito a verdade é que este nosso guía é um bom profissional. Com autoridade, diz-nos que não há tempo para compras no museu pois o horário deverá ser cumprido à risca.  

Antes do almoço, há ainda tempo para uma pequena visita em autocarro pelos principais pontos de interesse do Centro de Atenas. Uma belíssima ideia pois, após uma manhã tão exigente, em todos os sentidos, permite-nos relaxar e acalmar um pouco antes do almoço.

Almoçamos na Plaka, o mais famoso e típico bairro de Atenas, no interior de um restaurante que têm os lugares mesmo à conta para albergar o nosso grupo. Transpiramos em bica. Depois, há ainda algum tempo livre para dar uma volta pela Plaka, as lojas e cafés vão servindo de refugio contra os 38 graus à sombra, antes de empreendermos caminho até a Catedral de São Dionísio, a principal igreja Católica da Grécia e local onde decorrerá a nossa última Celebração Eucaristica desta viagem. Mais uma vez a homilia do Padre José Frazão não poderia ser mais adequada tendo como palavra-chave, a transformação. Depois desta viagem é impossível alguém não sentir que algo se transformou na sua vida.

Na chegada ao hotel, e antes do jantar, é montada toda uma logística para proporcionar, aos interessados, um duche rápido e muda de roupa nos 2 quartos previamente reservados e que serviram como depósito para as bagagens. Mais uma vez, a organização revela-se sublime. 

Após o jantar, fazemos uma reflexão final e avaliação da viagem. Palavras como gratidão, privilégio, agradecimento, bênção, inesquecível, sem palavras… são muitas vezes repetidas. Muito seguramente esta é uma viagem diferente de muitas outras que tenhamos feito anteriormente e todo o manancial de riqueza que carregamos connosco levará o seu tempo para ser interiorizado e percebido. As palavras partilhadas e o espírito que se cria dá-nos um boost de energia que bem precisaremos para as próximas horas. Transportamos as malas para dentro do autocarro, por última vez, para uma hora de viagem até ao aeroporto.

O nosso último dia começa agora.

Dia 11 – Sim, foram 11 dias em viagem; Abraços calorosos

Chegamos ao Aeroporto de Atenas, Eleftherios Venizelos, nome daquele que é considerado como o grande impulsionador do Estado Grego moderno. Passa da meia-noite e, à exceção de uma fila para fazer o check in no balcão da Turkish Airlines, o aeroporto encontra-se praticamente deserto. No entanto ainda há tempo para mais um encontro de religiões pois um bispo ortodoxo da Colômbia e Venezuela, da Igreja Ortodoxa Grega, junta-se à nossa fila e conversa com os Senhores Padres. Num ápice, passamos pelo controlo de passaportes e de segurança. Agora teremos de esperar cerca de 3 horas até o nosso embarque para Istambul, primeira etapa antes de chegar ao nosso destino final. Neste período de espera e envoltos num silêncio quase ensurdecedor, um cenário pouco comum para um grande aeroporto trazendo à memória os tempos da COVID-19, alguns ajeitam-se para dormitar, sentados ou deitados em cima das cadeiras, enquanto outros aproveitam para petiscar qualquer coisa ou simplesmente vão matando o tédio olhando para os ecrãs. 

O voo noturno para Istambul demora pouco mais de uma hora mas incluí pequeno-almoço. Com o dia a despontar e uma vez chegados ao Atatürk vamos diretamente para a zona internacional pelo que não temos de passar pelos sempre morosos e incómodos controlos de segurança. Apesar do gigantismo do aeroporto a nossa porta de embarque, 10B, fica mesmo alí, muito perto do local onde, há poucos minutos, desembarcamos. 

O avião sai pontualmente para Lisboa e o voo decorre sem incidências pelo que aterramos no Aeroporto Humberto Delgado um pouco antes do horário previsto. A chegada a Lisboa despoleta em nós uma sensação estranha pois apesar de, nos últimos 11 dias, termos vivido tão intensamente e termos acumulado um sem-fim de vivências e de experiências, parece que tudo se passou num simples piscar de olhos. Sim, parece que foi há um segundo atrás que estávamos mesmo aqui, cheios de expectativas e prestes a embarcar no avião para Istambul para dar início à nossa viagem, Nos Passos de São Paulo. 

Após mais de 36 horas em movimento, o imenso e natural cansaço que nos fragiliza torna-nos mais vulneráveis à saudade que já sentimos, de tudo e de todos. Quando nos despedimos, junto ao tapete de recolha de bagagens, os abraços são muito mais calorosos do que quando nos encontrámos, 11 dias antes, neste mesmo aeroporto. 

Agradecimentos:
  • Aos nossos Guias Espirituais, Padre José Frazão e Padre Domingos. Termos tido a possibilidade de usufruir das suas orientações, reflexões, homilias, momentos de partilha, conhecimento, amizade, no fundo da sua presença em todo e qualquer momento desta nossa viagem constituiu uma imensa bênção. O programa, por si só, tinha uma componente turística e cultural muito rica mas o poder acrescentar ainda uma componente espiritual multiplicou por mil o valor desta viagem.

  • In alphabetical order, à Isabel, à Mena e à Rita Isabel pela perfeita organização e trabalho incansável durante toda a viagem. Uma empreitada desta envergadura e complexidade exige muito trabalho de bastidores, mas por mais perfeito que o plano tenha sido delineado, mais tarde ou mais cedo, as situações inesperadas e complicadas irão sempre acontecer. Segurante, durante a viagem, muitos foram os imprevistos e problemas que tiveram que resolver, muitas terão sido as descargas de adrenalina, mas a verdade é que, para o simples viajante, nada transpareceu cá para fora. A sua disponibilidade, simpatia e profissionalismo foi constante e inexcedível. Uns verdadeiros Anjos…

  • A todos e a cada um em particular, por me terem feito sentir acolhido e parte deste maravilhoso grupo. É um privilégio, a partir de agora, fazerem parte das minhas melhores e inesquecíveis recordações.