P. António Vaz Pinto

02.06.1942 – 01.07.2022

Biografia

Com raízes familiares em Arouca, o P. António Vaz Pinto nasceu em Lisboa a 2 de junho de 1942, teve uma vida cheia e intensa, sendo responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de Jesus de grande relevância apostólica, entre as quais se destacam os Leigos para o Desenvolvimento (1986), o Centro São Cirilo (2002), no Porto, e o Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega (1975-1984), em Coimbra, e mais tarde o Centro Universitário Padre António Vieira (1984-1997), em Lisboa. Foi também Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas durante três anos (2002-2005).

Entrou para a Companhia de Jesus em 1965, em Soutelo, depois de ter feito os seus estudos no Colégio São João de Brito, em Lisboa, e ter frequentado, durante 4 anos, o curso de Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Licenciou-se depois em Filosofia, em Braga, e em Teologia na Alemanha, na universidade de Frankfurt am Maim .

Foi ordenado padre em 1974, tendo dedicado grande parte da sua vida à formação cristã e espiritual dos universitários e ao acompanhamento de vários grupos. Depois, entre 1997 e 2001, foi reitor da Comunidade Pedro Arrupe, em Braga, onde os jesuítas fazem parte da sua formação, e ainda reitor da Basílica do Sagrado Coração, na Póvoa de Varzim. Seguiu-se, em 2001, a missão de diretor do Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola, no Porto, terra onde viria a lançar também a criação do Centro São Cirilo (2002), que dá apoio a migrantes e refugiados. Entre 1998 e 2005 foi assistente nacional da Comunidade de Vida Cristã (CVX) e durante um longo período, entre 1984 e 1992, foi também o presidente da direção do Centro Social da Musgueira, em Lisboa.

Em 2008, foi nomeado diretor da Revista Brotéria e mais tarde, em 2014, reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Trabalhou também, durante vários anos, na Rádio Renascença, onde foi assistente entre 1984 e 1997, e colaborou com vários órgãos de comunicação social. Foi também fundador da produtora de conteúdos religiosos Futuro e esteve no projeto inicial da criação da TVI. Participou também na criação do Banco Alimentar contra a Fome, em 1992, tendo pertencido à sua direção durante vários anos.

No dia 30 de janeiro de 2006 foi distinguido pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com a Grande Oficial Ordem Infante D. Henrique. Foi ainda autor de sete livros sobre teologia, filosofia e vida cristã, e dois de memórias, onde conta a história da sua vida. O mais recente, sobre as suas memórias mais recentes, foi editado pela Alêtheia Editores este mês.

De todas as “obras” criadas, sustentadas e geridas pelo P. António Vaz Pinto, bem como de todos os cargos que desempenhou, a ação mais importante, e por ele mais cuidada e amada, foi a sua atividade explicitamente sacerdotal, na celebração dos sacramentos, na eloquente pregação da Palavra e nos Exercícios Espirituais, e no acompanhamento pessoal dispensado a tantas e tantas pessoas, que hoje se despedem dele e que continuarão a contar com este seu acompanhamento, agora a partir do Céu.

O P. António Vaz Pinto estava, atualmente, e desde 2019, na comunidade dos jesuítas em Évora, onde era Capelão da Santa Casa da Misericórdia e desempenhava a sua ação pastoral, acompanhando pessoas e grupos, orientado exercícios espirituais, entre outras coisas.

ENTREVISTA AO P. ANTÓNIO VAZ PINTO

“O sentido de resposta é a chave de compreensão da minha vida”

Um espírito arquitetónico e de construtor. É assim que, aos 80 anos, o P. António Vaz Pinto define o traço comum da sua vida, na qual ergueu várias obras para responder a necessidades. Neste dia do seu aniversário, uma entrevista de vida.
 

NOTÍCIA

O entusiasmo de uma vida cheia

Celebrações fúnebres do P. António Vaz Pinto, falecido na sexta-feira, foram marcadas pela comoção e pela gratidão por uma vida marcada por uma energia e entusiasmo contagiantes que tocaram tantas vidas e geraram tantos frutos.

Condolências

Mensagens

Editorial Ponto SJ - 01.07.2022

A liberdade da entrega

Morreu o P. António Vaz Pinto. Um tempo que vivemos com grande tristeza, profunda gratidão e enorme esperança.
O P. António foi, acima de tudo, um homem enraizado em Deus que colocou a sua vida e os seus talentos ao serviço de cada missão que lhe foi confiada, apontando o caminho para Jesus. Fê-lo com uma grande capacidade de entrega e liberdade. Empenhava-se em cada projeto que ajudou a criar e seguia em frente quando era tempo de largar esse projeto, assumindo uma nova missão.

Procurou estar atento à realidade em que viveu, buscando a resposta adequada a cada situação: “O sentido de resposta é a chave de compreensão da minha vida”, disse numa entrevista ao Ponto SJ a alguns dias antes de completar 80 anos. Esse sentido de resposta ficou visível na criação dos centros universitários de Lisboa e Coimbra, juntamente com o P. Vasco Pinto de Magalhães e o P. Alberto Brito, na fundação dos Leigos para o Desenvolvimento, na sua ligação ao grupo fundador do Banco Alimentar e no lançamento do Centro Comunitário de São Cirilo. Numa ação com maior visibilidade pública, enquanto Alto Comissário para as Migrações, contribuiu para que as políticas de apoio aos migrantes ficassem marcadas por uma atitude de grande acolhimento.

A sua assertividade também era patente no modo como propunha a vivência da fé tanto em cursos de formação como nos Exercícios Espirituais. Foram muitos os que acompanhou também pessoalmente e de um modo mais próximo.

Por tudo isto não podemos deixar de estar agradecidos. E como último testemunho, em jeito de testamento espiritual, deixou-nos um modo muito próprio de encarar a morte, com a mesma liberdade e entrega com que foi assumindo cada nova missão que lhe era confiada: “A morte é a porta da ressurreição. Por isso, se me disserem que eu vou morrer amanhã, não me afeta nada, não preciso de mais de um quarto de hora. É só mudar de casa.“

Só quem aceita a entrega a Cristo como o horizonte da sua vida encontra esta liberdade.
Obrigado P. António! Damos graças a Deus pela sua vida!

01.07.2022
P. José Maria Brito, sj

Presidente da República

António Vaz Pinto foi uma das figuras da Igreja Católica mais marcantes, dos anos 70 até ao virar do século, na Companhia de Jesus, na Cultura e, sobretudo, na formação da Juventude Universitária – quer em Lisboa, quer em Coimbra – e na presença pioneira no mundo da língua portuguesa.

De raras qualidades humanas e vocacionais, o seu poder de mobilização dos jovens dele fez um arauto inspirador de causas e missões comunitárias.

O Presidente da República, seu amigo e admirador desde sempre, recorda-o com profunda homenagem e saudade e apresenta à sua Família e à Companhia de Jesus as suas sentidas condolências.

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente da Câmara de Lisboa

O Padre António Vaz Pinto deixou-nos hoje. Figura destacada da Igreja Católica, teve um papel relevante quer na formação dos jovens universitários de Lisboa quer como Alto Comissário para as Migrações. Apresento à Companhia de Jesus e à sua Família sentidas condolências.

Carlos Moedas.

Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares

A Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, com a tutela das Migrações, lamenta a morte do Padre António Vaz Pinto e relembra todo o seu trabalho humanista em prol de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.

Este foi um trabalho desempenhado ao longo de uma vida dedicada a “responder às necessidades” que via à sua volta: “É este sentido de resposta que é a chave de compreensão da vida humana toda, e da minha vida”, conforme explicou o próprio.

O sacerdote jesuíta António Vaz Pinto foi Alto-Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas, esteve ligado à criação dos «Leigos para o Desenvolvimento» e foi responsável pela criação e implementação de várias obras da Companhia de grande impacto apostólica.

«A morte é a porta da ressurreição. Por isso, se me disserem que eu vou morrer amanhã, não me afeta nada, não preciso de mais de um quarto de hora. É só mudar de casa.» António Vaz Pinto mudou de casa esta madrugada. À família e amigos sinceras e sentidas condolências.

Ana Catarina Mendes

Voto de pesar da Assembleia Municipal de Lisboa

Faleceu no passado dia 1 de julho de 2022, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, após doença prolongada, o Padre António Vaz Pinto.

António Vaz Pinto nasceu em Lisboa, a 2 de junho de 1942, mas tem raízes familiares em Arouca. Entrou para a Companhia de Jesus em 1965, em Soutelo, depois de ter feito os seus estudos no Colégio São João de Brito e de ter frequentado o curso de Direito na Universidade de Lisboa. Em Braga, licenciou-se em Filosofia e, posteriormente, em Teologia na Universidade de Frankfurt am Maim, na Alemanha. Ordenado padre em 1974, dedicou grande parte da sua vida à formação espiritual dos universitários e ao acompanhamento de vários grupos.

Entre as obras mais emblemáticas que criou destaque para os Leigos para o Desenvolvimento (1986), o Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega (1975), em Coimbra, o Centro Universitário Padre António Vieira (1984), em Lisboa. Foi reitor da Comunidade Pedro Arrupe, em Braga, onde os jesuítas fazem parte da sua formação, e da Basílica do Sagrado Coração, na Póvoa do Varzim.

Foi ainda assistente nacional da Comunidade de Vida Cristã e durante um longo período, entre 1984 e 1992, foi presidente da direção do Centro Social da Musgueira, em Lisboa. Em 2002 criou o Centro São Cirilo, no Porto, que dá apoio a migrantes e refugiados. Em 2008, foi nomeado diretor da Revista Brotéria e mais recentemente, em 2014, foi reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Fundou os Leigos para o Desenvolvimento com voluntários missionários qualificados, em comunidades de países de expressão portuguesa, num trabalho que permanece. Na década de 80 e 90, o padre Vaz Pinto foi assistente na Rádio Renascença, e colaborou com vários órgãos de comunicação social. Foi também fundador da produtora de conteúdos religiosos Futuro, e esteve no projeto inicial da criação da TVI. Participou igualmente na criação do Banco Alimentar contra a Fome, em 1992, tendo pertencido à sua direção durante vários anos.

Foi Alto-comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre 2002 e 2005. Aí, com a sua equipa, revolucionou as políticas de acolhimento e integração de imigrantes, colocando Portugal como referência de boas práticas a nível mundial. Sob a sua orientação foram criados os centros nacionais de apoio ao Imigrante (CNAl) e houve progressos relevantes no âmbito da proteção e regularização de pessoas em situação irregular. Num gesto inédito, os cinco Altos-comissários anteriores e posteriores ao Padre António Vaz Pinto, publicaram em conjunto como tributo, um texto de reconhecimento do trabalho feito por António Vaz Pinto. Descreveram-no como um trabalho pontuado pelas preocupações humanistas e de justiça. Ali se lê: “Para nós, se depois porventura pudemos ir mais longe, foi porque estávamos aos ombros de um gigante”

Em 2006 foi distinguido pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com a Ordem Oficial Infante D. Henrique pelos serviços prestados a Portugal. 

Desde 2019 estava na comunidade dos jesuítas em Évora, onde era Capelão da Santa Casa da Misericórdia, desempenhando a sua ação pastoral.

Era uma figura ímpar da cidade de Lisboa e de Portugal, tantas foram as obras que idealizou, inovou, impulsionou, batalhou e transformou. Acima de tudo, era uma personalidade extrovertida, vigorosa, corajosa, perseverante e convicta. Era um inspirador e agregador de vontades, um comunicador e contador de histórias, um homem entusiasmado pela vida. Liderava pelo exemplo e pelo serviço, pelo espírito de missão, pelo amor à Igreja. Era um inquieto, animava-o a necessidade de responder aos desafios do tempo com exigência e responsabilidade.

Comunicador de excelência, realizou inúmeras conferências, encontros, cursos, Exercícios Espirituais. Autor de sete livros sobre teologia, filosofia e vida cristã, e dois de memórias, que intitulou “A história de Deus comigo”.

Ao trabalho de grande visibilidade, acrescenta-se a relação pessoal, o conselho, a direção espiritual, a ajuda no discernimento, o gesto necessário e a amizade. Só alguém que se sentia profundamente amado por Deus, era capaz de amar tanto a todos e cada um. Falava de Deus e da Fé com palavras e gestos sólidos, facilmente compreensíveis. Esclarecia dúvidas, dava horizonte a uma discussão, tranquilizava, reconduzia, iluminava. O seu sorriso e o seu humor tornavam tudo ao mesmo tempo fácil e exigente.

No dia 3 de junho, quis celebrar os seus 80 anos, junto dos seus companheiros, dos amigos e da família. Só ele sabia como a sua saúde se fragilizava. Numa entrevista afirmara “sempre tive uma ótima relação com a morte, nunca me assustou. A morte é a porta da ressurreição. Por isso, se me disserem que eu vou morrer amanhã, não me afeta nada, não preciso de mais de um quarto de hora. É só mudar de casa”.

O Padre António Vaz Pinto utilizava muito a palavra Formidável. Esta é a ocasião para afirmar – Que vida formidável o Padre António Vaz Pinto viveu! Como dizia Pedro Arrupe, “o mundo avança mesmo sem nos. De nós depende que avance connosco”. O Padre António Vaz Pinto, através da sua vida, fez o mundo avançar. 

Neste voto de pesar, honramos o homem, o sacerdote, a figura pública, o amigo, o próximo. Reconhecemos a marca de uma vida plena, entusiasmada e enérgica.

A Assembleia Municipal de Lisboa, na sua Sessão realizada no dia 5 de julho de 2022, delibera:

1. Expressar a todos os seus familiares, amigos, colegas, votos de condolências e profundo pesar pelo falecimento do Padre António Vaz Pinto;

2. Guardar um minuto de silêncio em sua memória;

3. Remeter o presente voto ao Governo da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, ao Cardeal-Patriarca de Lisboa; aos Leigos para o Desenvolvimento; ao Banco Alimentar contra a Fome; à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; ao Comissariado para as Migrações e Minorias Étnicas.

Leigos para o Desenvolvimento

Jesus,

Hoje, e sempre, agradecemos-Te pela vida do P. António.

Desde cedo entregou a sua vida ao Teu serviço e sempre ConTigo presente nas suas ações, nos seus gestos, nas suas palavras, tocou o coração de um incalculável número de pessoas.

Um exemplo de entrega profunda em simultâneo com uma boa disposição contagiante.

Capaz de enfrentar os desafios com uma leveza contagiante e com a sua fé inspirar quem por ele passou, procurou, nas suas ações, contribuir para o Bem Maior, e tal como disse, “sempre consciente de que precisava dos outros para, em conjunto e comunitariamente – fossem leigos, leigas, padres – podermos responder às necessidades que via à minha volta. É este sentido de resposta que é a chave de compreensão da vida humana toda, e da minha vida.”

Hoje, Senhor, agradecemos-te pela sua incansável disponibilidade para se colocar ao Teu dispor e, em especial, pela sua iniciativa em fundar os Leigos para o Desenvolvimento, que tantas vidas têm tocado e transformado e os quais, ao fim de 36 anos, continuam a inspirar-se na missão e nos valores que o P. António sonhou e defendeu, como mais uma pegada Tua, Senhor, neste caminho pelo Amor ao próximo.

Presidente da Direção São Cirilo

Uma intuição que fez a diferença

A 13 de Abril de 2007 foi abençoada e lançada a primeira pedra do Centro Comunitário S. Cirilo na presença de amigos e entidades oficiais. Foi seguramente um marco vivido com ânimo num processo de concretização de uma intuição de já alguns anos do P. António Vaz Pinto de criar um lugar no Porto que fizesse a diferença para pessoas migrantes mais vulneráveis. Consigo imaginar a “pompa e circunstância” e ao mesmo tempo a simplicidade quase desalinhada; consigo imaginar o um caracter impreterível e imperiosos desse evento e das suas palavras. Era assim o P. António!! 

Era?! É um tempo verbal que hoje no dia da sua partida para a eternidade 

custa usar. Bem sei que agora para ele o tempo – porque em Deus – é sempre o presente. Foi ele que me ensinou com uma certeza inabalável! 

O P. António era um homem de intuições; poder-se-ia até dizer “levianas” mas os frutos das suas intuições provam que eram inspiradas. Deus agia serenamente nos seus ímpetos de transformar o mundo e ele sabia-o por dentro. O seu “vai ser ótimo!” era desconcertante, mas tão acertado!

Promoveu transformações na vida de tantos que se cruzaram com ele, mas sobretudo na vida de muitos que nunca tiveram o privilégio de o conhecer mas que beneficiam de tanto bem, graças as suas intuições que também inspiram outros a abraçar a missão de fazer a diferença e levar o coração do evangelho ao mundo. 

Aqui estamos hoje, no S. Cirilo mais de 15 anos depois da sua intuição ser marcada com simplicidade e “pompa e circunstância”, não a colher frutos mas a continuar a semear para que outros tenham vida. É assim o P. António! 

Gonçalo Castro Fonseca, SJ

Presidente da Direção São Cirilo

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Num dia que deveria ficar marcado pela alegria, sofremos uma perda que nos entristece a todos. Na hora da despedida do Padre António Vaz Pinto lembramos o muito que, generosamente, sempre nos deu enquanto Capelão desta casa e reitor da Igreja de São Roque. Obrigado.

FOTOGALERIA

P. António Vaz Pinto – imagens de uma vida cheia

Uma recolha de imagens de alguns dos momentos mais marcantes da vida do P. António Vaz Pinto.
 

Em acção de graças

Testemunhos

Isabel Jonet

Em memória do P. António

Quando somos confrontados com a morte de alguém que nos é próximo há certamente um sentimento de tristeza causado pela separação física, mas, em simultâneo, vem-nos à memoria a vida partilhada, feita de momentos, de conversas, de interações, de vivências. 

O Padre António Vaz Pinto foi uma pessoa rara: por onde andou – e andou por muitos lugares – deixou marca e tocou vidas. Mas deixou-se também tocar pelas pessoas e pelas terras, num intercâmbio fecundo que deu muitos e bons frutos.

Conheci bem o Padre António, cofundador do Banco Alimentar, com o seu irmão José, e membro de várias Direções da instituição. Abriu muitas portas, fez muitas pontes, mobilizou muitas pessoas para uma causa pela qual se bateu por acreditar que dar de comer a quem tem fome, lutando contra o desperdício e encaminhando as sobras, mais do que solidariedade é justiça. Tivemos muitas conversas e discussões, pois nunca se negava a um confronto de ideias e de opiniões, sem, todavia, impor as suas, mas antes procurando perceber as motivações dos outros e se lhes encontrasse justiça, não hesitando em dar-lhes razão. Sem, no entanto, ceder nunca nos princípios e com uma fé inabalável, fruto da confiança no amor de Deus de que dava testemunho constante. Bom conversador, tinha sempre uma história para contar, fosse passada consigo ou com algum conhecido. Culto e engraçado, com sentido de família, seja aquela onde nasceu, seja aquela que escolheu por vocação, gostava realmente de pessoas. 

O Padre António deixa obra em vários domínios, das entidades em cuja criação participou, aos livros que escreveu, das peregrinações que organizou, aos Exercícios que orientou, mas, sobretudo, deixa uma marca indelével em tantas pessoas que tocou, em encontros por vezes improváveis que nunca desperdiçou retirando algo para a própria vida. Os movimentos e obras que criou e aos quais esteve ligado tinham o denominador comum de interpelarem jovens, procurando que, de forma enquadrada, ganhassem sentido e vivessem com valores, sem ignorar ou esquecer os mais velhos cujos talentos sabia bem pôr a render. 

O legado que nos deixa é como o jardim que plantou no CUPAV: inclui todas as variedades de árvores citadas na Bíblia, que medraram e hoje dão fruto, numa riqueza com sentido. Teve uma vida boa e soube sempre aceitar o que lhe calhava com um sorriso, dando testemunho e contagiando-nos a confiar no amor de Deus.

A nossa vida fica mais rica quando se cruza com pessoas do gabarito do Padre António Vaz Pinto. É também esse o legado que deixa a tantos e que hoje agradecemos. Pessoas assim são raras.

Isabel Jonet

Rui, Francisca, Madalena e Marta Marques

Morreu o nosso melhor amigo. Mas não é só isso. Partiu o P. António Vaz Pinto, uma das figuras mais relevantes da sociedade portuguesa nas últimas décadas, seja na vida da Igreja que serviu e amou, seja na política de acolhimento de imigrantes, que revolucionou enquanto Alto-Comissário, passando também por tantas outras realidades que criou e animou, dando vida ao seu desejo de tudo cumprir “Para a maior glória de Deus”. Esta era a face pública deste gigante. Mas ainda mais importante, foi o que representou para tantos que acompanhou, ouviu, consolou, iluminou e animou. Para todos esses, entre os quais nos incluímos, é tempo de dar graças a Deus pela sua vida e por tudo o que representou para cada um de nós.
Escolhemos, para falar dele, três palavras que configuram o que nele víamos, como exemplo e como referência.


O P. António tinha, na sua vida, uma verdadeira pedra angular: a sua fé. Numa forma muito bonita, contava a História de Deus com ele, afastando de si qualquer mérito pessoal dessa relação. Para ele, esse encontro de fé era dádiva. Mostrava sempre como, ao longo da sua vida, se foi deixando encontrar por Deus, nas três Pessoas da Santíssima Trindade, que se tornava(m) presente(s), sempre e em tudo. Como, na sua experiência de fragilidade humana, tinha encontrado sempre a resposta do Amor infinito, incondicional e transformador que Deus representava, mesmo (e sobretudo) perante as nossas falhas ou limitações.
Nunca escondeu esse tesouro só para si. Partilhou-o abundantemente com todos à volta, num exercício incansável de evangelização. Ao longo de quarenta anos, vi-o dar Exercícios Espirituais a milhares de pessoas, ser voz na Rádio Renascença de um Deus para os nossos dias, realizar inúmeras Conferências, animar CIF – Cursos Intensivos de Fé, dinamizar de CVX e, sobretudo, atender inúmeras pessoas que encontravam nele uma imensa capacidade de escuta e um mestre em ajudar cada um no seu discernimento.
Quis este Deus generoso que pudéssemos ter estado na sua última expressão deste serviço à Fé, nos últimos Exercícios Espirituais que orientou, como tão bem fazia. Apesar da doença cavalgante, em nada se notou. Com a sua energia característica guiou-nos mais uma vez por esse roteiro inaciano tão especial, acompanhando cada um nesse encontro transformador.

Serviço
O P. António levou muito a sério não só o serviço da fé, mas também a promoção da justiça. Numa e noutra dimensão, a sua capacidade de “em tudo amar e servir” era notável. Acompanhamo-lo em muitas dessas missões, pelo que somos verdadeiramente privilegiados. Sempre vi nele, esse anseio de procurar dar resposta aos grandes desafios do nosso tempo, colocando-se na primeira fila do pensar e do fazer. Foi um inovador exímio, ao criar respostas para esses desafios, através de uma ação concreta, sustentável e transformadora. Da sua ação e inspiração, sempre com outros que nunca dispensava no caminho, nasceram o Centro Universitário Manuel da Nóbrega, (com os seus companheiros P. Alberto Brito e P. Vasco Pinto Magalhães) e o Centro Universitário P. António Vieira. Neles cumpriu uma das suas principais vocações: o trabalho com jovens universitários. Depois, sucedeu-se a fundação dos Leigos para o Desenvolvimento, como expressão do seu compromisso com a construção de um mundo mais justo, promovendo um verdadeiro desenvolvimento humano, que fosse integral e sustentável. Seguiu-se o seu impulso, com o seu irmão José Vaz Pinto e outros amigos, para a criação do Banco Alimentar contra a Fome. Depois veio o desafio do Alto-comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas. Aí, com a sua equipa, revolucionou as políticas de acolhimento e integração de imigrantes, colocando Portugal como uma referência de boas práticas a nível mundial, sendo capaz de inspirar governantes, políticos e líderes da sociedade civil para essa missão. Criou ainda, entre outras atividades, o Centro São Cirilo, no Porto e deu o seu contributo para o que é o centro da Brotéria.
Porquê a importância desta memória grata por tudo o que criou? Essencialmente para se perceber que nele tudo impelia à ação, numa afirmação da responsabilidade de agir. Leva muito a sério a máxima do P. António Vieira: “Só existimos nos dias em que fazemos; nos outros apenas duramos”. Para isso, precisou muitas vezes de coragem, qualidade que não lhe faltava e de uma energia inesgotável. Mas reafirmava sempre em relação a todas essas obras que não precisava de mais de 15 minutos para partir. Orgulhava-se de ver como todas estas obras continuavam pujantes já depois dele, num exemplo excelente de maturidade de quem tinha a sabedoria de se tornar dispensável.

Amor
Se todas as anteriores palavras o retratam, gosto de reter como muito especial, o Amor. Pode soar estranho, mas achamos que vida do P. António foi simplesmente um exercício de amor. Não só a Deus, mas também aos irmãos. Seguramente com as suas fragilidades, claro. Mas, nunca se cansou de buscar a santidade, enquanto “pecador que não deixa de tentar fazer melhor”. Esse Amor para connosco era exigente, raramente doce e sempre a puxar para o Magis. Mas era amor.
Uma das maiores aprendizagens – e dívidas de gratidão – foi a forma como, dessa maneira, nos ajudou a encontrar o Deus que só é Amor e que se expressa numa Misericórdia absoluta. Ao longo de quarenta anos, em todas as estações, em dias de sol e em tempos de grandes tempestades, tivemos sempre a sua presença com um cuidado e uma amizade, que nos mostra esse Deus-Amor. E, tal como nós, milhares de outras pessoas. Esse é o seu grande património: o que muito amou.

O P. António deixa-nos um legado a continuar, pela Fé, pelo Serviço e pelo Amor.

Ficará para sempre o telefone por tocar. Faltará o “posso ir aí jantar?” ou simplesmente “como vai isso?”. Ou ainda a divertida irritação a meio da reunião de CVX. Já não poderemos recorrer a um porto de abrigo que sempre tínhamos. Mas agora, no Céu, há mais alguém que intercederá por nós. Obrigado, P. António.

Francisca Assis Teixeira, Madalena, Marta e Rui Marques

João van Zeller [Observador]

O Padre António Vaz Pinto foi um bálsamo para a vida “civil” de milhares de pessoas, sujeitas a terramotos exteriores e interiores que palpitam, não param, e a quem ele trouxe amparo à sua existência.

Continuar a ler aqui: observador.pt/opiniao/padre-antonio-vaz-pinto-um-genuino-e-eficaz-influencer/

Inês Teotónio Pereira [Observador]

Não nos conhecemos novos: nem eu era nova e já ele estava quase a completar os 70 quando cruzamos caminhos. Por isso, não assisti a nenhum dos feitos que o tornaram na pessoa pública que foi, não participei na construção das obras notáveis que todos conhecem e nem me aventurei em nenhuma das viagens históricas que ele liderava ano após ano com rigor e pontualidade.

Continuar a ler aqui: observador.pt/opiniao/a-igreja-do-padre-antonio/

Laurinda Alves

A sua alegria e espontaneidade são uma marca que todos reconhecemos. Gestos largos, exuberantes, palavra incisiva, olhar atento, comunicador eloquente, homem sábio, cuja erudição e sensibilidade vinham sempre acompanhadas de humor, pequenas histórias e grandes gargalhadas. 

Devo muito ao Padre António Vaz Pinto. Ficámos amigos em 1995, depois de uma entrevista que nos deu no programa “O Senhor Que Se Segue”, na SIC (infelizmente já não encontro na net a entrevista dele) e vivemos esta nossa amizade de 27 anos sempre com grande proximidade.

António Vaz Pinto falava de Deus como de um Amigo (com ‘A’ grande, naturalmente) e a intimidade que tinha com Ele resgatava o nosso olhar, convertia o coração e transformava a nossa ação. Revelava um Deus de infinita bondade e misericórdia, um Deus de amor, mas também com muito sentido de humor.

Devo ao Padre António um novo olhar para Deus, uma fé renovada e fortalecida, uma consciência mais e melhor formada, uma liberdade interior reforçada. Por tudo isto, que é tanto, não terei nunca palavras à altura da minha gratidão. 

Li o que escreveu João van Zeller, no Observador, e também o comunicado da Companhia de Jesus, no Ponto SJ. Deixo aqui os links, pois ambos os textos falam da vida e obra de António Vaz Pinto, o meu querido amigo que me vai fazer tanta falta e com quem ainda tive boas conversas nas vésperas do dia em que fez 80 anos e … se despediu da família e dos amigos, porventura ciente de que esta seria a última homilia da sua vida. E foi.

Filipa Iglésias

Numa altura de dúvida, retirei-me durante oito dias na Casa da Torre em Soutelo para os Exercícios Espirituais com o Padre António Vaz Pinto. 

Oito dias de verão em completo silêncio, apenas interrompido pelos ‘pontos’ – orientações organizadas nas suas preciosas ‘folhinhas’ que distribuía numa entoação cheia de sublinhados e chamadas de atenção para a mensagem principal a reter nesse dia.

Seguindo o seu conselho, estudei e interiorizei aqueles ‘pontos’ e só passados uns dias amadurecidos é que conversámos. Contei-lhe toda a minha vida, o bom e o mau, as razões da dúvida e incerteza que me prendiam num aparente beco sem saída. 

Em silêncio, ouviu-me. 

No final, disse que não tinha resposta alguma para me dar, não sabia o que dizer, precisava de pensar melhor e falaríamos no dia seguinte à mesma hora. 

Assim foi e, numa expetativa de quem precisa urgentemente de ajuda e direção, cheguei ao seu encontro à hora marcada. Disse-me que, depois de pensar no que eu lhe contara no dia anterior, não tinha conseguido encontrar uma resposta para me dar – Pedia apenas a Deus que me iluminasse e propôs-me rezarmos juntos. 

Assim fizemos, nesse dia e nos anos seguintes. 

Fui-lhe escrevendo a contar da minha vida iluminada, de como tudo se tinha enfim composto aos poucos, passo a passo, artesanalmente. 

No outono passado fui a Évora e, num sábado à tarde, entrei na sua missa vespertina. Estavam apenas os residentes habituais mas o Padre António falava com o mesmo empenho e eloquência com que falava para a multidão urbana de São Roque. As suas palavras eram intervaladas com o cante alentejano solitário do senhor sentado na fila da frente: o pão, o trabalho no campo, o esforço… e a palavra de Deus. 

Há dias ouvi, radiante, a lucidez da entrevista a propósito dos seus 80 anos, da sua vida plena e feliz. Enviei-lhe o Fado do Campo Grande, onde cresceu e onde eu cresci também, e encomendei a sua Introdução ao Tractatus logico-philosophicus, de L. Wittgenstein. A sua sede de mundo estava ainda bem viva e tinha como planos para este Verão visitar o Egipto, a Pérsia ou a Rota da Seda. Profundo conhecedor de Dostoievski e Tolstoi, intrigava-me o que pensaria hoje da posição política da Rússia. Queria escrever-lhe a dizer que qualquer dia iria poder ouvir ao vivo, da sua janela em Valbom, Enquanto não há amanhã, Ilumina-me quando, subitamente, surgiu offline. 

Raul Brandão em Húmus, o livro que o Padre António andava a ler, escreve: Nenhum de nós sabe o que existe e o que não existe. (…) Há momentos em que cada um grita: – Eu não vivi! eu não vivi! eu não vivi! – Há momentos em que deparamos com outra figura maior, que nos mete medo. (…) Às vezes acordo com este grito: – A morte! A morte! 

Como nos alertou, e como sempre, terá demorado apenas 15 minutos a habituar-se à sua nova Casa. 

Aqui nos deixa com saudade, numa partida que deixa atrás de si tantas memórias, tantos exemplos e obra feita – de papo cheio. 

José Carneiro de Almeida

QUE ESTEJA EM PAZ

JUNTO DE DEUS,

O PADRE ANTÓNIO VAZ PINTO!

Morreu hoje o Padre Jesuíta ANTÓNIO VAZ PINTO!

Paz à sua alma!

Era muito amigo deste prestigiado Sacerdote. 

Com ele, no Rodízio, fiz uns Exercícios de Santo Inácio de Loyola.

Quando ele foi Reitor da Igreja de São Roque e capelão da

Santa Casa da Misericórdia ele soube, com todo o seu ser, honrá-la.

Fluente no que dizia, alegre e com boa piada, recordo as muitas

Vezes que ele, no interior da igreja de São Roque, olhando para o púlpito dos pregadores, muitas vezes dizia “não perco a esperança de, ainda um dia, ali pregar.”

Foi na sua companhia que eu fui, como Ministro da Comunhão, dar o Senhor aos utentes da Aldeia de Santa Isabel.

Quando fazia alguma homilia, depois do Evangelho, a sua voz enchia o local onde falava.

Muitas vezes ele veio à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Rato, para 

Celebrar a missa das Irmãs Escravas, aos Domingos, às oito horas.

O Padre Vaz Pinto tinha a sua maneira de ser:

Quando via alguma coisa que não era do seu agrado, ele ralhava, com voz alta!

 Todavia, algum tempo depois pedia desculpa pelo modo como tinha chamado a atenção. Sabia ser humilde!

Que Jesus, Deus Pai de infinda Misericórdia e a nossa querida Mãe do Céu, o tenham em verdadeira glória eterna.

O Padre António Vaz Pinto orgulhou, sempre, a sua Companhia de Jesus e a própria

Igreja, como seu membro ativo, servindo-a com o seu SACERDÓCIO!

Paz à sua alma!

1/7/2022

JOSÉ CARNEIRO DE ALMEIDA

Rui e Luísa Nunes da Silva, Manuel e Isabel Sérgio

A História do Padre António connosco

Há um mês partia para o Pai a mãe Idalina. Presença incontornável e estruturante da nossa família, como não poderia deixar de ser. A sua serenidade, a sua fé em Deus e o sua atenção eram os traços de um amor cuidador e incondicional para com tantos, que muito apoiou e ajudou a estruturar, onde naturalmente ocupamos o primeiro posto. Nada ficou por fazer, tudo para agradecer.

Talvez por isso a sua partida, embora dolorosa e sempre antes de tempo, nos tenha sido oferecida em serenidade e gratidão, rodeados de amigos, que tornaram a presença da mãe Idalina muito maior que a sua ausência.

Foi nessa presença trazida através das palavras e gratidão de tantos que vivemos os dias difíceis da despedida, unidos, na certeza de uma ressurreição plena e do encontro com aqueles de quem cuidou e que tanto amou e que há muito aguardavam por ela. Sobrou – sobra sempre – a tristeza dos que ficam, mesmo conscientes da alegria dos que assim partem. Nunca nada nem ninguém substitui uma mãe.

Apenas uma semana depois o nosso cuidado virou-se subitamente para outro gigante dos nossos corações. Poucos dias passados, estávamos a celebrar com júbilo os 80 anos do Padre António Vaz Pinto que, apenas 3 dias depois, havia de ser hospitalizado em estado crítico por complicações pulmonares. Por fim, partiu da nossa presença terrena, atravessando definitivamente – como dizia – a porta da ressurreição.

Será difícil explicar – ou talvez não, porque cremos que aqueles que amou o perceberão sem hesitações –  quem é e quem foi o P. António para nós. Defini-lo como líder, mestre, amigo ou companheiro parece-nos pouco, porque essas palavras não têm capacidade de conter tudo o que ele é em nós. Talvez porque não se tratem de conceitos, mas de Amor, e o Amor não cabe nas palavras.

A sua marca em nós é algo incarnado, que está cá dentro e bem inscrito nos alicerces daquilo que fomos e somos depois que as nossas vidas se cruzaram. A nossa realidade – família, relações, trabalhos, sonhos, memórias,… – simplesmente não existiriam sem ele. Não se trata apenas, portanto, de alguém muito importante e determinante para nós, é muito mais do que isso. É algo que vive em nós, dentro de nós, que nos define e nos condiciona, na acepção construtiva e libertadora da palavra. Mais ainda, é um sentimento coletivo mas, sobretudo, individualizado. Aplica-se a máxima que o próprio usava para Deus, dizendo que este só tem filhos únicos.

Cruzámo-nos com P. António num momento crucial do nosso crescimento. Os afetos, as vocações, as relações e as descobertas, características da entrada numa vida adulta, foram vividas, amadas e ordenadas com a sua presença, acompanhamento e conselho. Naquelas que eram as suas características – a liberdade esclarecida e discernida e a alegria com a vida – mas também os seus fundamentos – o serviço da fé e a promoção da justiça. Os nossos casamentos, famílias, vidas partilhadas, amizade e projetos estão radicados nesse momento histórico e são, por isso, indissociáveis de nós, para sempre.

Assim é evidente que, para nós, falar do Padre António também é definir Deus. O Deus do Amor libertador e fecundo que nos coloca em desafio interno permanente e em ação externa consequente.

Como colocar em palavras o que significa para nós uma pessoa assim? Alguém que nos revela Deus nesta terra desta forma?

Fica-nos ainda a dúvida: será que nos últimos anos não estivemos tão presentes quanto deveríamos. Será que criámos oportunidades para lhe dizer o quão importante ele é para nós? Como diria:  “sim, sim, sim… isso não interessa nada! Deixem-se de lamechices e ponham-se a caminho! Caramba!”

Ponhamo-nos então a caminho. Agradecidos e animados pela sua presença que, sabemos, não é exterior nem memória, é incarnada em cada um de nós e em todos!

Cá vamos então!

Luísa e Rui, Blá e Manecas

Manuel Queiroz Ribeiro [Público]

Conheço o Padre António Vaz Pinto desde que me lembro. Das missas do galo e da Páscoa, em particular dos momentos em que, com algum autoritarismo, mandava calar os miúdos irrequietos que não compreendiam a importância da Santíssima Trindade. Seguidas dos faustos almoços de Natal e Páscoa em que não se coibia de comer um bom cabrito e de beber um bom vinho, enquanto explicava em privado o que tinha acabado de celebrar em público. Na verdade, explicava isso e muitas outras coisas, uma vez que era verdadeiramente um cidadão do mundo, com um saber absolutamente magistral e digno de se colocar num pedestal pela forma como o transmitia. Essa era uma das razões pelas quais lhe chamava com orgulho (e continuarei a chamar) tio.

Continuar a ler aqui: publico.pt/2022/07/02/opiniao/opiniao/es-padre-vaz-pinto-2012251

João Delicado

OBRIGADO, PADRE ANTÓNIO

Faleceu hoje o Padre António Vaz Pinto.

Um ‘monstro’, como lhe chamávamos carinhosamente.

Fica gravada na minha memória uma viagem Braga-Lisboa que fiz ao seu lado: passei o tempo todo a rir com aquele seu discurso hiperbólico, superlativo, sempre a transbordar de energia, ímpeto, empenho, exagero, nem sei bem como lhe chamar.

Foi um homem intenso, sem dúvida: uma figura exemplar do jesuíta empreendedor. Conseguia conjugar ação e contemplação, sempre com um pé no acelerador. Não é por acaso a quantidade de obra feita.

Dos retiros que fiz com ele, guardo um momento de particular graça. 

Contou ele a história de um escultor – talvez Michelangelo – que tinha transformado um bloco de mármore numa das mais belas obras de arte de sempre. Alguém se aproximou, curioso, e perguntou como tinha ele conseguido tal proeza. 

E ele respondeu: “pan-ca-di-nha a pan-ca-di-nha”.

Obrigado, Padre António Vaz Pinto, por tanto bem recebido.

João Delicado

António Bracons

Conheci o P. António Vaz Pinto no verão de 1985, num campo de férias. Pessoa afável e dinâmica, conversadora e bem-disposta, a palavra certa e segura, desafiante e motivadora, pessoa de caminhos e caminhadas, de projetos e obras, empenhada, com grande discernimento, capacidade de trabalho e organização.

Continuar a ler: https://fasciniodafotografia.wordpress.com/2022/07/04/p-antonio-vaz-pinto/

in memoriam de António Vaz Pinto [Público]

Acolher e integrar imigrantes: uma política humanista
Altos-comissários para a Imigração
(…)
Este percurso resulta do esforço de muitos protagonistas, no Estado e na Sociedade civil, que têm dado, ao longo do tempo, o seu melhor para que os imigrantes possam ter um acolhimento que respeite a sua dignidade humana e uma integração plena, baseada na equidade, no respeito pela diversidade na unidade e na igualdade de oportunidades. Porém, sendo fruto de tantos, importa honrar, no dia do seu regresso à sua “outra Casa”, o contributo ímpar do Padre António Vaz Pinto.

Continuar a ler aqui –
https://www.publico.pt/2022/07/04/opiniao/opiniao/acolher-integrar-imigrantes-politica-humanista-2012313

Manuel Braga da Cruz (Observador)

Tive sobretudo o privilégio de ser amigo de António Vaz Pinto. Era visita de casa, frequente e caloroso, com quem discutíamos as questões da Igreja, da Universidade, da Política, da Cultura portuguesa.

Continuar a ler aqui: https://observador.pt/opiniao/contemplativo-na-accao/?fbclid=IwAR0NCTkfUpAKVWLJYCaA2TDYLGnL2ukkDas_LSLARftq4OuAy4M6O13sbzI

João Paulo Barbosa de Melo (Diário As beiras)

A Igreja portuguesa e a Companhia de Jesus perderam, na semana passada, um dos seus mais ilustres. Menos de um mês depois de completar 80 anos de uma vida cheia, ao longo da qual acompanhou e mudou a vida de muita gente, fundou e fez crescer instituições de presença da Igreja no mundo universitário em várias cidade portuguesas, imaginou e concretizou projetos de transformação social como os “Leigos para o Desenvolvimento”, o “Banco Alimentar contra a Fome ou o “Centro S. Cirilo” para apoio a migrantes e refugiados, passando também pela Direção do Centro Social da Musgueira, em Lisboa, pela Direção da Revista Brotéria e por muitas outras instituições de serviço. Foi ainda, no início deste século, Alto-Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas e teve, ao longo de décadas, uma presença assídua nos órgãos de comunicação social, das televisões às rádios e à imprensa escrita.

Continuar a ler aqui: https://www.asbeiras.pt/2022/07/opiniao-os-que-vao-passando-e-os-que-vao-ficando/

Raquel Vaz Pinto (TSF)

Morreu na sexta-feira o Padre António Vaz Pinto. No site dos Jesuítas, o Ponto SJ, o texto que acompanhou a notícia resumia bem a sua vida: “uma vida cheia e intensa.”

Para crentes e não crentes, este Jesuíta foi, entre tantas coisas, uma voz doce e serena na rádio a fazer-nos reflectir ao longo de tantos anos ou o Alto-Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas.

Como lembrar o Padre António? Eu gostaria de destacar duas características: sentido de humor e inteligência. 

Continuar a ler ou ouvir aqui https://www.tsf.pt/opiniao/padre-antonio-vaz-pinto-inteligencia-e-sentido-de-humor-14990846.html

António Barreiros

Faleceu o jesuíta-padre Vaz Pinto. Recordo-o, a este tempo. O seu passamento deixa mágoa e dor. Recuo ao final dos anos 70 e, depois, a meados dos de 80. Naquela fase, em Coimbra; e, nesta mais próxima, em Lisboa, na Rádio Renascença, onde foi assistente religioso da estação católica.

O Pe. Vaz Pinto, jesuíta, passou por Coimbra, onde no Centro Universitário Manuel da Nóbrega, foi um contagiante pastor que, e junto da massa académica, no seio da alta de Coimbra, no coração da Cidade Universitária, no seu Pólo I, o principal, exerceu a missão de assistente religioso dessa anciã Escola Superior.

Conheci-o e por algumas vezes escutei-o. Ele tinha uma oratória deslumbrante. Dotado de farta inteligência, Vaz Pinto teve a capacidade de captar a vontade e de despertar a motivação dos estudantes para o ouvirem falar de Jesus, o Salvador. Este membro da Companhia de Jesus sabia estabelecer o diálogo entre a fé e a cultura. E sabia-o fazer de uma forma lúcida, sem impôr, mas com o sentido de deixar a mensagem mais sublime do cristianismo: amar era a sua proposta mais nobre para se lançar a paz pessoal e social, com vista à promoção da dignidade humana. O Pe. Vaz PInto conseguiu deixar uma forte imagem da Igreja de Cristo, junto da comunidade universitária de Coimbra, não só pelo que acabei de escrever mas, também, pela disponibilidade como se apresentou, perante docentes, discentes e funcionários, para estar atento aos seus problemas e às suas questões de vida e de fé.

Reconheço em Vaz Pinto um homem dotado do diálogo e da palavra que concitou o interesse de muitos e muitos dos “figurantes” da Universidade de Coimbra, assim como promoveu, através de encontros da mais variada ordem, a circulação da troca de ideias e de opiniões para melhor se compreender a doutrina da Igreja e a Vida de Cristo. Essa ilustre personagem da Igreja assumiu a missão de ser, numa Universidade progressista e, em certas bolsas de uma ou de outra Faculdade, com tiques de ultra-esquerda, um verdadeiro evangelizador e catequista.

A sua morte, que hoje se registou, aos 80 anos, num Hospital de Lisboa, onde se encontrava internado, desde 6 do mês findo, toca-me e obriga-me a recordá-lo.

À sua família e à dos jesuítas apresento as minhas condolências e remeto um abraço solidário pela perda de um Pastor que marcou o País, Coimbra e outras paragens de Portugal.

Que o Pe. Vaz Pinto encontre a mansidão da luz de Deus e a Paz da casa do Pai.

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Sempre tive uma ótima relação com a morte, nunca me assustou. A morte é a porta da ressurreição. Por isso, se me disserem que eu vou morrer amanhã, não me afeta nada, não preciso de mais de um quarto de hora. É só mudar de casa.

– P. António Vaz Pinto, sj